Lava Jato: ex-deputado minimiza influência política e pede absolvição
Ministério Público diz que Pedro Corrêa recebeu mais de 40 milhões de reais em propina no esquema do petrolão. Ele negocia acordo de delação premiada
O ex-presidente do Partido Progressista (PP) e deputado cassado Pedro Corrêa encaminhou ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato em Curitiba, suas alegações finais antes da sentença a que deve ser submetido e disse que não existem provas de que ele participou do escândalo do petrolão ou de que embolsou propina de contratos fraudados na Petrobras. A fase de alegações finais, em que ele pediu a absolvição, é a última antes de Corrêa receber o veredicto de culpado ou inocente na Lava Jato.
Conforme revelou VEJA, o ex-deputado, que também já foi condenado no julgamento do mensalão, negocia um acordo de delação premiada e ameaça detalhar a participação de políticos do PP no propinoduto que sangrou os cofres da Petrobras. Ele já disse aos procuradores que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff não apenas sabiam da existência do petrolão como agiram pessoalmente para mantê-lo em funcionamento. Corrêa ressaltou aos investigadores que o ex-presidente tinha plena consciência de que o objetivo dos aliados, ao indicar cargos na Petrobras, era instalar operadores na estatal para arrecadar dinheiro e fazer caixa de campanha.
Nas alegações finais, Pedro Corrêa não fez – como não poderia fazer – alusão às negociações da delação, mas contesta a autoridade do juiz Sergio Moro para conduzir os processos da Lava Jato, minimiza sua alegada influência política sobre a cúpula da petroleira e diz que o Ministério Público reuniu apenas “indícios”, e não provas, de supostos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e peculato. “Ainda que se admita que o réu Pedro Corrêa tenha participado das articulações para a nomeação de Paulo Roberto Costa [na diretoria de Abastecimento da Petrobras], é totalmente improvável que pudesse dar apoio político para mantê-lo no cargo (e receber propina) depois de perder o mandato no ano de 2006”, diz o advogado do ex-parlamentar. “A suposta força política do réu Pedro Corrêa é baseada apenas em depoimentos vazios, sem nenhum elemento objetivo ou situação fática concreta que possa demonstrar a existência de tal poder”, completa a equipe de defesa.
Os advogados também alegam que a acusação não teria conseguido comprovar o pagamento de propina a Corrêa, utilizando apenas “suposições” e depoimentos de delatores premiados. Segundo o Ministério Público, Pedro Corrêa embolsou 40,7 milhões de reais em propina, mas a defesa argumenta que esses valores não foram encontrados em posse do ex-deputado. “Presume o Ministério Público Federal que, em espécie, milhões de reais foram repassados ao réu Pedro Corrêa, à margem do sistema bancário. Não há nos autos nenhum documento que demonstre como quantias tão vultuosas deixaram o sistema financeiro, já que as supostas propinas foram repassadas a Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef por meio de transferências bancárias no Brasil e no exterior. Não há nada nos autos que demonstre o mecanismo utilizado para realizar saques em instituições financeiras em valores tão elevados”, diz o defensor.
Em depoimento ao juiz Sergio Moro, porém, o doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Operação Lava Jato, disse que políticos do Partido Progressista receberam repasses mensais de até 750.000 reais em propina, a partir de dinheiro desviado na Petrobras, durante a campanha eleitoral de 2010. Um dos beneficiários preferenciais da propina do PP era, segundo Youssef, o ex-deputado Pedro Corrêa.
O doleiro estimou que repassou, apenas no ano de 2010, 7,5 milhões de reais em propina para Corrêa, deputado cassado e condenado no julgamento do mensalão por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo Youssef, Pedro Corrêa continuou recebendo dinheiro desviado da Petrobras mesmo depois de cassado e ainda durante o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele disse que o político não perdeu poder dentro do partido mesmo depois da cassação ou do mensalão. “Ele fazia parte do partido e o compromisso tinha que ser cumprido. Eram feitos os pagamentos normalmente [durante o mensalão]”, disse.