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Márcio França: ‘Na eleição nacional, já é segundo turno’

Ex-governador reafirma que será candidato em SP, diz que embate Lula-Bolsonaro matou a terceira via e espera papel relevante de Alckmin em um futuro governo

Por José Benedito da Silva Atualizado em 20 jun 2022, 18h43 - Publicado em 20 jun 2022, 16h28

Peça-chave na definição do quadro eleitoral em São Paulo, o ex-governador Márcio França (PSB) diz que irá para a disputa mesmo com os apelos do PT para que renuncie em favor de Fernando Haddad. Por ter mais trânsito no eleitorado do centro à direita no maior colégio eleitoral do país, ele avalia que tem mais chances de voltar ao Palácio dos Bandeirantes e, de quebra, ajudar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na tentativa de encerrar a disputa no primeiro turno, que considera possível. Um dos caciques do PSB, França acredita que Geraldo Alckmin, seu colega de partido, terá papel relevante, não só na campanha, mas na articulação política e na condução do governo de um eventual terceiro mandato de Lula. Em entrevista no escritório do partido, em Moema, zona sul de São Paulo, França diz ainda que a fome será o principal tema da eleição e que o centro político não só não emplacará uma candidatura de terceira via, como passará por uma profunda transformação após a derrota nas urnas. “Na eleição nacional, o primeiro turno já virou segundo, não há espaço para mais nada”, afirma.

O PT gostaria que o senhor desistisse de disputar o governo de São Paulo e apoiasse Fernando Haddad. Vai manter a candidatura até o final? A minha postulação é a de alguém que foi o segundo colocado na eleição passada. Por isso, é meio natural que eu queira disputar o governo. O PT tem uma intuição de que haverá uma espécie de overbooking petista, que os eleitores votarão duas vezes no 13 (número do PT, para o governo e a Presidência). Mas a grande novidade desta eleição foi o movimento do Alckmin para buscar um eleitorado que normalmente não vota no PT. Então, ficaria muito mais fácil um movimento para votar 13 para presidente, para evitar Bolsonaro, e 40 (número do PSB) para o governo, porque eu sou o candidato de Alckmin. Tenho muita esperança de que o ex-presidente Lula acorde um dia e perceba que, para ter mais chances de vencer no primeiro turno, vai precisar fazer um movimento que já fez com o Alckmin, de mirar mais para o centro.

Acha que é possível deixar o bolsonarismo, que tem Tarcísio de Freitas (Republicanos) como candidato, e o PSDB, do governador Rodrigo Garcia, fora do segundo turno? Acho, porque eles podem se neutralizar.

Mas eles também podem tirar votos do senhor… Sim, sempre tem esse risco. Como há também com o Haddad, porque tem aquela chance de chegar na reta final e haver o voto útil. Mas os três querem que eu saia. Eu sou a nova unanimidade. Não é que todo mundo me odeie, mas todos sabem que o eleitor deles pode vir para mim.

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Em 2018, seu rival no segundo turno, João Doria (PSDB), criou o ‘BolsoDoria’ e o chamava de ‘Márcio Cuba’ para ligá-lo a Haddad e ao PT. O tom ideológico será o mesmo neste ano em São Paulo? Também será, mas acho que mais no segundo turno. Na eleição nacional, o primeiro turno já virou o segundo, está ideologizada desde o começo, não sobrou espaço para nada. É um para derrotar o outro. O voto em Lula é muito anti-Bolsonaro, como no caso das mulheres. Então, é um voto quase parecido com o do segundo turno. E há uma tendência: se você não conseguir fazer com que alguém chegue a sete, dez pontos nas pesquisas, podemos ter esse eleitor se desviando para um dos dois e fazendo voto útil no primeiro turno.

Na campanha de Lula, o clima é de empolgação com a hipótese de vencer no primeiro turno ou é de pés no chão? Depende da pessoa com quem você conversa. Claro que seria uma delícia vencer no primeiro turno, porque você já carimba o passaporte da saída de Bolsonaro. Se for derrotado no primeiro turno, o que vai restar a ele é criticar os eleitores e a urna eletrônica. É diferente de você jogar para um segundo turno. Normalmente, por mais que você tenha ido bem no primeiro turno, há uma tendência de o segundo colocado encostar. E aí teríamos uma disputa muito acirrada.

A pauta central será a economia? A fome, o desemprego e a economia, nessa ordem. Na cabeça do empresário, é a economia, mas na multidão é a fome mesmo. Enquanto nós tivermos comprando quatro bifes com 50 reais, não vai haver paz. Está tudo muito caro, escandalosamente caro. Tudo bem, é um processo, é a guerra, é a pandemia, é o azar, mas quando o time vai mal, você troca o técnico.

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Alckmin está satisfeito com o papel reservado a ele na eleição? Acho que sim, está começando agora a campanha. Ele não é uma pessoa de protagonizar cenas, sempre foi alguém muito ponderado, discreto. Mas, eu tenho viajado com eles, e é nítida a influência dele sobre o Lula. O Alckmin é muito formal, mas é muito simples. Não é um cara que vai na frente, para aparecer. Se tiver dez entrevistas, ele está fora de todas. O Lula tem dito que é o melhor vice que ele teve na vida.

Isso no aspecto pessoal. Mas e quanto ao papel político? O Alckmin é especialista em acupuntura. Ele fará as coisas como um acunputurista, devagar. Idoneidade o Alckmin tem. Correto na relação ele será, zero chance de traição, foi assim com Mário Covas. Eles vão se dar muito bem. O Lula foi presidente duas vezes, não é mais um menino, não vai ter paciência para aquele rame-rame do dia a dia, do orçamento, de lidar com deputado. Não tenho dúvida de que o Alckmin terá uma atividade muito relevante, de tocar o governo, que ele gosta, cuidar das contas, redefinir relações com o Congresso. Não podemos trabalhar com um orçamento secreto que consome 50% dos investimentos do país. Isso, com o Alckmin, esqueça, zero chance de acontecer. Ele será muito mais fundamental que os outros vice-presidentes. O Lula gostava muito do José Alencar, mas ele era um homem rico, empresário, tinha seus afazeres. O afazer do Alckmin é a política.

