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Onde Marina foi doméstica, empregadas se dividem entre ela e Lula

Ex-senadora não é unanimidade entre aquelas que ganham a vida hoje no Bosque, bairro de Rio Branco onde a pré-candidata exerceu o ofício na década de 70

Por Fabio Pontes
Atualizado em 7 Maio 2018, 17h38 - Publicado em 4 Maio 2018, 07h00

A história da seringueira que virou senadora e hoje almeja a Presidência da República pode ser inspiradora, mas não é garantia de voto. No Bosque — bairro de classe média de Rio Branco (AC), onde Marina Silva trabalhou como empregada doméstica na década de 70 —, as mulheres que hoje atuam no mesmo ofício e compartilham trajetórias de vida semelhantes à da pré-candidata ao Planalto pela Rede se dividem na hora de definir o favorito nas urnas.

Nascida num seringal no interior de Rondônia, a empregada doméstica Tânia Tatiana da Costa vê com admiração a história de Marina e a escolheu nas duas últimas eleições presidenciais. No entanto, diz não saber se fará o mesmo em outubro deste ano: “Queria um político que olhasse mais para nós, empregadas domésticas”.

Na zona eleitoral onde Tânia trabalha, Marina ficou em primeiro lugar nas eleições de 2014, com 56% dos votos válidos, dois pontos porcentuais a menos do registrado em toda Rio Branco. No Brasil, a candidata ficou com terceiro lugar no primeiro turno, com 21% dos votos, atrás de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB).

Ex-beneficiária do Bolsa Família, a cuidadora de idosos e doméstica Erle Martins, 33 anos, votou em Dilma Roussef (PT) nas duas últimas eleições. Viu na candidata escolhida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a continuidade do que ela classifica como “conquistas” para a sua categoria e para a comunidade mais carente de Rio Branco.

Prestes a concluir o ensino médio, sonho antigo que foi adiado pela jornada puxada de trabalho, ela diz ser admiradora da ex-senadora acriana, que foi alfabetizada só depois que saiu do seringal Bagaço e foi para Rio Branco, aos 16 anos. Erle é de Xapuri, município a 190 quilômetros da capital, onde também nasceu o líder seringueiro Chico Mendes, ao lado de quem Marina iniciou sua militância ambiental.

Apesar da história semelhante, afirma que só votará em Marina se Lula não puder concorrer. “Eu me inspirei muito na vida dela. É uma batalhadora, que lutou muito para chegar onde está”, revela. Mas diz: “O Lula abriu muitas portas para nós”.

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A cuidadora de idosos e doméstica Erle Martins é admiradora de Marina Silva, mas só votará na ex-senadora acriana se Lula não puder concorrer (Odair Leal/VEJA.com)

Sua colega, a doméstica Ana Marina Nascimento, 43 anos, votou em Lula para presidente em 2006. Atribui ao petista avanços sociais para a sua categoria e para a população pobre. “Ele deu oportunidade para o filho da doméstica, do carpinteiro. Hoje, um filho da doméstica é médico, faz qualquer faculdade”, afirma ela, que nasceu na zona rural de Brasileia, na fronteira com a Bolívia, e começou a trabalhar como doméstica aos 13 anos. “Eu nem sabia o que era salário.”

Ela diz ter ficado decepcionada com os escândalos de corrupção envolvendo o petista e outras lideranças nacionais. Mesmo com a descrença na classe política, diz que não deixará de votar em outubro, mas ainda não definiu o candidato.

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Em 2014, votou em Marina para presidente. Entre os motivos que a levaram a escolher a ex-senadora estão o fato de ser mulher e acriana. Pesa também o fato de Ana ser evangélica, da mesma denominação de Marina, a Assembleia de Deus. “Ela prega muito bem e tem uma história muito linda”, conta ela, que diz já ter assistido a pregações de Marina na sua igreja.

A doméstica Ana Maria Nascimento é evangélica, assim como Marina Silva: “Ela prega muito bem e tem uma história muito linda” (Odair Leal/VEJA.com)

‘Ela não nos representa’

Já a doméstica Maria Raimunda Barbosa Monteiro, de 48 anos, é bem clara ao dizer sobre como votará em outubro: nulo. “Nenhum presta, só roubam. Ninguém faz nada pelo país”, declara.

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Ela afirma que nas últimas eleições escolheu Dilma e Lula. Não votou em Marina por achar que ela prometia muitas coisas que não iria cumprir. “A fala dela não me agradava”, diz ela, que nasceu em um seringal próximo a Rio Branco e desde jovem trabalha como doméstica. Nos fins de semana faz um extra como garçonete em um bar.

A doméstica Maria Raimunda Barbosa Monteiro vai votar nulo: “Nenhum (candidato) presta, só roubam. Ninguém faz nada pelo país” (Odair Leal/VEJA.com)

Opinião compartilhada pela diarista Jane Aparecida da Silva, de 50 anos, que nunca votou em Marina para a Presidência, somente quando concorria ao Senado. Ela nasceu no Paraná e chegou ao Acre com a família nos anos 1970 para ser beneficiada por projetos de assentamento do governo, numa época em que a economia extrativista entrava em decadência, com famílias de várias partes do país ganhando terras na Amazônia. Jane Aparecida diz admirar Marina pelo que viveu e venceu, mas tem certa decepção.

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Há dez anos, ela fundou o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Acre. A organização sindical contou com o apoio de um dos fundadores históricos do PT no Acre, Abrahim Farhat, o Lhé, companheiro de militância da jovem estudante de história Marina Silva nos anos 80.

Jane afirma que chegou a procurar Marina para pedir ajuda na fundação do sindicato das trabalhadoras domésticas, mas nunca obteve respostas. “Achava que, por ela ter sido uma das nossas, iria nos ajudar, mas isso não aconteceu”, diz. Por causa disso, ela é enfática: “Acho que ela não nos representa”.

A fundadora do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Acre Jane Aparecida da Silva sobre Marina Silva: “Acho que ela não nos representa” (Odair Leal/VEJA.com)
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