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No Amazonas, ex-ministro defenestrado tenta voltar à cena

Enrolado em esquema de desvios no Ministério dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR) usa obras relacionadas às duas passagens pelo governo federal e busca apoio no bairro que leva o seu nome em Manaus

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 set 2014, 03h29

Para ampliar o tempo de televisão na propaganda eleitoral, a presidente Dilma Rousseff encerrou as trocas ministeriais neste ano com um afago ao Partido da República: demitiu César Borges, considerado pela legenda uma escolha pessoal dela, e nomeou Paulo Sérgio Passos no Ministério dos Transportes. Internamente, o PR avaliava que Borges não atendia às demandas do partido à frente da pasta e decidiu barganhar um nome de confiança em troca do apoio à reeleição da petista. A mudança foi negociada pelo presidente nacional do PR, o senador Alfredo Nascimento (AM), que, ironicamente, foi varrido da mesma pasta em 2011 em meio a suspeitas de desvios de verbas.

Três anos depois do episódio, Nascimento volta às urnas sem prestígio político: desistiu de tentar uma cadeira no Senado e optou por buscar uma cadeira na Câmara dos Deputados – o Amazonas tem direito a oito vagas. Sem padrinhos para patrocinar seu novo projeto eleitoral, o ex-ministro aposta em obras relacionadas às duas passagens pelo governo federal e resgata o passado como ex-prefeito de Manaus em busca de votos no bairro que leva seu nome.

Rede de Escândalos: Corrupção nos Transportes

Como revelou VEJA, na gestão de Alfredo Nascimento o Ministério dos Transportes virou um balcão de negócios do PR. O partido cobrava propina de empreiteiras interessadas em contratos com o governo. O esquema tinha como coração o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec – estatal das ferrovias. A maior parte do dinheiro abastecia o caixa do partido, presidido por Alfredo Nascimento. Depois da queda de Nascimento e de quase trinta subordinados dele, a Controladoria-Geral da União (CGU) constatou um desvio de 760 milhões de reais na pasta. Atualmente, o ex-ministro responde a três inquéritos no Superior Tribunal Federal (STF) pelos crimes de responsabilidade, falsidade ideológica e denunciação caluniosa.

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Ao mesmo tempo em que mantém influência com Dilma, o ex-ministro não está em posição confortável nestas eleições. O PT optou por lançar o deputado Francisco Praciano ao Senado para enfrentar Omar Aziz (PSD), ex-governador. No cenário local, o ex-ministro apoia ao governo do Amazonas o candidato José Melo (Pros), adversário de Eduardo Braga (PMDB), líder nas pesquisas.

Uma das principais bandeiras de Nascimento é a construção de 41 portos no interior do Amazonas, cujos recursos foram autorizados por ele ainda à frente do Ministério dos Transportes. Embora muitas das obras tenham ficado prontas somente neste ano, como é o caso da ponte sobre o Rio Madeira, que liga Rondônia ao Amazonas, o candidato busca faturar com as construções. As irregularidades não demoraram a aparecer: assim como o de Parintins, que foi parar debaixo d’água em 2009 – também erguido sob a responsabilidade de Nascimento nos Transportes -, o porto flutuante de Ipixuna afundou no fim do ano passado. “Nos municípios, onde há um porto há um agradecimento. O Alfredo Nascimento tem muito mais crédito em função das obras do ministério do que descrédito em função dos escândalos”, diz um ex-prefeito.

Bairro – Em Manaus, Nascimento direcionou os programas de televisão e destacou um time de representantes do partido para espalhar adesivos e cartazes. Um lugar foi estrategicamente escolhido: o bairro Alfredo Nascimento, na Zona Norte de Manaus, que tem uma imagem do parlamentar fixada a cada esquina. Na semana que antecede as eleições, o ex-ministro e seus aliados devem participar de evento eleitoral na região, conforme prevê a equipe da campanha.

O bairro Alfredo Nascimento foi criado em 1998 por um grupo de famílias desabrigadas. Contra as tentativas de desalojamento, os invasores encontraram uma solução para chamar a atenção das autoridades e pressioná-las a aceitar a invasão: deram ao local o nome do então prefeito.

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A homenagem pouco influenciou nas condições do bairro. Dezesseis anos após a criação, a “Comunidade do Alfredo”, como os moradores se referem à região, ainda comemora a chegada do saneamento básico – até o ano passado, parte dos moradores precisava usar água de um poço. Também há acúmulo de lixo nas ruas por causa da demora na coleta e problemas de segurança – a área é classificada pela polícia local como “zona vermelha”, rubrica destinada a territórios com índices de violência alarmantes. “Sinceramente, não sei por que o bairro tem o nome de um político. Para merecer a nomeação ele tinha que ter feito um trabalho com a comunidade”, afirmou Edzega Lucas de Souza, o Baiano, presidente da Associação de Moradores do Alfredo Nascimento. “Toda eleição é a mesma coisa: os candidatos vêm para cá atrás de voto. E nunca mais voltam”, completou.

Nestas eleições, as casas e os comércios do bairro ganharam o colorido das propagandas de Alfredo Nascimento. Na lanchonete de Ubaldino de Melo, o banner substitui a toalha de mesa. “Foram os homens dele que colocaram. Eu não cobrei nada. Serviu para tapar o buraco da toalha velha”, diz o vendedor. A dona de casa Tatiane Chaves cedeu uma das pilastras de sua casa para a fixação do material de campanha. Embora tenham autorizado a propaganda, os dois compartilham o desconhecimento sobre as benfeitorias do ex-ministro.

Pelo bairro, no entanto, há quem conheça bem a história do candidato. “Eu voto no Alfredo Nascimento. Ele construiu estrada e liberou muita verba para a gente”, afirma Manuel Lima, que trabalha com a pintura de motos. E a corrupção? “Isso aí sempre existe. Tiraram ele e colocaram outro do mesmo partido. Roubou mas pelo menos faz.”

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