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No Rio, corrida eleitoral começa na esteira

Na terra em que até o rei Momo precisou emagrecer, candidatos a prefeito recorrem a academia e exercício aeróbico para aparecerem bem no vídeo e no corpo-a-corpo

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 jul 2012, 07h50

“Aconteceu de eu comer três feijoadas em um dia. Chegava à casa de alguém e tinha feijoada. Como faz? Primeiro, eu gosto. Segundo, não dá para dizer que não vou comer”, diz Rodrigo Maia, do DEM

No Rio de Janeiro, até o Rei Momo, aquele rechonchudo monarca que exerce seu mandato simbólico durante o carnaval, foi obrigado a perder peso. Na era do politicamente correto, o império é da magreza, e nos últimos anos foi abolido pela prefeitura o critério de ‘quanto mais pesado, melhor’, na hora de escolher o mandatário do samba. Na disputa para valer, pelo Palácio da Cidade, a corrida que começou oficialmente na sexta-feira é por votos. Mas indiretamente os candidatos vêm competindo também na esteira, na bicicleta e na prova da gula. O motivo é simples: ninguém quer parecer fora de forma na TV – particularmente em uma era de aparelhos com alta definição ou com o efeito ‘achatado’ dos monitores de LCD. Os resultados desse esforço o público confere a partir deste sábado, quando o corpo-a-corpo dos candidatos ganha as ruas de fato.

Eduardo Paes, ocupante do Palácio no momento, tenta a reeleição com uma certeza: ser prefeito engorda. Quando foi eleito, em 2008, o alcaide tinha rosto de menino e envergava ternos bem cortados, com seus 78 quilos. Um ano depois, em 2009, o trabalho pesou e a barriga apareceu: saltou para 93, e as camisas azuis, preferidas para os eventos públicos, já não conseguiam esconder a curvatura acentuada no abdome. Bem antes da campanha, Paes deu atenção ao espelho e à balança. O horário que encontrou para se exercitar já é uma prova de dedicação: antes das 6h ele é visto em pedaladas diárias ao redor da Gávea Pequena, residência oficial do prefeito, e de lá passeia até a Vista Chinesa. Resultado: Paes enfrenta a campanha 15 quilos mais magro, e está de volta aos seus 78.

Se para os magros a missão é difícil, o DEM tem um desafio: o candidato que encabeça a chapa no Rio é Rodrigo Maia, glutão conhecido nos restaurantes de Brasília e do Rio. O herdeiro do ex-prefeito Cesar Maia sabe o que uma campanha é capaz de fazer com os furinhos do cinto. “Aconteceu de eu comer três feijoadas em um dia. Chegava à casa de alguém e tinha feijoada. Como faz? Primeiro, eu gosto. Segundo, não dá para dizer que não vou comer. Outra vez, descobriram que eu gostava de pudim de pão. Todo lugar tinha pudim de pão para mim. No fim da campanha, enjoei”, lembra Rodrigo.

Na luta para fazer as pazes com a fita métrica, ele contratou uma professora de ginástica há pouco tempo. Antes de 2010, tinha perdido seis quilos. Depois, chegou a um limite de sete, e não conseguiu mais se livrar do sobrepeso que restou. A partir daí, a personal trainer foi acionada. Em dois anos – e correndo na esteira de três a quatro vezes por semana-, Rodrigo emagreceu 12 quilos. Hoje, está feliz com seus 85.

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O candidato sabe que para perder peso não existe outro jeito a não ser dedicação nos exercícios e dieta. “Eu comia e não fazia ginástica. O saldo disso era óbvio”, conta Rodrigo, que deixou para trás o rosto redondo que enchia a tela da TV. Na campanha, tentará manter a silhueta que, com muito custo, vem conquistando. “Vou acordar cedo e ir para a esteira de 6h às 7h”, promete, ciente de que descumprir compromissos de campanha não pega bem. Em Brasília e no Rio, o deputado usa a academia dos prédios em que vive para praticar exercícios.

Maia tem um estímulo – ou pelo menos uma referência importante – quando o assunto é a aparência. O DEM convocou para compor a chapa a deputada estadual Clarissa Garotinho, do PR. Com a vantagem de ser ainda ‘uma garotinha’, com 30 anos recém-completados, Clarissa, candidata a vice, é uma aposta da coligação por ter boa penetração no público jovem – e, claro, é também a dose de leveza da candidatura DEM-PR, articulada pelos caciques Cesar Maia e Anthony Garotinho. Mas até ela tenta manter a forma e o fôlego com sessões de academia diárias de uma hora. Com a chegada da campanha, a assiduidade já caiu. Agora, o esforço é para trabalhar a parte aeróbica e a musculação, três vezes por semana. Desde janeiro, a deputada conta com o auxílio de um personal trainer para a malhação.

“Tenho personal porque nunca consegui manter uma regularidade na academia, embora considerasse importante. Falei para ele que precisava de um professor com horário flexível. Aí, no dia que vou, combino o horário do dia seguinte”, explica Clarissa, a mais jovem da disputa majoritária este ano no Rio. Com um metro e sessenta de altura, 56 quilos e manequim 36, a deputada quer perder os dois quilos que ganhou nos últimos meses.

“A rotina da campanha é muito pesada e a gente acaba parando a vida para se dedicar a ela. O cansaço físico acontece e é natural. Uma das coisas que acabaria cortando do dia a dia seria a atividade física. Mas o personal funciona como motivação”, diz Clarissa, que ganhou alguns quilos – e já perdeu – na eleição para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em 2010.

