Alvo de apurações da Operação “O Recebedor”, deflagrada nesta sexta-feira, a ferrovia Norte-Sul é um dos maiores exemplos de como a corrupção trava o desenvolvimento do país. Idealizada no governo do ex-presidente José Sarney, há mais de 29 anos, a estrada de ferro, cujo projeto original previa ligar o Maranhão ao Rio Grande do Sul, está longe de ser concluída e coleciona processos sobre superfaturamento no Tribunal de Contas da União (TCU). O empreendimento, que foi chamado pela presidente Dilma Rousseff de “coluna vertebral do Brasil”, foi marcado por falhas na execução das obras, falta de projetos técnicos e desvio de recursos públicos.
As obras, que foram iniciadas no governo Sarney, foram retomadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2007, com o mote de que era preciso investir no sistema ferroviário para diminuir os altos custos de logística no país. O projeto entrou no Programa de Aceleração do Crescimento como a maior obra do setor. Depois de 25 anos, um trecho de 855 quilômetros da ferrovia, que conecta Palmas (TO) a Anápolis (GO), foi inaugurado em maio de 2014. A primeira viagem de trem, no entanto, só ocorreu em dezembro do ano passado. O governo federal já desembolsou mais de 25,8 bilhões de reais com a obra.
No ano passado, em acordo de delação premiada, o ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini confessou à força-tarefa da Operação Lava Jato que pagou propina a agentes públicos para conseguir contratos da ferrovia, repetindo o mesmo padrão empregado na Petrobras. As revelações feitas por integrantes da Camargo Corrêa ensejaram a operação deflagrada hoje, que aponta um rombo de mais de 630 milhões aos cofres públicos só no trecho construído em Goiás. (Da redação)