Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Lula: ‘Cerveró não pode ficar no sereno’

Ex-diretor da Petrobras prestou depoimento ao juiz Sergio Moro e indicou que foi abrigado na BR Distribuidora por compensação a favores prestados pelo PT

Por Laryssa Borges e Eduardo Gonçalves, de Brasília
18 abr 2016, 20h59

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu apoio político ao então diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró depois de o ex-dirigente ter articulado a quitação de uma dívida milionária do Partido dos Trabalhadores. A informação é do próprio Cerveró, que prestou depoimento nesta segunda-feira ao juiz Sergio Moro. Segundo o ex-diretor, o então presidente da Petrobras Sergio Gabrielli deu ordens, no ano de 2006, para que ele resolvesse o “problema do PT”, um passivo de 50 milhões de reais referentes a dívidas de eleições.

A avaliação de Lula sobre a necessidade de abrigar Nestor Cerveró em um cargo na Petrobras ocorreu, segundo a versão apresentada pelo delator, no momento em que o PMDB ligado à Câmara dos Deputados exigiu que fosse nomeado um apadrinhado seu para a diretoria da Área Internacional em troca de votos para que fosse aprovada a prorrogação da CPMF. No depoimento, Cerveró afirmou que o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra relatou que Lula falou: “O Nestor não pode ficar no sereno”. “Havia um reconhecimento, afinal quem resolveu grande parte da dívida (…) fui eu”, disse o delator. Na ocasião, Lula teria sugerido que Cerveró fosse abrigado na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, e afirmado: “Se o Nestor topar, o cargo é dele”.

Na época, a pressão à Petrobras por repasses irregulares a partidos políticos vinha de duas frentes principais: do PMDB, por meio do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, e do PT. “Fui pressionado pelo ministro Silas Rondeau, que é do PMDB. Ele vinha me cobrando uma ajuda, ou melhor dizendo, que liquidasse ou ajudasse a liquidar uma dívida de campanha que o PMDB tinha adquirido na ordem de 10 milhões de reais a 15 milhões de reais”, disse Cerveró em depoimento na Operação Lava Jato. Ao final, porém, Gabrielli acabou lidando com o PMDB, enquanto Cerveró passou a ter a responsabilidade de arrecadar para os cofres petistas.

Em conversa no gabinete de Gabrielli, o ex-diretor da Petrobras disse ter recebido informação de que não precisava resolver o “problema do Silas”, e sim o “problema do PT”. Segundo o delator, Gabrielli revelou que o PT tinha uma dívida de 50 milhões de reais de campanha com o Banco Schahin. “Ele falou ‘deixa que a parte mais fácil eu resolvo e você resolve a mais difícil'”. Como a Schahin pretendia ampliar a atividade de operação de sondas no final de 2006, Cerveró chamou o empresário Fernando Schahin e disse ter imposto uma “condição primordial” para a companhia conseguir o contrato como operadora de sondas: o Grupo Schahin teria de liquidar a dívida de 50 milhões de reais do PT.

Mea culpa – No depoimento ao juiz Sergio Moro, Nestor Cerveró ainda fez uma espécie de mea culpa. Pediu desculpas à sociedade por ter participado do esquema de corrupção instalado da Petrobras e à própria petroleira pelos desfalques do escândalo do petrolão. Em tom emocionado, ele ainda detalhou a participação do filho, Bernardo Cerveró, que gravou a atuação do senador Delcídio do Amaral em conversas sobre um esquema de fuga para o ex-dirigente em troca de que ele não fechasse um acordo de delação premiada. Ao final, o próprio Delcídio se tornou delator e informou que atuou para comprar o silêncio de Cerveró a mando do ex-presidente Lula.

Continua após a publicidade

Fernando Baiano – Também em depoimento nesta segunda-feira, o lobista Fernando ‘Baiano’ Soares voltou a dizer à Justiça que o pecuarista José Carlos Bumlai lhe contou que acionaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli para desemperrar um contrato do Grupo Schahin referente à operação de um navio-sonda da Petrobras. O contrato, segundo os investigadores, foi utilizado como moeda de troca para que fosse recolhida propina para o PT. Para camuflar o percurso do dinheiro, foi simulado um empréstimo de 12 milhões de reais entre Bumlai e o Banco Schahin.

Baiano relatou que Bumlai era o “avalista” desse empréstimo e o teria procurado, em 2006, porque estava com dificuldade para conseguir o contrato para a Schahin. Segundo o lobista, o pecuarista amigo do ex-presidente Lula tinha contatos políticos que poderiam destravar o impasse.

“Toda vez que dava problema ele [ex-gerente da Petrobras Eduardo Muso] ligava para mim: ‘Cara, não tem o que fazer?’. Aí eu procurava o Bumlai e falava “Você precisa se movimentar. É um assunto do interesse de vocês e o pessoal está tendo dificuldade em aprovar”. Após tentativas frustradas, Fernando Baiano disse que Bumlai se comprometeu a conversar com Gabrielli e com o próprio ex-presidente Lula para garantir a celebração do negócio. Ao final, o Grupo Schahin conquistou o contrato de 1,6 bilhão de dólares.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.