Hora de suar – Há na disputa pela prefeitura no Rio, no momento, duas correntes dominantes: uma, a tentativa de repartir o bolo dos votos para forçar um segundo turno com o favorito, Eduardo Paes; a outra, a esteira. Caminhar e correr sem sair do lugar é o que tem feito o deputado federal Otávio Leite, que tenta a vaga no executivo municipal pelo PSDB. O tucano alterna entre a máquina e o calçadão da Barra da Tijuca. São penitências necessárias: “Eu tenho uma queda por doce danada”, diz Otávio, que come chocolate de três a quatro vezes por semana – uma delas durante a entrevista, quando lhe foi oferecido um alfajor. “Três quilos a menos seria o meu sonho”. No mundo ideal de Otávio, 73 quilos, em vez dos 76, fariam o candidato bem feliz, enquanto não chegam os números das pesquisas de preferência do eleitor.

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A questão, para o tucano, não é só de aparência. A pressão alta tem batido à porta, e chegou a 14 por 10. Aos 50 anos – ou a “cinquentilha”, como prefere – Otávio considera a caminhada ideal para exercitar o corpo e aliviar a mente. Recorre, assim, a um exercício mais leve, apropriado para quem ficou “fora de combate” durante o começo do ano, quando se envolveu em um acidente de trânsito e teve fissuras na coluna. Agora, de volta à rotina, passeia sobre a esteira às 6h, em uma média de cinco dias por semana. “Caminhar joga a adrenalina um pouco para fora. É muita pressão”, diz.

Também foram problemas físicos que forçaram o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, estreante em uma disputa majoritária, a fazer uma pausa na malhação. Em 2008, Freixo operou o joelho, ficou sem poder correr e engordou 10 quilos depois da cirurgia. “Mas já perdi”, afirma. Depois, Freixo enfrentou outra dificuldade: segundo conta o deputado, no período em que presidiu a CPI das Milícias, no Rio, ameaças de bandidos dirigidas a ele o levaram a evitar correr na praia, uma das várias restrições de aparição ao ar livre que adotou no período. Atualmente, o deputado costuma praticar corrida quatro vezes por semana durante as manhãs. “O preparo físico conta para a campanha, mas acho que a alimentação é o mais importante. Tento ter disciplina, beber muita água, evitar fritura. Geralmente saio com fruta e barra de cereal no bolso”, conta Freixo. “Vou tentar manter a minha alimentação durante a campanha. Isso afeta inclusive o nosso humor”, prevê, pensando em o quanto terá de sorrir até 7 de outubro, data do primeiro turno.

O cansaço da campanha eleitoral nunca amedrontou a candidata pelo PV, quase septuagenária. A deputada estadual Aspásia Camargo, 69 anos, enfrenta sua quarta campanha e pega firme da academia. “Eu malho muito”, afirma. Quase todos os dias, cinco vezes por semana, Aspásia pratica alguma atividade física. A estratégia da candidata verde nas eleições municipais é também subir e descer as escadas da Alerj, “dar boas voltas na Lagoa”, andar a pé, levar saladas para as reuniões e se esbaldar no transport – o aparelho preferido para quem quer queimar calorias com rapidez e trabalhar glúteos e coxas. Ainda assim, gostaria de perder mais um pouco da cintura. “O sexo feminino tem esse vício”, diz. “As mulheres querendo emagrecer e ficar secas como um bacalhau. Os homens achando que, se tivéssemos uma carninha, seria melhor”, analisa Aspásia, que acaba de sair de outra maratona: ele foi a representante da União Nacional dos Legisladores na Rio+20, a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, encerrada no dia 22 de junho.

O passado é imperioso e mostra que, para cargos majoritários o bom é evitar o excesso de “carninha”. Fernando Collor de Mello lançou mão de sua estampa e jovialidade para conquistar parte das eleitoras. Luiz Inácio Lula da Silva deixou o discurso sindicalista de lado, podou a barba e os cabelos e adotou o visual ‘Lulinha paz e amor’, que consistia também de ternos bem cortados, para vencer as eleições de 2002. Dilma Rousseff passou por uma transformação nas mãos de Celso Kamura. A presidente tirou os óculos de grau, ganhou um novo penteado de cabelo, renovou o guarda-roupa e aprendeu a se maquiar.

Em matéria de imagem em campanha, o exemplo seminal vem dos Estados Unidos. Nas eleições presidenciais de 1960, o primeiro debate entre dois candidatos transmitido pela televisão colocou frente a frente – e de cara para as câmeras – o democrata John F. Kennedy e o republicano Richard Nixon. Na sala dos eleitores, apareceu, então, um Kennedy jovial, bronzeado e sorridente. Um contraste arrasador para um Nixon suado, mal barbeado e abatido. A noite daquele 26 de setembro tornou-se o melhor exemplo de como a imagem e uma boa estratégia de marketing podem determinar o destino de uma candidatura.

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“Nossa sociedade, valoriza pessoas bem sucedidas, de atitude, de cuidado consigo mesmo. Há uma série de reflexões atrás de uma imagem. No final da disputa, ninguém lembra efetivamente dos grandes temas, mas de como o candidato estava vestido, das gafes cometidas. É uma sociedade que supervaloriza a questão estética. Ninguém dirá de maneira clara que vota porque alguém é feio ou bonito. Mas isso faz parte das escolhas inconscientes”, explica Marcelo Boschi, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RJ).

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