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Nome forte da campanha de Lula, Randolfe é tratado com desdém por petistas

Integrantes do partido não o perdoam por sua aproximação com a Lava-Jato

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 Maio 2022, 08h00

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) é um daqueles raros parlamentares que têm o DNA do oposicionista. Em seu segundo mandato consecutivo, ele já mostrou essa vocação diversas vezes. Em 2005, ainda como deputado estadual, não hesitou em abandonar o PT diante das provas avassaladoras de corrupção que envolveram o governo Lula. No nanico PSOL, para onde se transferiu, chegou a ser escolhido, em 2010, como candidato da legenda a presidente da República para enfrentar Dilma Rousseff, mas acabou afastado da disputa. No ano passado, agora filiado à Rede Sustentabilidade, o parlamentar azucrinou o governo no posto de vice-presidente da CPI da Pandemia. A performance rendeu visibilidade, prestígio e intenções de voto suficientes para alçá-lo à condição de um dos favoritos à disputa pelo governo do Amapá. O projeto pessoal, no entanto, foi adiado em nome de um objetivo que o senador considerou mais nobre: derrotar Jair Bolsonaro e eleger Lula, a quem não poupa rasgados elogios. Essa admiração, apesar das aparências, não é 100% recíproca.

No início do ano, Randolfe foi convidado pelo próprio Lula para assumir uma das cadeiras da coordenação de sua campanha à Presidência. Pragmático, o ex-presidente sabe que sua eleição depende muito da construção de um amplo arco de alianças políticas. Atrair a Rede para a órbita do PT significaria, em tese, atrair também a ex-ministra Marina Silva, rompida com os petistas desde as eleições de 2014 e um símbolo importante para essa tentativa de união contra Bolsonaro. Em nome de uma estratégia que pode resultar em alguns milhões de votos, valia o sacrifício de ter na linha de frente da campanha alguém que não merece confiança e já teria dado contundentes demonstrações de infidelidade, especialmente em relação ao ex-presidente. Embora não seja verdade, é exatamente assim que Randolfe Rodrigues é visto por alguns figurões do PT. O parlamentar sabe disso, diz que não se importa e contra-ataca: a maledicência, segundo ele, parte de petistas envolvidos em escândalos de corrupção (leia a entrevista abaixo).

O PT, é verdade, é capaz de perdoar corruptos, mas não perdoa traições. Na visão de seus detratores, Randolfe cometeu esse pecado pela segunda vez, mais recentemente, durante a Lava-Jato. O senador era um entusiasta da operação, que levou o ex-presidente à prisão e o PT, comparado ao tamanho do passado, à bancarrota. Ele mantinha contatos frequentes com os responsáveis pela investigação e funcionava como interlocutor dos procuradores junto ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal. Diante da revelação de que os investigadores praticaram certas ilegalidades durante o processo, o que resultou na anulação das condenações de Lula, o senador recuou e hoje diz que a operação foi “um dos maiores erros que o Brasil já cometeu”. Há poucas semanas, os petistas alertaram o ex-presidente sobre a existência de mensagens entre Randolfe e os integrantes da força-tarefa que poderiam acabar gerando desgastes à campanha. Pode ser outra maledicência.

Para o PT, desqualificar a Lava-­Jato como um todo é questão de honra — e uma linha importante da campanha. Afinal de contas, a resposta sobre a corrupção instaurada nos governos petistas será a de perseguição política de um grupo contra outro. Randolfe é apenas um alvo menor dessa empreitada. Na última semana, aliás, um fato novo deu um pouco mais de fôlego a esse trabalho, quando um juiz do Distrito Federal deu seguimento a uma ação popular que pede que Sergio Moro reponha aos cofres públicos supostas perdas que teria provocado à economia do país por sua atuação na operação. A peça, que transformou o ex-juiz em réu, foi produzida por deputados e advogados petistas. De fato, ficou demonstrado que Moro cometeu muitos erros durante as investigações, mas isso não transforma notórios bandidos em vítimas e nem apaga da história o que aconteceu no verão passado.

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RANDOLFE RODRIGUES: “Não acho que o Lula seja corrupto”

Como responde a críticas de petistas de que seria um lavajatista infiltrado na campanha de Lula? Quem tem a percepção de que sou um infiltrado na campanha podia ter passado esses quatro anos fazendo um pouco de luta política contra o bolsonarismo. Muitos dos petistas que me acusam hoje estavam envolvidos nos escândalos de corrupção do partido. Outros passaram esses últimos anos tirando férias, longe do enfrentamento com Bolsonaro. Não sou um lulista de ocasião.

O senhor rompeu com o PT no mensalão por causa da corrupção e agora é um dos coordenadores da campanha de Lula. Não é uma incoerência? Quando fui da ala mais à esquerda dentro do PT, havia uma crítica às concessões que o governo Lula fazia naquele momento. Mas mesmo quando rompi e me afastei do Lula via nele a maior liderança política que o Brasil já teve. Não estou dizendo que não houve corrupção nos governos do PT. Teve corrupção no governo do PT e do PSDB, mas o governo mais corrupto é este aqui.

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Críticos dizem que o senhor mudou de lado quando apareceu em conversas privadas com procuradores da Lava-Jato. Quando surgiu a Lava-­Jato, me impressionei e vi nela uma ação substancial de combate à corrupção no Brasil. Hoje, em perspectiva histórica, vejo que a Lava-Jato foi um dos maiores erros que o Brasil já cometeu. As mensagens relativas a mim são de atuação parlamentar, o que acho que é necessário. Queria que o Ministério Público hoje fosse tão atuante quanto na época da Lava-Jato.

Qual era a exatamente o nível da sua relação com os procuradores? Pouco antes da prisão do Lula, jantei com o Deltan Dallagnol (coordenador da força-tarefa) em Brasília e, confesso, fiquei um pouco desconfiado de que algo não estava certo. Veio a prisão. A partir dali, sem entrar no mérito da culpa, percebi que havia uma busca desenfreada para encontrar um bode expiatório, um troféu a fim de atingir resultados políticos.

O ex-presidente Lula é inocente? Às vezes tratamos o combate à corrupção como uma qualidade distintiva do político, quando acho que tem de ser uma qualidade intrínseca. Não acho que o Lula seja corrupto. Pela falta de sinais exteriores de riqueza do Lula posso dizer que ele não é. Acho que os filhos de Bolsonaro, sim, é que são corruptos, pelos sinais exteriores de riqueza. Eu não tenho uma mansão de 6 milhões de reais no Lago Sul, como o Flávio Bolsonaro. Como um menino que chegou um dia desses tem uma mansão? Tem alguma coisa errada aí.

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Publicado em VEJA de 1 de junho de 2022, edição nº 2791

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