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João Doria: ‘Eleição de 2022 será a mais dura e a mais suja da história’

Em entrevista a VEJA, governador analisa vitória nas prévias do PSDB, o cenário para uma candidatura de centro e quais serão os temas da disputa eleitoral

Por Bruno Ribeiro 6 dez 2021, 10h18

O governador de São Paulo, João Doria, que saiu vitorioso das prévias presidenciais do PSDB, diz que é um vencedor, pois levou todas as eleições que disputou até agora, e acredita que poderá ser o próximo presidente da República. Em entrevista a VEJA, ele afirma que o Brasil tem jeito, diz que vai usar como trunfo na campanha o que considera sucesso do seu governo, declara que acredita em unidade do seu partido e das forças de centro para criar uma alternativa viável à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, e avalia que economia e saúde serão os grandes temas da disputa eleitoral em 2022. Confira a seguir a íntegra de entrevista concedida a VEJA.

Como devolver ao PSDB o peso que o partido teve no passado? Primeiro, pelo bom exemplo de São Paulo. Estamos fazendo um governo honesto, transparente, social, que atua para a redução da pobreza e dá oportunidade de as pessoas vulneráveis terem alimento no prato e vacina no braço. Depois, com um governo transformador do ponto de vista econômico. Temos o maior PIB do Brasil, a maior geração de emprego entre todos os estados brasileiros. Não é a expectativa do que se pode fazer, é o que se fez de fato. Com equipe, com time. Até os adversários reconhecem que fazemos um bom governo. As críticas são ‘o Doria não agrega’, ‘usa calça apertada’, ‘ é coxinha’. Se esses são atributos negativos, ainda bem. Mas o Doria é honesto, é um bom gestor, sabe montar um time. Isso, numa campanha, vai fazer a diferença. Agora é mergulhar nas visitas pelo país. 

É possível pacificar o partido após as prévias? O PSDB saiu fortalecido. Foram seis meses de campanha e cada um dos candidatos visitou mais de vinte estados. Isso legitima e também fortalece o nome que se consagrou nas prévias do PSDB. Agora, o caminho é o do diálogo. Foi assim em 2016 e em 2018, quando venci outras duas prévias no PSDB em São Paulo.

“Até os adversários reconhecem que fazemos um bom governo. As críticas são ‘o Doria não agrega’, ‘usa calça apertada’, ‘ é coxinha’. Se esses são atributos negativos, ainda bem. Mas o Doria é honesto, é um bom gestor, sabe montar um time”

Como pretende enfrentar a rejeição a seu nome, dentro e fora do mundo político? Com trabalho, com humildade e com paciência. Tanto o eleitor quanto aqueles que formam as castas dos partidos, não é só o PSDB, têm as suas vontades, os seus desejos, os seus anseios, as suas restrições. É parte do jogo. Se você entende assim, administra com mais seriedade e pauta a sua conduta pelo diálogo, pelo entendimento, pela compreensão e pela busca da unidade.

A receita de ressaltar os feitos de São Paulo já foi usada em campanhas presidenciais por José Serra e Geraldo Alckmin, sem sucesso. Como dará certo agora? Em duas plataformas, emprego e saúde. Saúde, porque São Paulo trouxe a vacina, 110 milhões de doses. A vacina salvou filhos, pais, avós, irmãos, e as pessoas reconhecem isso. E o emprego. São Paulo foi o estado que mais gerou empregos em 2021.  Isso muda a vida das pessoas, dá oportunidade de renda, emprego, dignidade. São Paulo é o espelho do país. Numa campanha, você tem que contar isso. O Brasil é um país com um potencial gigantesco, mas tem de ser trabalhado com a visão correta para que o Nordeste tenha o potencial dos seus recursos elevado, e não a visão apenas assistencialista. O mesmo em relação ao Norte e a outras regiões. O Brasil tem jeito. Venceremos a corrupção e a incompetência.

