Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Lula diz não saber de influência de Cunha na Petrobras

Em depoimento por videoconferência, petista também negou que Michel Temer pediu por nomeação de Jorge Zelada na Petrobras

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 nov 2016, 22h50 - Publicado em 30 nov 2016, 21h23

O ex-presidente Lula teve nesta quarta-feira o primeiro contato com o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba. Arrolado como testemunha de defesa do ex-deputado Eduardo Cunha na ação penal em que o peemedebista é réu por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, o ex-presidente foi à sede da Justiça Federal em São Bernardo do Campo (SP), cidade onde mora, e prestou depoimento por videoconferência.

Antes de começar a ser inquirido, Lula relatou ter sido orientado por seus advogados de que poderia se calar, mas que fazia questão de responder. “O maior interessado na verdade sou eu”, disse a Moro. O petista é réu na Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Nos cerca de dez minutos de sua oitiva, o ex-presidente negou ter conhecimento da influência de Cunha na Petrobras e na compra pela estatal de um campo de petróleo no Benin, na África. Preso em Curitiba há mais de um mês, o ex-presidente da Câmara é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter recebido 5 milhões de dólares na transação. Cunha acompanhou a oitiva de Lula ao lado de seu advogado, Marlus Arns.

Embora a Operação Lava Jato tenha comprovado a lógica do esquema de corrupção na Petrobras, de troca de sustentação política a diretores da estatal por propina a partidos, Lula descreveu o processo de nomeação à cúpula da petrolífera e garantiu que o único quesito levado em conta nas nomeações eram as credenciais técnicas dos indicados.

“Só tem uma exigência feita para indicar: que a pessoa seja tecnicamente competente. Que a pessoa tenha conhecimento da atividade que vai fazer. E todos eles foram indicados, são pessoas que tem competência e historia dentro da Petrobras”, disse o ex-presidente, ao explicar como se deu a indicação, pelo PMDB, do ex-diretor da área Internacional da Petrobras e delator da Lava Jato Nestor Cerveró.

O advogado de Cunha questionou Lula duas vezes a respeito do presidente Michel Temer. O ex-presidente disse que Temer não pediu pela indicação de Jorge Zelada, sucessor de Cerveró na diretoria Internacional, e negou que tenha se reunido com o peemedebista e o ex-deputado Henrique Alves em 2007 para tratar da indicação de Graça Foster à diretoria de Gás e Energia da Petrobras.

Continua após a publicidade

Embora delatores da Lava Jato digam que o engenheiro e lobista João Augusto Henriques, apontado como operador de Cunha, tenha sido indicado para suceder Cerveró e barrado pelo governo, Lula disse no depoimento não saber sobre o assunto.

Após as 17 perguntas da defesa de Cunha, sete das quais respondidas brevemente com“não”, o procurador da força-tarefa da Lava Jato Diogo Castor de Mattos questionou Lula sobre quais partidos poderiam reivindicar cargos na Petrobras. “Todos os partidos que compuseram a base do governo. Eu já expliquei mais que uma vez que quando o partido compõe uma aliança política para governar, todos os partidos que compõem podem reivindicar ministérios, reivindicar cargos. Esses partidos então fazem parte do governo. Era assim que era montado antes e durante e é assim que é montado agora”, respondeu Lula.

Leia abaixo o depoimento completo de Lula na Lava Jato:

Defesa de Cunha: o senhor sabe dizer como foi a nomeação de Nestor Cerveró?

Lula: Se deu como outros membros da direção da Petrobras, a indicação ou é feita em uma conversa entre um ministro da área com um partido, com a bancada do partido que fez coalizão com o governo. Essa pessoa, se indicada pelo partido, vem através do ministro de relações institucional para a Casa Civil que manda pro GSI. Se não tiver nada contra essa pessoa, essa pessoa é indicada para o Conselho da Petrobras, que é quem nomeia na verdade, o Cerveró e qualquer outro dirigente.

Defesa de Cunha: o senhor sabe se neste caso houve indicação do ex-senador Delcídio do Amaral e do Zeca do PT?

Lula: Não. A informação que eu tenho é de que a indicação era do PMDB.

Continua após a publicidade

Defesa de Cunha: o senhor sabe como se deu a substituição do Nestor Cerveró por Jorge Zelada?

Lula: Não.

Defesa de Cunha: o senhor tem conhecimento de quem indicou o Jorge Zelada, se foi o PMDB?

