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Mendoza, amigos….e propina: conheça a ‘Confraria do Vinho’ do petrolão

Segundo investigações da Operação Sangue Negro, ex-dirigentes da estatal viajavam com representantes da SBM no Brasil para apreciar um bom vinho e reforçar as parcerias em contratos da estatal

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 dez 2015, 15h10

As investigações da Operação Sangue Negro, da Polícia Federal, que apura fraudes na Petrobras envolvendo contratos com a holandesa SBM, mostram que o relacionamento entre lobistas e dirigentes da estatal ia muito além de encontros formais para tratar de negócios – ou melhor, de acertos de propina e vazamento de informações sigilosas sobre projetos da estatal. Pelo menos em duas oportunidades, os ex-diretores da Petrobras Jorge Luiz Zelada (da área internacional) e Renato de Souza Duque (de Serviços) e os ex-representantes da empresa holandesa no Brasil Julio Faerman e Luis Eduardo Barbosa da Silva se reuniram para apreciar um bom vinho em viagens a Mendonza, na Argentina, e a Bourdeaux, na França. Segundo as investigações, os quatro formavam o que eles próprios batizaram de “Confraria do Vinho”.

Os detalhes constam da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, que tem como alvo principal contratos firmados entre a estatal e a SBM Offshore para afretamento de navios-plataforma entre 1997 a 2012. As informações foram levantadas em e-mails trocados entre os quatro personagens, que também são alvo da Operação Lava Jato, com o registro de entrada e saída da Petrobras e o “histórico de viajantes” da Polícia Federal. Os quatro citados foram denunciados nesta quinta-feira à Justiça ao lado de outras nove pessoas por corrupção ativa, lavagem de dinheiro, associação criminosa e evasão de divisas.

No dia 11 de abril de 2011, Zelada recebeu um e-mail do lobista Luis Eduardo com o seguinte título: “Mendoza, amigos e vinhos”. Era um convite para uma viagem de seis dias, “com visitas a produtores e adegas de vinhos argentinos”, segundo o texto. Faerman e Duque também estavam incluídos no passeio, cada um com os seus respectivos cônjuges e filhos.

Na investigação, Zelada é apontado como uma espécie de “espião” da SBM na Petrobras. Em depoimento ao Ministério Público Federal, Faerman diz que tinha acesso a documentos confidenciais da Petrobras por meio de Zelada. Luis Eduardo pagava uma comissão de 10.000 dólares mensais a Zelada em troca de um pen-drive com informações sigilosas, conforme relatou Faerman. Faerman e Luis Eduardo eram sócios e os dois eram tão próximos, a ponto de serem chamados de “Batman e Robin”.

Além da degustação de vinhos, tudo indica que a viagem à Argentina também serviu para reforçar a parceria entre Zelada e os lobistas em favores na obtenção de contratos para a SBM. A Procuradoria destaca as datas em que o ex-dirigente acessou o sistema da estatal, com a sua senha, para pegar dados confidenciais que nem eram da sua alçada, mas da diretoria de Exploração e Produção. “Quatro dias antes de receber (…) a programação dessa viagem, Zelada, utilizando sua chave SG9W, gerou o arquivo pdf E&P-PRESAL 000021/2011 (…) três dias após retornar da Argentina, Zelada gerou a impressão desse mesmo documento”. O auto secreto, ao qual o texto se refere, foi parar na caixa de e-mail de um diretor estrangeiro da SBM no mesmo mês, tendo sido enviado por Faerman, segundo informações colhidas pelo Ministério Público da Holanda obtidas pela procuradoria fluminense por meio de cooperação internacional.

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Preso na Operação Lava Jato, Zelada foi indicado ao cargo de titular da diretoria de Internacional pelo PMDB. Em conversa gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da estatal, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) é flagrado dizendo que o vice-presidente da República Michel Temer estaria “muito preocupado com Zelada”. Temer negou ter uma “relação próxima” com o ex-dirigente.

A segunda viagem da Confraria foi a Bordeaux, em outubro de 2011. Nesta ocasião, Luis Eduardo enviou um e-mail a Faerman, Duque e Zelada, com o título “Vinho com amigos parte #2”. O lobista inicia o texto com a expressão “Prezados Membros da Confraria”. Depois, convida-os a ir a uma “bela viagem”, “regada a vinhos de primeira”. Pelos e-mails, é possível saber que eles planejavam ficar no Hotel Cordeillan-Bages, em Pauillac, e no Chateau Hotel Spa Grand Barraial, em Saint Emilion. Nem é preciso dizer que se tratava de hotéis bastante luxuosos. (Confira as imagens abaixo).

A denúncia apresentada pela procuradoria não deixa claro se as viagens foram patrocinadas pela SBM, apesar de o representante da multinacional Luis Eduardo ser o autor dos convites. “Pelo que vimos, cada um pagou a sua parte. Mesmo assim, a proximidade entre eles era exageradoa, não era normal”, disse o procurador Renato Silva de Oliveira. Os investigadores, no entanto, constataram que a empresa holandesa ofereceu benefícios a funcionários da Petrobras em outras duas oportunidades. Uma em 2009, quando eles foram convidados para o Grande Prêmio de Fórmula 1 de Cingapura, e outra, em 2011, para participar de um torneio de futebol na Dinamarca, com hospedagem e passagem pagas pela empresa.

O MPF concluiu que os lobistas pagaram em “valores indevidos” aos funcionários da Petrobras um total de 46 milhões de dólares, num período de quinze anos.

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