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Assumir o “calça apertada” marcou uma mudança em seu estilo de comunicação. Num vídeo recente, o senhor é apresentado como o “chato que o país precisa”. Divulgar uma candidatura a partir dos “defeitos” não é perigoso? É o caminho da sinceridade e da autenticidade. A verdade, com suas virtudes e seus defeitos. Se ser chato é ser dedicado, se ser chato é trabalhar dezesseis horas por dia, se ser chato é ser honesto, se ser chato é dar prioridade à saúde, educação, emprego, proteção ambiental, habitação social e segurança pública, então, eu sou um chato.

Mas não há um certo perigo em ressaltar os defeitos em uma campanha? Eu acho que não. Um filho admira o seu pai, com as suas qualidades e os seus defeitos.  Todo filho faz críticas ao seu pai, é difícil um filho não ter críticas ao seu pai ou a sua mãe. No mínimo vai dizer que é ‘velho, ultrapassado, chato, está sempre brigando comigo, me lembrando disso e daquilo, mas ele respeita. Então, essa é uma analogia verdadeira. 

O senhor acha que a economia será a grande preocupação dos brasileiros na eleição? Emprego e saúde. Saúde não vai sair da mente, da memória dos brasileiros, seja pelas perdas, seja pelos riscos. E emprego, seja pela perda do emprego, seja pelo risco da não retomada do emprego. Então, esses serão os dois grandes temas da campanha presidencial e também nas campanhas estaduais: emprego e saúde. Não serão os únicos, mas serão os principais.

Mesmo dizendo que não trouxe a vacina em busca de dividendos eleitorais, decepciona não ver esse esforço ser reconhecido nas pesquisas? É compreensível, porque não é só trazer a vacina, é tomar as medidas que a ciência determina, como a quarentena, o uso de máscara, o isolamento social, a restrição de comércio. Tudo isso gerou inconformidades. As pessoas não receberam isso bem, ainda mais diante de um clima de beligerância dado pelo Bolsonaro

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O que explica o eleitorado ainda muito fiel a Lula e Bolsonaro? São dois populistas, extremistas. Em país sem uma liderança consciente, respeitável, os populistas se ressaltam. Bolsonaro vai entregar o Brasil arrasado, liquidado, na pior situação de entrega de governo da história nos últimos cinquenta anos. O PT, partido de Lula, não entregou o governo ao presidente Temer no estado que Bolsonaro vai entregar ao seu sucessor.

Considerando o clima de polarização entre essas duas candidaturas favoritas até o momento, o que espera da eleição? A eleição será a mais dura e a mais suja da história. Ou você está preparado para enfrentar as adversidades, as narrativas mentirosas, a agressividade, as intimidações, ou você já começa a campanha como um perdedor. Esperar de extremistas uma campanha elevada é acreditar em Papai Noel. Nem Bolsonaro nem Lula farão campanhas altivas. Serão campanhas sujas, duras e intimidadoras.

Como irá contra-atacar? Com posicionamento, história, fatos e atitudes. O diferencial é que vamos ter organização. Nas prévias, surpreendemos a todos. Nós temos o que apresentar em saúde, proteção social, emprego, aumento do PIB, confiabilidade internacional, proteção ambiental, em cultura, em esporte, em turismo, em qualquer área nós performamos bem aqui em São Paulo.

 “A eleição será a mais dura e a mais suja da história. Ou você está preparado para enfrentar as adversidades, as narrativas mentirosas, a agressividade, as intimidações, ou você já começa a campanha como um perdedor”

Quais são as prioridades para o próximo presidente? Garantir a autonomia do Poder Executivo e não a dependência do Poder Legislativo. O Executivo perdeu essa autonomia. Nós temos que ter uma relação respeitosa, mas autônoma, fluída, transversal, com o Legislativo e o Judiciário. Só em um governo fraco o Legislativo pode determinar a execução do orçamento, nem no governo Lula isso aconteceu. Prioridade absoluta para a geração de empregos, com novos investimentos, e também atração de investimentos internacionais. A educação é primordial para a recuperação do Brasil. Talvez não seja um item para uma narrativa eleitoral, mas para uma narrativa de governo é fundamental. Você só vai transformar o Brasil se tiver escolas de tempo integral e, principalmente, priorizar a educação e os investimentos necessários para garantir uma educação de qualidade para as pessoas vulneráveis e mais pobres com o mesmo nível dos mais ricos que frequentam escolas particulares. 