“Alckmin não é uma pessoa de protagonizar cenas, sempre foi alguém muito ponderado, muito discreto. Mas eu tenho viajado com eles, e é nítida a influência dele sobre o Lula”

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E o casamento PSB com o PT? Há divisões em estados importantes como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul… Para mim está resolvido. Onde não há solução, solucionado está. E eu tenho um pouco de dúvida se esse caldo não é bom. Nós não somos do PT, se nós ficarmos muito PT, não traremos um outro eleitor. A tarefa do Alckmin é falar com o pequeno comerciante, o pequeno agricultor, com quem ele sempre se deu muito bem, com a pessoa do interior que tem desconfiança do PT. Evidente que não se espera ter todos os eleitores do Alckmin. O aceno dele foi muito mais para fora de São Paulo, seu gesto sinalizou um pacto. Se até ele consegue fazer um movimento por esse pacto, por que outros não podem?

Mas o Alckmin foi até agora a única aproximação concreta de Lula com o centro. Por que ela não é maior? O PT é o bem e o mal. É o bem porque é o único partido do Brasil, foi quem manteve Lula vivo, é a principal razão dele, foi muito leal em tudo. Mas o PT também cobra de Lula a lealdade. Aí, ele fica espremido. Mas ele é um craque e pode estar com uma coisa na cabeça: “Eu sinalizo para a esquerda , mas depois eu faço os movimentos que forem necessários”. Se para vencer no primeiro turno for necessário fazer mais dois ou três movimentos, ele fará. O que tem hoje que está aí vagando? O MDB, principalmente. Lula tem uma forte inserção no partido, mas falta vencer a etapa Michel Temer. Se não fosse o Michel, (a aliança) já teria acontecido. Michel tem uma dificuldade por causa da Dilma, mas é um democrata, um eventual gesto dele em direção a Lula sinalizaria que ele não foi um golpista, como dizem.

O MDB tem a Simone Tebet. O senhor não acredita nas chances dela? Eu não a conheço, mas fiquei muito impressionado com a história, as falas, a juventude dela, tem um monte de qualidades. Mas o problema é que em um jogo entre Palmeiras e Corinthians ninguém dá bola para a cor vermelha. Ela não entra no jogo. A expressão terceira via já é infeliz, porque todo mundo quer ser a primeira ou a segunda via. Eu só estou vivo na eleição em São Paulo porque sou o segundo nas pesquisas. Se fosse o terceiro, já estaria fora. O nome denso do centro para disputar é Ciro Gomes (PDT), que concorreu quatro vezes à Presidência, é um nome conhecido, é preparado.

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O senhor foi aliado de Ciro e do PDT na eleição de 2020. Acha que dá para atrai-los para a chapa Lula-Alckmin? O Ciro não, mas com o PDT tem conversa. Toda vez que eu tenho oportunidade, eu sento e cisco para dentro. E acho que aqui está o segredo do primeiro turno. Se não tiver Ciro na urna, acho muito difícil ter segundo turno. O Ciro é um homem muito independente, de posições fortes, ele não é um cara de aceitar arreio. Eu tenho com o Ciro uma baita relação de respeito e convivência e tenho dito ao Lula que é preciso ter compreensão com ele.

O senhor também já foi muito próximo do PSDB, quando era vice de Alckmin no governo. Qual é o futuro do partido? Depende da posição do Rodrigo Garcia na eleição. Se ele ganhar em São Paulo, poderá fundir o PSDB ao União Brasil ou outro partido e fazer surgir daí uma outra coisa, mais de centro, liderada por ele. Mas é certo que o PSDB irá se unir a alguém. No centro, vai haver outras uniões. Vamos sair da eleição com doze partidos no máximo. A reforma política está acontecendo na prática. As federações já são uma espécie de pré-fusão.

“A expressão terceira via já é infeliz, porque todo mundo quer ser a primeira ou a segunda via. Eu só estou vivo na eleição porque sou o segundo. Se fosse o terceiro, já estaria fora”

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O senhor acha que a discussão eleitoral está à altura dos desafios que se colocam para o país? É um debate limitado entre um pouco de passado e de presente, não tem muito espaço para o futuro. Fizemos uma pesquisa qualitativa, com dez grupos, e as pessoas diziam que só querem no futuro a chance de voltar ao passado. Eu já tinha ouvido isso do Lula, achava que estava errado, mas ele é muito intuitivo. Para muita gente, voltar a comer, comprar um carro, viajar, é um pouco do que seria o limite do futuro.

O senhor sempre foi vitorioso nas urnas, mas vem de duas derrotas, em 2018 ao governo e em 2020 à prefeitura. Não teme tornar-se uma espécie de Celso Russomanno, que larga bem, mas não vence? Quero, evidentemente, voltar a ganhar. O Russomanno tem um perfil de Legislativo mesmo, o meu é mais de Executivo. O problema é que mudei de patamar, era um político local, passei a ser estadual e, consequentemente, nacional.

Disputar o Senado, como sugere o PT, não seria mais tranquilo? Eu nunca fui senador, seria uma honra. Qualquer candidato que tiver o apoio do grupo, será um excelente candidato. Essa vaga ao Senado é perfeita para o Haddad. Ele tem esse perfil (risos).

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