Um general apontado pela Polícia Federal como um dos homens que falharam na proteção do Palácio do Planalto durante os ataques do 8 de janeiro foi colocado como peça-chave no roteiro desenhado por militares golpistas para planejar o dia seguinte a um plano de assassinato de autoridades para reverter o resultado das eleições de 2022.
Indiciado pela CPI do 8 de janeiro, criada no Congresso no ano passado, o general de divisão Carlos Feitosa Rodrigues consta como o chefe da Assessoria de Segurança das Instalações em um suposto Gabinete Institucional de Gestão de Crise. Esse órgão seria criado após a ação de um grupo de oficiais para perseguir, prender e até matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes em 15 de dezembro de 2022.
Esse planejamento, tratado até aqui como o documento golpista mais ousado entre os vários já descobertos, foi encontrado em arquivos do general Mário Fernandes, que atuou na Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro. Em conversas com outros militares, ele articula o roteiro para monitorar os alvos e elenca as opções para a execução deles.
Depois disso, um gabinete seria formado em 16 de dezembro para “estabelecer diretrizes estratégicas, de segurança e administrativas para o gerenciamento da crise institucional”. O órgão seria chefiado pelo general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI, e seria coordenado por Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil.
O documento integra o inquérito que apurou a atuação do ex-presidente Jair Bolsonaro, seu entorno e militares da ativa e da reserva em uma suposta tentativa de golpe no país. As investigações tentam chegar a um elo entre as minutas golpistas e os ataques do 8 de janeiro.
Quem é o general Feitosa?
O general Carlos Feitosa Rodrigues era o Secretário de Coordenação e Segurança Presidencial, órgão vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), quando vândalos invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes. Na véspera dos ataques, o militar emitiu um alerta que minimizava o tamanho da manifestação, e esse parecer embasou a decisão de alocar um contingente mínimo na proteção do Planalto.
O general acabou demitido no final daquele mês, ao lado de Carlos Penteado, o secretário-executivo do gabinete de segurança. Atualmente ele atua no Comando Militar do Norte, na 8ª Região Militar.
Para a PF, o GSI, à época chefiado pelo general Gonçalves Dias, homem de confiança de Lula, cometeu omissões graves durante os ataques do 8 de janeiro. Entre os citados pela corporação que falharam na atuação está o general Feitosa.
O general Carlos Feitosa foi procurado por VEJA por meio do Comando Militar do Norte. Ele não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem se tinha conhecimento do plano de assassinato de autoridades e se foi consultado sobre a possibilidade de integrar o gabinete de crise.