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Existe uma chance real de união entre candidaturas da terceira via? Se esse centro democrático liberal-social não tiver a capacidade de construir uma candidatura forte para o primeiro turno, a eleição será decidida entre Lula e Bolsonaro. Aí será o pesadelo. Mas acredito na união e na força do diálogo.

Quem o senhor irá procurar primeiro para compor alianças? Todos os que podem fazer parte desse centro democrático, sem exceção. 

Mas MDB e União Brasil parecem ser os caminhos mais óbvios nesse momento, concorda? O Podemos também, o Novo também. São todos os partidos que podem compor esse centro democrático liberal- social. Vamos encontrar até mais partidos. 

Na entrevista coletiva de segunda-feira, dia 29, o senhor falou em priorizar uma vice mulher. Muitos viram um aceno para Simone Tebet, do MDB. Ali não estava fulanizando para nominar alguém, mas sim lembrando a respeitabilidade do que representa o universo feminino na vida do país, na vida política do país e na eleição do país. Se eu puder decidir, a minha opção seria priorizar uma mulher.

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O senhor falou no Podemos. Ainda é possível acreditar que o ex-juiz Sergio Moro desista da candidatura? O diálogo não deve ser iniciado imaginando que a pessoa com quem você vai dialogar vai desistir. Você tem que entrar para esse diálogo de maneira respeitosa, com um grau de humildade que lhe permita tratar com igualdade e não com superioridade.

A exemplo do que ocorreu na sua eleição à prefeitura de São Paulo, em 2016, e ao governo do estado, em 2018, o senhor é considerado agora um “azarão” na corrida presidencial. Isso o incomoda? Pelo contrário, me sinto estimulado. Cada vez que dizem que não vai dar, que não vai ganhar, que não vai vencer, eu potencializo, aumento minhas horas de trabalho, minha dedicação… Exatamente para demonstrar o contrário. Posso até perder uma eleição, mas isso não ocorreu até agora. O fato é esse. Nosso histórico é de vitórias.

Uma série de analistas afirmava que o senhor não venceria as prévias. A que atribui isso? Falta de experiência na análise política. Talvez se entre esses analistas tivessem dois ou três que já tivessem disputado uma eleição, eles tivessem uma melhor capacidade de avaliação. Mas isso é parte do jogo. Não há contrariedade ou mágoa quanto a isso.

“Cada vez que dizem que não vai dar, que não vai ganhar, que não vai vencer, eu potencializo, aumento minhas horas de trabalho, minha dedicação… Exatamente para demonstrar o contrário. Posso até perder uma eleição, mas isso não ocorreu até agora”

O senhor já disse que não acredita em reeleição. O João Doria presidente irá trabalhar para mudar isso? Espero poder dar essa contribuição. Se houver essa possibilidade, propor uma reforma política que acabe com a reeleição e possa estabelecer mandatos de cinco anos sem direito à reeleição. E que possa estabelecer também mandatos unificados, uma eleição que elege todos. O Brasil paralisa a cada dois anos porque tem eleição. Melhor fazer isso a cada cinco anos e você ter tempo para trabalhar, para produzir, para ficar focado na gestão e não na eleição. Os brasileiros sabem votar, já aprenderam a votar, já exercitam a votação conscientemente e a urna eletrônica ajudou muito nisso. Não tem razão votar a cada dois anos. Tem que reformar a Constituição, estabelecer um tempo para isso também, para não haver nenhum prejuízo. Porque entendo que quem é eleito tem que cuidar da gestão, não da reeleição

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