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Haddad chega ao 2º turno com desafio de superar resistência ao PT

Professor da USP ganhou confiança de ex-presidente quando foi ministro da Educação; como prefeito de São Paulo, deixou cargo com baixa aprovação

Por Estêvão Bertoni 8 out 2018, 10h27

Escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para herdar seu espólio político, Fernando Haddad, professor de ciência política da Universidade de São Paulo que comandou o ministério da Educação e governou a capital paulista, chega ao segundo turno com a tarefa de recolocar o PT no poder após a pior crise da história do partido. Aos 55 anos, ele vai concorrer com Jair Bolsonaro (PSL) após ter recebido 31 milhões de votos (ou 29% dos votos válidos) neste domingo (7).

Filho do imigrante libanês e comerciante Khalil Haddad e da professora e dona de casa Norma Thereza Goussain Haddad, tem duas irmãs. Nasceu em São Paulo, em 25 de janeiro de 1963. Enquanto cursava a Faculdade de Direito da USP, chegou a trabalhar com o pai na loja de tecidos da família na região da rua 25 de Março, no centro da capital paulista.

Sua vida política começou ainda na faculdade, quando se tornou presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto, em 1985. Na mesma época, participou do movimento Diretas Já!, que reivindicava o direito de escolher por voto direito o presidente da República. Em 12 de julho de 1985, filiou-se ao PT (Partido dos Trabalhadores), que fora fundado cinco anos antes.

Casou-se em 1988 com a dentista Ana Estela, com quem teve dois filhos, Frederico e Carolina. Em 1990, tornou-se mestre em economia com a tese “O Caráter Sócio-Econômico do Sistema Soviético”. Seis anos depois, concluiu o doutorado em Filosofia, defendendo o trabalho “De Marx a Habermas – O Materialismo Histórico e seu Paradigma Adequado”. As duas teses foram defendidas na USP, onde Haddad começou a dar aulas no departamento de ciência política em 1997.

Antes, porém, havia trabalhado na área de incorporação e construção e como analista de investimento no Unibanco. Já após se tornar professor, foi consultor da Fipe (Fundação de Pesquisas Econômicas).

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Fernando Haddad começou a colaborar com governos petistas apenas em 2001, quando passou a chefiar o gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento da cidade de São Paulo, na gestão Marta Suplicy. A pasta era então comandada pelo economista e professor da USP João Sayad.

A partir de 2003, já durante a Presidência de Lula, foi colaborar com o governo federal, como assessor especial do ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Guido Mantega. Coube a ele formatar a Lei de Parcerias Público-Privadas (PPPs), que entrou em vigor em 2004.

Depois disso, atuou como secretário executivo do Ministério da Educação na gestão de Tarso Genro, tendo criado o ProUni (Programa Universidade para Todos), que concede bolsas de estudo integrais e parciais em faculdades privadas. Acabaria assumindo a pasta em 2005, na época do estouro do escândalo do mensalão, que obrigou Genro a assumir a presidência do PT para tentar controlar a crise no partido. Haddad ficou no cargo até 2012.

Ministro da Educação

Durante sua gestão à frente da pasta, ele instituiu o Ideb, um índice que mede a qualidade do ensino fundamental e médio. Com o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), ampliou os investimentos para educação básica e ensino médio. O ministro também foi responsável por fazer do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) uma prova que permitia a entrada dos estudantes em faculdades públicas.

Mas foi justamente nesse exame que Haddad enfrentou seus principais problemas. Em 2009, a prova vazou antes de ser realizada. O Ministério da Educação foi obrigado a cancelá-la e remarcar um novo exame com um atraso de dois meses. Naquele ano, algumas universidades acabaram desistindo do Enem como instrumento de ingresso de estudantes. A abstenção foi de 1,9 milhão de estudantes.

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No ano seguinte, houve problemas de impressão, com dados trocados no cabeçalho. Já em 2011, o MEC cancelou treze questões em todo o país após constatar que o resultado de algumas questões tinha sido antecipado a alunos de um colégio em Fortaleza, no Ceará.

Mas foi no período como ministro que Haddad se aproximou de Lula. Ele acabaria sendo a aposta do ex-presidente como o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.

Prefeito de São Paulo

Em 2012, Fernando Haddad, então candidato, foi apelidado de o segundo poste de Lula. O primeiro tinha sido Dilma Rousseff, ex-ministra lançada pelo petista para concorrer à Presidência da República em 2010. Ela acabou derrotando José Serra (PSDB).

O tucano, por sinal, perderia para o primeiro e para o segundo poste de Lula. Em 2012, Haddad venceu a corrida para prefeito de São Paulo no segundo turno, com 55% contra 44% de Serra.

