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Janot diz que vai manter ritmo de denúncias e investigações

'Enquanto houver bambu, lá vai flecha', disse Janot, que deixa o cargo em setembro. Procurador-geral negou ser inimigo de sua sucessora, Raquel Dodge

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 jul 2017, 15h29 - Publicado em 1 jul 2017, 13h57

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, declarou neste sábado, em São Paulo, que, até o dia 17 de setembro, quando deixará a chefia do Ministério Público Federal, manterá o ritmo das investigações da Operação Lava Jato e as apurações desencadeadas a partir das delações premiadas de executivos do Grupo J&F. “Enquanto houver bambu, lá vai flecha” afirmou Janot, que participou de uma das mesas de debate do 12º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

“No dia 18 entrego a caneta e a cadeira. Até lá, a caneta está na minha mão e vou continuar nesse ritmo em que estou”, disse o procurador-geral.

Questionado sobre sua sucessora na PGR, a subprocuradora Raquel Dodge, uma adversária interna, Rodrigo Janot disse ter com ela apenas “divergências de entendimento com”.  “Dizem que sou inimigo dela. Não tenho nada contra a doutora Raquel. Nós temos divergências de entendimento. Ela compôs a lista tríplice, votada maciçamente por colegas. As divergências são normais”, declarou.

A respeito da indicação de Dodge pelo presidente Michel Temer (PMDB), nesta semana, Janot afirmou que “a escolha foi legítima”. “O importante é que o nome seja escolhido dentro da lista, e isso ele fez. Isso é importante. A escolha foi legítima”, ponderou o procurador-geral, cujo candidato, o subprocurador Nicolao Dino, foi o mais votado na lista da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), com 621 votos, ante os 587 de Raquel, segunda mais votada.

Apesar das palavras de Rodrigo Janot, ele e sua sucessora nutrem um desapreço recíproco. Como informa a edição desta semana de VEJA, desde que Janot chegou ao comando da PGR, há pouco menos de quatro anos, Raquel se insurge contra o estilo de sua administração, que considera extremamente autoritário e pouco agregador.

VEJA também revela que Raquel Dodge suspeitou ter sido grampeada em seu gabinete na PGR e, diante da falta de providências de Rodrigo Janot em investigar o caso, levantou a suspeita de que a suposta arapongagem pudesse ter sido conduzida sob ordens do próprio procurador-geral.

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Confrontado com uma declaração recente da sucessora, de que não caberia ao Ministério Público Federal dosar a pena de delatores premiados por meio dos acordos de colaboração, Janot foi irônico. “Não adianta eu chegar ao colaborador e dizer: ‘meu amigo Joesley, vou te propor um acordo. Vou lhe dar uma caixa de bombom Garoto. Você gosta de pão de mel? Vou te dar uma caixa de pão de mel. Lá na minha terra [Minas Gerais], a gente gosta de torresmo com cachaça. Quer um torresmo com cachaça?’”, brincou o procurador-geral da República.

“Nos Estados Unidos, onde ela [Raquel Dodge] estudou, o acordo é muito mais amplo. Na Itália, onde estudei, o acordo é muito mais amplo que aqui. A flexibilidade é que comanda, eu preciso ter flexibilidade, senão [o acordo] não avança”, completou.

Criticado no meio jurídico pelo acordo de delação firmado com os delatores da JBS, incluindo os donos do grupo, Joesley e Wesley Batista, que garantiu a eles o direito de não serem denunciados à Justiça, Rodrigo Janot classificou a decisão como uma “escolha de Sofia” (entre uma opção ruim e outra, pior ainda), mas disse que “faria de novo com certeza”.

“Como é que uma pessoa chega, lhe apresenta altas autoridades praticando crime em curso e você não aceita fazer acordo? Você deixou que o crime continuasse a ser praticado”, afirmou Janot, que narrou os termos em que se deu a negociação com Joesley Batista.

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Segundo o procurador-geral, ao exigir que não fosse denunciado, Joesley argumentou que, caso fossem acusado e viesse a se tornar réu, apostaria na prescrição dos processos na Justiça. “’Quer uma provinha do que eu tenho?’ E mostrou um trecho da gravação [com o presidente Michel Temer]”, contou o procurador-geral.

Em referência ao flagrante feito pela Polícia Federal do ex-assessor presidencial e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures carregando uma mala com 500.000 reais em propina da JBS, o procurador declarou que, se o acordo de delação premiada com os executivos do frigorífico não tivesse sido fechado, “mais malas estariam acontecendo a cada semana”.

Retirada de sigilo

A respeito de outra posição de Raquel Dodge, que defende a retirada do sigilo do conteúdo das delações apenas quando o Ministério Público oferecer denúncia decorrente delas, Rodrigo Janot ponderou que essa determinação, expressa na lei das delações premiadas, nem sempre pode ser cumprida.

Ele citou, sem nomeá-lo, um delator que pediu levantamento de sigilo por motivos de segurança. “Não posso me agarrar nessa tábua. [O sigilo é retirado] com a denúncia, como está previsto na lei, mas há outras hipóteses que levam ao levantamento, e isso tem que acontecer”, disse Janot.

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