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‘O Brasil, neste momento, não acredita em quase nada’, diz FHC

Ex-presidente posta vídeo no Facebook criticando discussões sofre reforma político-eleitoral e afirma que ‘nossos partidos hoje vão muito mal das pernas’

Por Da Redação
Atualizado em 22 mar 2017, 17h03 - Publicado em 22 mar 2017, 14h27

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nesta quarta-feira, em vídeo publicado em sua página no Facebook, que os partidos e os políticos “vão muito mal das pernas” e que “o Brasil, neste momento, não acredita em nada”.

O tucano postou o vídeo, de 2 minutos e 21 segundos, para criticar as discussões em andamento no Congresso Nacional sobre reforma política, principalmente em relação ao sistema eleitoral.

Nesta terça-feira, reportagem de VEJA mostrou que a adoção do modelo de lista fechada – no qual os eleitores votam em partidos, não em candidatos – é o favorito do relator da proposta de reforma eleitoral, Vicente Cândido (PT-SP), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Por este modelo, que valeria já nas eleições de 2018 e 2022, os partidos conquistariam um determinado número de vagas na Câmara de acordo com suas votações e indicariam quais políticos ocupariam esses lugares – na opinião de Maia, a lista seria pré-ordenada, ou seja, antes da eleição, os partidos já mostrariam a ordem de prioridade dos candidatos.

“E o povo vai votar em partidos? Quais? O povo nem sabe o nome dos partidos”, disse FHC, que afirmou que o melhor a fazer agora é votar propostas que já estão em andamento na Câmara e no Senado.

Ele citou duas. Uma delas é a proibição das coligações para eleições de deputados e vereadores. “Quando dois partidos se coligam, você não sabe em quem está votando. Você vota em um e elege outro”, afirmou o ex-presidente.

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A outra proposta citada por ele é o veto a legendas que não conseguirem um mínimo de votos nos estados. “Um partido que não recebeu x votos em tal número de estados não vai ter representação na Câmara. Porque não é partido, tentou ser partido”, disse.

“E o povo vai votar em partidos? Quais? O povo nem sabe o nome dos partidos”

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente

 

De acordo com ele, a classe política não está com prestígio suficiente para aprovar reforma política neste momento. “Os nossos partidos hoje, vou falar com franqueza, vão muito mal das pernas. Os políticos todos estamos mal das pernas”, afirmou. “Então, não acho que seja o momento de fazer propostas.”

“Os nossos partidos hoje, vou falar com franqueza, vão muito mal das pernas. Os políticos todos estamos mal das pernas”

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente

 

 

Ele também afirmou que qualquer proposta neste momento pode parecer uma articulação para favorecer políticos investigados. “Não dá para aprovar nada que tenha cheiro de impunidade. Uma lei para evitar que a Lava Jato vá adiante. Não pode. As leis estão aí. Errou, vai ter que pagar”, disse.

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Segundo ele, a punição tem de ser feita dependendo do crime cometido pelo político e que é a Justiça quem tem de definir isso, com base nas leis vigentes. “Deixe que a Justiça separe o que é caixa 2, o que é crime de corrupção. Não somos nós, os políticos ou os líderes nacionais ou as pessoas que têm de opinar. Quem tem de opinar nessa matéria é a Justiça”, afirmou.

De acordo com ele, o país precisa “dar força às instituições”.  “O Brasil, neste momento, não acredita em quase nada. Vamos pelo menos fazer com que as instituições valham.”

 

Conheça os diferentes sistemas de votação

Voto proporcional, com lista aberta

É o sistema em vigor no Brasil.

Como funciona: o eleitor escolhe um determinado candidato e vota especificamente nele. Os votos são somados e garantem um determinado número de cadeiras para o partido ou a coligação, que são distribuídas entre os mais votados no conjunto.

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Contra: é considerado caro, porque promove uma disputa de “todos contra todos”, permite a existência de “puxadores de voto”, que ajudam a eleger políticos com menos apoio popular que outros que ficam de fora, favorece o “culto à personalidade”, a ideia de que se vota em uma pessoa e não em determinado conjunto de ideias que ela colocaria em prática se eleita.

A favor: o sistema considera que candidatos do mesmo partido ou coligação têm interesses semelhantes e garante a cada conjunto de ideias o espaço que elas ocupam na sociedade. Com a lista aberta, as ideias são representadas pelos seus expoentes mais populares.


Voto proporcional, com lista fechada

É o sistema em vigor em países europeus, como Portugal e Espanha.