Logo em seu primeiro ano, Haddad enfrentou protestos contra o aumento de vinte centavos no preço das passagens de ônibus. Lideradas pelo MPL (Movimento Passe Livre), as manifestações de junho de 2013 causaram comoção em todo o país após a truculência da Polícia Militar em reprimir um dos atos.

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Ao lado do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito anunciou que o aumento havia sido revogado. Como efeito inesperado, os protestos começaram a levar grupos de direita às ruas de todo o país. O resultado foram grandes manifestações contra o governo de Dilma Rousseff (PT) e a ascensão de políticos deste espectro ideológico, como o deputado federal Jair Bolsonaro.

Na prefeitura, o transporte foi uma das áreas que mais teve atenção de Haddad. Ele criou 400 km de ciclovias e 423 km de faixas exclusivas para ônibus. Diminuiu a velocidade das marginais, medida que reduziu o número de mortes nas vias. Suas iniciativas, porém, eram impopulares entre os motoristas, que começaram a perder espaço nas ruas para os ônibus e criticavam a lentidão nas marginais Tietê e Pinheiros.

Em 2016, com o slogan “Acelera SP” João Doria aproveitou-se dessa insatisfação prometendo aumentar as velocidades nas vias, o que acabou fazendo nos primeiros dias após eleito. No primeiro ano da gestão do tucano, as mortes voltaram a aumentar, embora a prefeitura tenha negado que o número tivesse a ver com as velocidades na marginal.

Haddad também criou a Controladoria Geral do Município, órgão para combater a corrupção na prefeitura. Foi a controladoria que revelou a chamada máfia do ISS, grupo de fiscais que pediam propina em troca de descontos no imposto em grandes empreendimentos.

Ele tentou a reeleição, mas foi derrotado por Doria, que se elegeu em primeiro turno com 53% dos votos válidos. Haddad deixou a prefeitura avaliado como ruim e péssimo por 39% dos eleitores, segundo o Datafolha. Apenas 18% consideraram sua gestão como ótima e boa.

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Denúncias

No ano em que concorre à Presidência, Haddad foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo sob suspeita de ter recebido dinheiro via caixa dois de campanha, em 2012. Uma das denúncias aconteceu em setembro deste ano. O petista disse ter estranhado que a denúncia tenha sido feito às vésperas das eleições. Ele afirma ter sido citado em delações como retaliação por ter suspendido a construção de um túnel superfaturado na capital.

Ele também responde a ações que investigam supostas irregularidades na construção de ciclovias e um suposto desvio no Theatro Municipal de São Paulo, o que lhe valeu uma ação por improbidade administrativa. Ele nega irregularidades em ambos os casos.

Candidatura

Em relação aos adversários, Haddad teve um tempo mais curto de campanha. Ele só foi oficializado como candidato à Presidência da República em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno. O PT insistiu até o limite na candidatura de Lula, que está preso em Curitiba (PR), condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP). Sua defesa diz que não há provas para a condenação e que o ex-presidente é perseguido por setores da Justiça.

Em 1º de setembro, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) barrou a candidatura do ex-presidente, com base na Lei da Ficha Limpa e deu prazo para o PT apresentar um novo candidato. Com Haddad inscrito, a transferência de votos começou a se realizar. Em 22 de agosto, o ex-ministro tinha apenas 4% na pesquisa Datafolha. Uma dia antes do primeiro turno, o instituto mostrava o candidato com 22% das intenções de voto.

Haddad, que até então estava encostando em Bolsonaro, só não contava que o rival começaria a crescer na última semana de campanha. Atribui-se o avanço do candidato do PSL às fake news espalhadas pelo aplicativo WhatsApp após um protesto organizado por mulheres, o #EleNão, em 29 de setembro. Imagens de mulheres mostrando os seios foram usadas para convencer os eleitores conservadores e religiosos a votar no ex-militar.

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Propostas

Haddad promete revogar as reformas do governo Temer, como a reforma trabalhista e a lei do teto dos gastos, que afetou as áreas da educação e da saúde. Ele também propõe retomar o Programa Minha Casa, Minha Vida, um dos carros-chefe do governo Dilma Rousseff. Tem como meta a contratação de 2 milhões de moradia até 2022, com prioridade para as famílias de renda mensal inferior 1.800 reais. A retomada de obras paradas seria ainda um modo de gerar mais empregos.

O petista também defende a redução dos juros e uma reforma tributária na qual se criaria um Imposto sobre Valor Agregado. Pessoas que ganham até cinco salários mínimos estariam isentos de pagar o Imposto de Renda.

Na área da educação, Haddad quer criar uma Prova Nacional para Ingresso na Carreira Docente e estabelecer convênios com os estados para que o governo federal se responsabilize por escolas em regiões de alta vulnerabilidade. Na segurança, ele defende implementar um Sistema Único de Segurança Pública. Ele também defende que a Polícia Federal, com a inteligência que possui, coordene todas as polícias do país.

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