IDH: Brasil foi o que mais subiu; falhas graves persistem
País ganhou quatro posições entre 2009 e 2010. Mas aparece em desvantagem nos índices de educação e igualdade
Entre 2009 e 2010, nenhum país subiu tanto no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) quanto o Brasil: o país pulou do 77º para o 73º lugar. O salto comprova uma tendência detectada pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento): praticamente todos os países apresentam melhoria nos índices mais importantes; mas, desde 2000, o Brasil tem crescido mais rápido do que a média mundial. Ainda assim, para manter o bom desempenho, será preciso investir em áreas em que o país ainda passa vergonha: a educação e a igualdade social.
“Todas as tendências que traçamos são favoráveis. A questão é saber como vai ser a evolução dos outros países”, explica o pesquisador Flávio Comin, economista sênior do PNUD Brasil. Para alcançar, por exemplo, o Chile, cujo IDH é de 0,783, o país ainda tem um longo caminho. O índice brasileiro é de 0,699, é inferior até mesmo à média da América Latina e do Caribe, que é de 0,704.
Educação – Os números da educação demonstram o tamanho do desafio que o Brasil tem pela frente: o país perde, na maior parte dos indicadores, para outros em situação semelhante. A taxa de evasão é elevada; 24,4%. Na prática, um a cada quatro alunos abandona os estudos antes da conclusão. O índice de repetência ultrapassa os 18%. O desempenho nesses quesitos é inferior ao do Congo. A média de alunos por professor – 23 – é pior do que o do Tadjiquistão. O nível de matrículas no ensino superior também é baixo: 30%. Menos do que a Bolívia.
Mas os dados mostram que já houve uma evolução nos últimos anos: a população com mais de 25 anos tem, em média, 7,2 anos de estudo. Dentre os jovens com menos de 25 anos, esse índice é de 13,8 anos – sinal de que o ingresso no sistema de ensino aumentou substancialmente.
Distribuição de renda – Outra pedra no sapato do Brasil é a desigualdade. Quando o fator é levado em conta, o país perde 15 posições no ranking do IDH, com um desempenho pior do que o do Gabão e o Uzbequistão, por exemplo.
O relatório destaca, no entanto, que esses índices vêm caindo na América Latina: “A desigualdade está em queda em vários países, principalmente o Brasil e o Chile”. Flávio Comin destaca que, também nesse quesito, o Brasil reagiu: “Fatores como o programa Bolsa-família e o crescimento do mercado interno influenciaram”, explica.
Para o economista, o mais importante é evoluir simultaneamente em todos os índices sociais, o que alavanca o desenvolvimento do país. O Brasil ainda precisa, por exemplo, combater a desigualdade entre gêneros: aqui, a mulher tem menos oportunidades do que em países com IDH semelhante.
Se conseguir manter o ritmo atual, o Brasil pode alcançar o clube dos países muito desenvolvidos: “O país pode, sim, mudar de patamar. Se ele continuar de crescimento econômico, reduzir a mortalidade infantil e se esforçar para que o sistema educacional seja de qualidade”, resume o pesquisador.