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O debate perde para a entrevista

Exigências dos partidos deixam pouco espaço para colocar debatedores em situações embaraçosas

Por Domitila Becker
12 ago 2010, 20h37

Candidato pergunta para candidato em ordem previamente definida por sorteio. A pergunta não pode ultrapassar 30 segundos. A resposta precisa ter, no máximo, dois minutos. Os candidatos têm direito à réplica de um minuto. Tréplica: mais um minuto. Cada candidato só pode ser alvo de no máximo duas perguntas.

A descrição do segundo bloco do primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República, na TV Bandeirantes, resume o engessamento dessa fórmula no Brasil. Embora a legislação eleitoral exija apenas que os debates incluam todos os candidatos filiados a partidos com representação na Câmara dos Deputados, as restrições impostas pelos coordenadores das campanhas criaram uma espécie de extensão do horário eleitoral na televisão.

No debate da Band, por exemplo, Dilma Rousseff perguntou a José Serra o que achava dos avanços da indústria naval. Em vez de desfazer a interrogação, o candidato tucano discorreu sobre a diminuição do número de cirurgias realizadas nos últimos oito anos. Dilma aproveitou a réplica para discursar sobre investimentos nas Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). A tréplica foi usada por Serra para ressaltar a pequena quantidade de operações de varizes. Em duas horas, quase nada se falou sobre corrupção, mensalão, política externa, dossiês, pedágios e outros temas aparentemente embaraçosos para os debatedores.

Nos 12 minutos de entrevistas ao vivo transmitidas pelo Jornal Nacional, os candidatos não escaparam dos assuntos polêmicos. Dilma foi obrigada a responder sobre as alianças do PT com ex-inimigos como Fernando Collor, Jader Barbalho, Renan Calheiros ou a família Sarney. Serra teve de tentar justificar a inexperiência política do candidato a vice, Índio da Costa. Marina foi convidada a explicar o silêncio em que se refugiou na época do escândalo do mensalão.

Consultados por VEJA.com nesta semana, a maioria dos leitores acredita que, mantidas as receitas atuais, um programa de entrevistas permite conhecer melhor os candidatos do que um debate na TV. “O formato dos debates é um convite a generalizações, são abordados assuntos variados em um tempo muito rígido”, afirma Gaudêncio Torquato, consultor político e professor de comunicação política da USP. “Na entrevista há uma possibilidade maior de questionamento”.

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As exigências impostas pelos partidos nas negociações que precedem o debate vão da definição do movimento das câmeras ao tempo de intervalo, passando pelo confisco do direito à réplica dos jornalistas. Os entendimentos para a fixação das regras duram até oito meses. “Os partidos não concordaram nem com o uso da tela dividida, que normalmente é empregada para mostrar a reação de dois candidatos ao mesmo tempo”, lastima Fernando Mitre, diretor nacional de jornalismo da Band, que já produziu mais de 30 debates. Para Mitre, no entanto, essa é a única situação de confronto entre os candidatos, o que permite que os eleitores comparem – ainda que com critérios pouco profundos – a postura de cada um.

Na opinião de Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), os debates ficariam menos engessados caso permitissem a participação dos eleitores, liberados para perguntas espontâneas, e impedissem a troca de sussurros entre políticos e assessores nos intervalos das transmissões. Quase sempre, uma equipe de especialistas acompanha a reação de um grupo de eleitores que assiste ao debate e repassa as informações aos assessores no estúdio, que as transferem ao candidato.

Os especialistas ressalvam que parte da culpa pelo nivelamento por baixo deve ser debitada na conta dos próprios políticos. “As propostas dos candidatos são baseadas em pesquisas”, observa Barreto. “Isso faz com que fiquem limitados e muito parecidos”.

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