Mensagem indica que Cunha fez lobby para empreiteira no Congresso
Conversa interceptada no celular do empreiteiro Otávio Marques de Azevedo sugere que o peemedebista mudou um projeto de lei 'em segredo' para beneficiar a Odebrecht
A Polícia Federal encontrou nos celulares do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, diálogos que sugerem que o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) atuou em favor de empreiteiras no Congresso. Em uma mensagem enviada em abril de 2014, Cunha confirma a Azevedo que atendeu a uma demanda da construtora Odebrecht para modificar um trecho de um projeto de lei “em segredo”, segundo a edição desta terça-feira do jornal O Estado de S. Paulo. O relatório da PF não deixa claro qual é o projeto discutido na conversa.
“Eduardo, estas modificações propostas pelo CNO [referência à construtora Norberto Odebrecht] estão aceitas pelo governo e a Câmara?”, questiona Azevedo. Após listar os artigos em que pede modificações, o executivo continua: “Soube por eles: O ponto 1 está alinhado entre o relator e a Fazenda, mas gostaria de assegurar que é isso mesmo”, diz ele, em outra mensagem. Cunha, então, confirma as alterações. “Esse ponto 1 eu acertei, mas tem de ser em segredo. O segundo não”, afirma o deputado afastado.
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O conteúdo das mensagens reforça as suspeitas da Procuradoria-Geral da República de que o peemedebista agia para beneficiar empreiteiras no Congresso, o que já é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal. A suspeita é que o peemedebista fazia lobby e cobrava recursos das empresas para alterar projetos de leis e medidas em tramitação no Parlamento.
Em nota ao jornal, a Andrade Gutierrez afirmou colaborar com as investigações e que tem feito “propostas concretas para dar mais transparência e eficiência nas relações entre setores público e privado”. Cunha, por sua vez, não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Henrique Alves – A PF encontrou outra mensagem, de julho de 2014, em que Cunha pediu mais uma doação em nome do ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves. O deputado afastado já é investigado no STF por ter pedido doações para Alves a Léo Pinheiro, da OAS.
Na conversa, Cunha passa a Otávio Marques de Azevedo o número da conta bancária de Alves, que era candidato ao governo do Rio Grande do Norte em 2014. Oficialmente, a empreiteira doou 100.000 reais à campanha de Alves, que não foi eleito. “Fez Henrique”, pergunta Cunha a Azevedo no final da conversa. Sem responder ao peemedebista, o empreiteiro encaminha os dados da conta bancária de Alves para outro executivo da Andrade Gutierrez.
Com o avanço da Lava Jato, Alves deixou o governo Temer no dia 16 de junho. Ele não foi encontrado para falar sobre o assunto.
(Da redação)