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Na reta final, candidatos abrem chororô generalizado por fundos eleitorais

Políticos reclamam de privilégios indevidos e de distribuição de recursos com base em critérios nem sempre transparentes ou confessáveis

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 set 2022, 08h00

Dinheiro nunca é demais para as campanhas políticas. Neste ano, elas terão à disposição 4,9 bilhões de reais do Fundo Eleitoral, reservas do fundo partidário, cujo orçamento em 2022 é de 1 bilhão de reais, além de doações de pessoas físicas. Essa montanha de recursos não está dando conta das demandas dos candidatos, que andam em pé de guerra até com colegas de partido. O caso do União Brasil, dono da maior fatia do fundo eleitoral, com 758 milhões de reais, é emblemático. Na disputa por uma vaga de deputado federal, o ex-ministro Mendonça Filho estava decidido a levar a legenda à Justiça para conseguir a liberação de cerca de meio milhão de reais em doações que ele recebeu, mas foram retidas pela direção partidária. Depois de dez dias de briga interna e da ameaça de processo, Mendonça conseguiu receber o dinheiro, que era considerado fundamental para manter suas chances eleitorais. Entre os adversários dele em Pernambuco, está o próprio presidente do União, Luciano Bivar, que já conta com 2,1 milhões para a campanha — 800 000 a mais do que o ex-ministro. O duelo por verba faz parte de um confronto direto entre eles por uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Idealizado em resposta à proibição às doações empresariais, a principal fonte de custeio das campanhas até 2014, o fundo eleitoral se tornou fonte de briga entre correligionários, que reclamam de privilégios indevidos e de distribuição de recursos com base em critérios nem sempre transparentes ou confessáveis. Candidata à Presidência pelo União Brasil, a senadora Soraya Thronicke (MS) declarou um gasto de 3,2 milhões de reais apenas para montar um comitê de campanha em Pernambuco, o estado de Bivar, que a escalou para a corrida ao Planalto. Depois disso, ela ameaçou parar a campanha por falta de recurso. Já uma suplente de vereadora em Mato Grosso do Sul, que agora disputa a Câmara, recebeu quase o mesmo do partido, 3 milhões de reais, mais, por exemplo, do que o ex-ministro Henrique Mandetta, que concorre a uma vaga no Senado pelo estado. À boca miúda, diz-se na sigla que as duas transações pecam, na hipótese mais benevolente, pelo menos pela falta de lógica. As queixas são pluripartidárias e cobrem todo o espectro ideológico.

Expoente do bolsonarismo na CPI da Pandemia, o senador Luis Carlos Heinze diz ter recebido a promessa do ministro Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, de que teria 6 milhões de reais para sua campanha ao governo do Rio Grande do Sul. Não foi o que aconteceu. Com a decisão do presidente Jair Bolsonaro de endossar a candidatura de outro aliado ao governo gaúcho, o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), o Progressistas entregou só metade do valor acordado ao senador. “Acho que o valor repassado deveria ser maior”, diz Heinze, resignado. No PT, o embate envolveu a cúpula partidária. Dono da segunda maior fatia do fundo eleitoral, de cerca de 500 milhões de reais, o partido destinou 130 milhões para a campanha de Lula, o teto fixado para a eleição presidencial. O restante será usado para custear as demais candidaturas. Na hora do rateio, o clima esquentou entre a tesoureira da legenda, Gleide Andrade, e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, que se engalfinharam para definir quem deveria ter a palavra final no financiamento a candidatos pretos e pardos. Houve ainda acusações de que ambas estariam privilegiando a si próprias e a aliados em detrimento de outros concorrentes.

arte campanha

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As acusações fazem sentido. Estreante em disputas eleitorais, Gleide reservou 1,8 milhão de reais para a sua campanha a deputada, e Gleisi Hoffmann, 2,2 milhões de reais. Já estrelas petistas, como o ex-governador Fernando Pimentel e o secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira, receberam 1,5 milhão cada um. No PL de Jair Bolsonaro, a reclamação de penúria é generalizada. Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello recebeu 500 000 reais para a campanha e diz que o valor não é suficiente nem para o básico. Mas há também aqueles bem aquinhoados, como Adilson Barroso (SP). Ele foi agraciado com surpreendentes 3 milhões de reais. “Eu recebi provavelmente por ter conversado direitinho antes de entrar no partido.”

Ao definir a quantia que cada candidato recebe do fundo eleitoral, as legendas costumam usar a mesma regra: ganha mais dinheiro quem tem mais potencial eleitoral. Há exceções, claro. Mas é essa regra que explica por que puxadores de voto — sejam políticos profissionais ou não — se dão melhor na hora da divisão da bolada. Candidato ao Senado, o ex-juiz Sergio Moro ouviu do União a promessa de contar com 4,4 milhões de reais na campanha, mas até agora recebeu pouco mais da metade disso. Ele não se queixa porque a sua mulher, a advogada Rosangela Moro, candidata a deputada federal por São Paulo, levou 2,3 milhões de reais dos fundos partidários. O valor supera o do próprio Bivar e está na mesma faixa que o ator pornô Kid Bengala (SP), agraciado com 2,2 milhões de reais. Como diz o clássico do samba, na hora de se virar cada um cuida de si, e irmão desconhece irmão. Vale para o PT de Lula, o PL de Bolsonaro e para todos os outros partidos.

Publicado em VEJA de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808

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