O eleitor fluminense que, em outubro, votar num candidato do PSDB para deputado federal vai também ajudar a eleger candidatos do MDB, DEM, PP, PTB e, provavelmente, Solidariedade e PR. As recíprocas serão verdadeiras — o voto num petebista ajudará a levar um tucano ou um emedebista para a Câmara dos Deputados.
O milagre da concentração dos votos se dará por conta da coligação que vem sendo acertada pelos dirigentes das siglas no Rio de Janeiro — na prática, todos esses partidos disputarão a eleição para a Câmara como se fossem um só; assim, os votos dados a qualquer um deles entrarão no cálculo do quociente eleitoral, que define quantos candidatos cada partido ou coligação elege nas eleições proporcionais (para deputados e vereadores). O candidato ao governo do grupo é o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
As coligações — que só serão permitidas até a eleição deste ano — representam um dos principais trunfos das negociações entre partidos. Em 2014, dos 513 deputados federais eleitos, apenas 35 chegaram ao Congresso apenas com seus próprios votos, os demais se beneficiaram da soma de votos em seus partidos ou coligações. O mecanismo, porém, colabora para que um eleitor ajude a eleger um candidato que tenha propostas contraditórias em relação ao que ele escolheu.
Partidos de esquerda reproduzem, no Rio, a mesma dificuldade de união verificada no plano nacional. O PSOL chegou a propor ao PSB uma coligação voltada para a disputa do governo do estado, Senado e Câmara dos Deputados — o acordo aumentaria as chances de reeleição do deputado federal Alessandro Molon, que deixou o PT, passou pela Rede e se uniu aos socialistas. Em troca, o PSOL aumentaria o tempo de TV do vereador Tarcísio Motta, seu candidato ao governo. A proposta não vingou: o PSB não aceitou dividir o tempo de TV destinado às campanhas de seus candidatos à Câmara.
Já o PCdoB quer se aliar ao PT, mas as conversas estão empacadas e ligadas a eventual aliança na disputa pela Presidência da República. O grupo liderado pelo MDB tenta levar o PDT para sua coligação, mas o acordo ainda depende de negociações. Pela proposta, os pedetistas não lançariam candidato ao governo e indicariam a deputada estadual Martha Rocha para concorrer a uma das vagas no Senado.