Como funciona: o eleitor escolhe um partido político apenas. Os votos são somados e garantem um determinado número de cadeiras para o partido ou coligação, distribuídas entre políticos previamente definidos pela legenda em uma lista. O que está sendo defendido por políticos como Rodrigo Maia (DEM-RJ) é o modelo mais tradicional, no qual a ordem é pré-definida antes e são escolhidos os candidatos aos quais o partido político deu preferência.

Contra: dá todo o poder de decisão aos partidos, que passariam a escolher pelo eleitor os que devem ser eleitos, podendo beneficiar candidatos com acusações na Justiça, que teriam mais dificuldade de obter o voto popular. O sistema também cria um entrave à renovação na política, uma vez que as cúpulas dos partidos tenderiam a ser formadas por aqueles que já estão no poder – e que, por consequência, privilegiariam na lista os atuais políticos.

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A favor: é mais barato, uma vez que os candidatos não disputam mais contra outros do seu partido. Força a evolução dos partidos, que reduziriam em quantidade e ficariam coesos, com mais identidade ideológica, uma vez que são obrigados a criar um discurso e um conjunto de propostas para buscar o voto do eleitor. A lista fechada também permite que sejam feitas leis complementares que garantam cotas – um determinado número de mulheres – de modo mais eficiente que o atual, que depende dos resultados eleitorais dessas candidaturas.


Voto distrital puro

É o sistema em vigor nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Como funciona: se são 513 vagas na Câmara dos Deputados, serão 513 distritos eleitorais, que correspondem a uma determinada região. A eleição para o Legislativo passa a ser semelhante à do Executivo: cada partido oferece um nome para a disputa e o eleitor escolhe entre as opções disponíveis. No final, o parlamentar acaba sendo o representante de uma região (como um conjunto de bairros de São Paulo, por exemplo) no Legislativo federal.

Contra: o sistema asfixiaria as minorias, como defensores das pessoas com deficiência, por exemplo. Considerando que dificilmente estas pessoas serão a maioria em uma determinada região, um ativista que se proponha a defender exclusivamente a causa teria a tendência a não ser eleito em nenhum distrito do país. O mesmo para outras causas específicas, como ambientalistas e religiosos. Não resolve o problema do “culto à personalidade”, uma vez que um líder local, como um comerciante ou um empresário, não se precisaria se comprometer com causas nacionais ou partidos para se eleger – e, no parlamento federal, teria de se posicionar sobre esses temas.

A favor: é o sistema mais barato de todos, restringe as campanhas parlamentares ao universo regional, uma vez que o candidato disputa exclusivamente os votos daqueles que vivem em seu distrito, diminuindo o universo de eleitores a serem conquistados. O voto distrital puro também é visto como uma aproximação entre os eleitores e o Congresso Nacional, já que cada parlamentar que ali está veio de uma determinada região do país. Não seria possível, portanto, que em um determinado raio de distância não haja nenhum parlamentar próximo a você ou a seu bairro, por exemplo.

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Voto distrital misto

É o sistema em vigor na Alemanha

Como funciona: é uma mistura dos dois sistemas anteriores. O eleitor vai às urnas duas vezes. Em uma, escolhe um partido. Na outra, escolhe um candidato. As cadeiras são divididas. Metade é distribuída entre os nomes presentes nas listas dos partidos, enquanto a outra metade vai para os distritos, que, por serem em menor número, comportam mais eleitores.

Contra: sofre críticas dos defensores do voto distrital puro e do proporcional de lista fechada. Para os primeiros, ter só a metade das cadeiras ocupadas pelo voto distrital anula o efeito de aproximação com o eleitor, uma vez que os distritos – principalmente em um país continental como o Brasil – ficam com um número muito grande de pessoas, permanecendo distantes dos candidatos. Para os favoráveis à lista fechada, enfraquece o compromisso ideológico e a coesão dos candidatos com as legendas.

A favor: mesmo com os distritos maiores, o sistema ainda garante que o Parlamento esteja mais próximo da população, trazendo demandas regionais para o debate federal, sem comprometer as ideologias e as causas não-majoritárias, uma vez que o voto pulverizado em uma causa, representada por partido, pode garantir a eleição de um parlamentar. O voto espalhado em todo um estado em uma legenda que defenda o ambientalismo, por exemplo, permitiria a eleição de um deputado. Outro benefício da lista que permanece é a possibilidade de políticas que reduzam desigualdades.

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