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‘O Centrão não existe’, diz líder do DEM na Câmara

'Se existiu alguma vez na vida, foi quando o Eduardo Cunha atuava', afirma a VEJA o deputado Elmar Nascimento (BA)

Por André Siqueira Atualizado em 31 Maio 2019, 20h57 - Publicado em 31 Maio 2019, 20h43
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  • O deputado federal Elmar Nascimento (BA) está em seu segundo mandato na Câmara, mas tem ganhado notoriedade desde o início do governo Bolsonaro. Líder do DEM na Casa, o parlamentar chamou a atenção especialmente na semana passada, quando afirmou no púlpito do plenário que a bancada do PSL, partido do presidente, adotava um “procedimento canalha” na votação da medida provisória 870, que trata da reforma administrativa.

    Reportagem de VEJA desta semana traça o perfil do parlamentar, apontado como um dos principais articuladores do Centrão, bloco informal de partidos que inclui DEM, PP, PL, PRB, PTB, PSD e Solidariedade e vem sendo acusado por bolsonaristas de conspirar contra o país. Em entrevista a VEJA, Nascimento afirma que “hoje o Centrão não existe” e desafia o presidente “ou qualquer ministro” a dizer se membros do DEM e dos demais partidos fizeram exigências em troca de votos no Congresso.

    O que o senhor quis dizer quando afirmou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, “implodiu o Centrão”? Hoje não existe Centrão. Quando fomos chamados para conversar com o presidente Bolsonaro, fomos chamados de Democratas. O PP [Partido Progressista] foi chamado de PP, o PR, de PR. O MDB, pelo seu nome. Não foi chamado um conglomerado de partidos que funcionam sob a liderança de alguém, pensando sempre da mesma forma.

    Então, esse bloco partidário não existe? Se existiu alguma vez na vida, foi quando o Eduardo Cunha [ex-deputado federal, preso por corrupção e lavagem de dinheiro] atuava e tinha, em seu entorno, alguns partidos. O Rodrigo Maia foi convidado pelo ex-presidente Temer para ser líder do governo e foi vetado exatamente por esse grupo. Depois, concorreu à presidência da Câmara e derrotou o [ex-deputado] Jovair Arantes (PTB-GO), do mesmo grupo, e o Rogério Rosso (PSD-DF). Então, naquela época, éramos nós contra o Centrão? Quando é que migramos para o Centrão?

    Qual a avaliação do senhor sobre as mensagens de que estes partidos conspiram contra o governo? A menção aos partidos que são supostamente comandados pelo Rodrigo [Maia] é sempre pejorativa, associando as legendas ao fisiologismo e à exigência de cargos em troca de votação. Mas eu desafio o presidente ou qualquer ministro a dizer que houve qualquer conversa na qual, nós, do Democratas, ou até mesmo os outros partidos, exigimos algo nesses termos. O próprio presidente relatou que nunca, nenhum partido que compõem esse espectro, o procurou para condicionar apoio a troca de algum tipo de vantagem.

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    Que balanço o senhor faz sobre o governo Bolsonaro até o momento? Ainda é um governo incipiente. Quando as pessoas têm experiência em governar, já assumem sabendo o que vão fazer. Há bons quadros, muitos estão imbuídos dos melhores propósitos, mas há os que pecam por falta de experiência.

    Quem não tem experiência? Há divergência de nosso partido com algumas pastas, como o Ministério das Relações Exteriores e o da Educação. Mas, que fique claro, eles não estão mentindo. Quem votou no Bolsonaro sabia que seria isso o que eles fariam.

    O caráter ideológico atrapalha o governo? Atrapalha, mas espero que ao longo do governo eles possam aperfeiçoar, porque governar é diferente de fazer campanha. Por exemplo, na área da educação e a guerra estabelecida no âmbito dos cortes das universidades: eu concordo quando o ministro Abraham Weintraub diz que há recursos que vão pelo ralo, mas ele precisa ser técnico e apresentar soluções. Não pode partir para o embate ideológico.

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    Deputados do PSL fizeram campanha impulsionados pelas redes sociais, mas hoje têm mandato. O senhor acredita que a realização de transmissões ao vivo não condiz com a atividade parlamentar? Eles se elegeram na esteira da popularidade do presidente. Uma parte é ligada à segurança pública, outros ligados à facilidade na comunicação. A única coisa que vão perceber, e quanto antes melhor, é que a renovação de mandato não se sustenta nisso. Os próprios internautas e seguidores que compartilham suas mensagens ficarão mais exigentes. Eles precisam levar benefícios à sociedade, e não simplesmente transmitir sessões em redes sociais, porque isso não agrega muito.

    No plenário da Câmara, o senhor afirmou que a bancada do PSL adotava um “procedimento canalha” na discussão da medida provisória 870, da reforma administrativa. O presidente nacional do DEM, ACM Neto, pediu ao senhor para amenizar o tom das críticas? De jeito nenhum. Comentamos sobre isso depois, o ACM brincou comigo e disse que também já foi deputado, já usou a tribuna para fazer discursos acalorados, mas que nunca viu um deputado ser tão aplaudido de pé como naquele discurso.

    Deputados têm questionado a sua atuação e afirmado que o senhor articula reveses ao presidente… Tenho o apoio da bancada. Se você olhar os meus encaminhamentos, todos se assemelham aos pareceres do líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO). Tivemos 62 votações, e encaminhei de forma igual em 61 oportunidades. Para ser 100% igual, só se eu fosse líder do governo.

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    O DEM integra a base do governo? Vivemos um novo momento da política. O presidente nos convidou para conversar e para ajudar o Brasil. Em nenhum momento ele sentiu necessidade de convidar a nós e os outros partidos para integrar a base do governo. Ele faz isso porque tem a ideia de que fará a proposição das coisas e nós não teremos a obrigação de acompanhar tudo. É bom que seja assim, porque temos muitas convergências, mas também discordamos de algumas pautas. Quando se tem uma base formal, há um toma lá dá cá. O DEM ocupa três quadros no governo [Casa Civil, Agricultura e Saúde], mas não condicionamos nada, isso aconteceu de forma natural.

    O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, poderá ter que julgar a constitucionalidade de alguns pontos das reformas. O senhor acredita que ele agiu bem ao participar da discussão do pacto entre os três Poderes? Passado o processo eleitoral, é obrigação das figuras públicas unir forças, no sentido de promover medidas que possam promover o desenvolvimento do país. Isso só vai acontecer com o investimento em tecnologia, em educação, saúde, segurança pública. Esse é o grande pacto que tem que existir em todo país democrático, sem precisar da assinatura de nada. É claro que se questiona a presença do ministro ali, mas, no momento conturbado que vivemos, é uma forma de mostrar que os Poderes estão todos unidos nesses princípios. O presidente do Supremo, com as melhores intenções, participa disso para dizer que o Judiciário não ficará alheio ao momento que o país vive. Os parlamentares também são questionados, e a melhor forma de firmar nosso compromisso com a sociedade é votar a reforma da Previdência, o pacote anticrime, mas também cortando onde se possa cortar, preservando o investimento em educação.

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