Lula: Eu acredito que tenha sido o PMDB, da mesma forma que o Cerveró foi indicado. A ação pelo Congresso, pela bancada, pelo partido, pela Casa Civil, pelo ministro de Relações Institucionais, passa pelo GSI e se a pessoa não tem nada, só tem uma exigência feita para indicar: que a pessoa seja tecnicamente competente. Que a pessoa tenha conhecimento da atividade que vai fazer. E todos eles foram indicados, são pessoas que tem competência e historia dentro da Petrobras.

Defesa de Cunha: houve pedido do presidente do PMDB à época, Michel Temer?

Lula: Não.

Defesa de Cunha: houve um pedido do ministro Walfrido Mares Guia?

Lula: Ele não faz pedido. Ele, como ministro, e outros ministros das Relações Institucionais, não fazem pedido, apenas levam a presidência através da casa civil as indicações feitas pelo partido que é coligado com o governo.

Defesa de Cunha: o deputado federal José Mucio levou essa indicação do Jorge Zelada ao senhor?

Lula: Não sei se na época era ele o ministro, se era ele o ministro, era ele que levaria. E não levaria a mim primeiramente, levaria à Casa Civil que mandaria pro GSI que faria a investigação e depois chegaria então para mandar à Petrobras.

Continua após a publicidade

Defesa de Cunha: o senhor se recorda se havia ou houve alguma vinculação entre a escolha de Jorge Zelada como diretor e a aprovação da CPMF no Congresso?

Lula: Não.

Defesa de Cunha: em 26 de setembro de 2007, foi publicado no jornal O Globo uma matéria informando que o senhor Michel Temer e o senhor Henrique Alves foram chamados pelo senhor para uma reunião no Planalto. Essa reunião seria para nomear Graça Foster na diretoria de Gás e Energia da Petrobras e de Dutra à presidência da BR. Essa reunião ocorreu? Gerou algum desconforto essa matéria?

Lula: Se ocorreu, não me comunicaram. Eu desconheço qualquer reunião.

Defesa de Cunha: o senhor sabe se houve alguma resistência dos deputados à manutenção de Nestor Cerveró na direção da área Internacional da Petrobras?

Lula: Desconheço.

Defesa de Cunha: tem conhecimento da participação de Eduardo Cunha na nomeação de Jorge Zelada como diretor?

Lula: Não.

Defesa de Cunha: o senhor tem conhecimento por que Nestor Cerveró, após a saída da Petrobras, foi para a diretoria financeira da BR?

Lula: Não. Certamente que foi indicado porque tinha competência para o cargo.

Continua após a publicidade

Defesa de Cunha: de alguma forma tomou conhecimento sobre os negócios para a compra do campo de Benin?

Lula: Não.

Defesa de Cunha: nesse assunto, o senhor ouviu de alguma forma que tenha ocorrido a participação de Eduardo Cunha?

Lula: Não.

Defesa de Cunha: o colaborador Eduardo Musa mencionou que Jorge Zelada foi indicado pela bancada mineira do PMDB, mas que a palavra final da indicação era do Eduardo Cunha. O senhor tinha essa informação à época?

Lula: O que eu conheço é que a indicação era do PMDB. E não de bancada estadual.

Defesa de Cunha: é correta a informação de que João Augusto Henriques foi indicado para diretoria Internacional, mas o nome foi vetado?

Lula: Se foi, não chegou a mim.

Defesa de Cunha: sabe dizer qual foi a participação de José Carlos Bumlai na tentativa de manter Nestor Cerveró na diretoria Internacional?

Lula: Não.

Diogo Castor de Mattos (MPF): quais partidos tinham participação na indicação de cargos da Petrobras?

Lula: Veja, todos os partidos que compuseram a base do governo. Eu já expliquei mais que uma vez que quando o partido compõe uma aliança política para governar, todos os partidos que compõem podem reivindicar ministérios, reivindicar cargos. Esses partidos então fazem parte do governo. Era assim que era montado antes e durante e é assim que é montado agora.

Continua após a publicidade

Diogo Castor de Mattos (MPF): mas especificamente à Petrobras, todos os partidos da base indicaram cargos ou foi restrito a alguns partidos?

Lula: Não, porque não tem cargo para todo mundo.

Diogo Castor de Mattos (MPF): então nesse caso quais seriam os partidos?

Lula: Não sei agora de cabeça quais partidos, mas eu sei que o PMDB indicou cargo na Petrobras, sei que o PP indicou cargo na Petrobras, sei que o PT indicou cargo na Petrobras. E tem outros cargos que nem passa pela Casa Civil, nem passa pelo Conselho.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.