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EXCLUSIVO: FHC pediu ‘SOS’ a Odebrecht por doações a tucanos em 2010

Em e-mails, ex-presidente solicitou dinheiro ao empreiteiro Marcelo Odebrecht e insistiu por ‘ajuda’ em campanhas do PSDB ao Senado em Mato Grosso e Pará

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jun 2018, 21h18 - Publicado em 6 jun 2018, 16h50

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pediu diretamente ao empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo que leva seu sobrenome, doações a candidatos do PSDB nas eleições de 2010. Mensagens localizadas pela Polícia Federal (PF) na caixa de e-mail de Odebrecht e anexadas nesta terça-feira, 5, a um dos processos da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostram que FHC solicitou ao empreiteiro que “ajudasse” as campanhas de Antero Paes de Barros e Flexa Ribeiro, candidatos ao Senado naquele ano por Mato Grosso e Pará, respectivamente. Foi a defesa de Lula que pediu à PF a inclusão das mensagens na ação. FHC diz que o pedido “era legal”.

Em um e-mail cujo assunto é “pedido”, datado de 13 de setembro de 2010, Fernando Henrique escreveu a Marcelo Odebrecht para lembrar o empreiteiro sobre uma demanda que já havia feito a ele em um jantar, dias antes. “Envio-lhe um SOS”, apelou FHC, ressaltando que Paes de Barros estava em segundo lugar na corrida por uma cadeira de senador e enfrentava a “pressão do governismo, ancorada em muitos recursos”. Por fim, o ex-presidente passou a conta-corrente da campanha do tucano.

“Meu caro Marcelo: Recordando nossa conversa no jantar de outro dia, envio-lhe um SOS. O candidato ao senado pelo PSDB, Anrtero [sic] Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dado [sic] bancários: Eleição 2010, Antero Paes de Barros Neto -senador, Banco do Brasil, agência 3325-1, conta corrente 31801-3, CNPJ 12189840/0001-23”, indicou.

Menos de uma hora depois, Marcelo Odebrecht respondeu a FHC, tranquilizou-o e prometeu dar um feedback sobre as colaborações que a Odebrecht já havia feito a pedido do ex-presidente. “Presidente, Estou fora até amanhã, mas até 4ª dou uma olhada e retorno. Fique tranqüilo [sic] (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos”, escreveu o empreiteiro.

No dia seguinte ao contato eletrônico de Fernando Henrique Cardoso, Odebrecht enviou um novo e-mail ao tucano para relatar que já havia encaminhado o pedido de ajuda a Antero Paes de Barros. “Presidente, Ja solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua disponibilidade para lhe apresentar um balanço”, resumiu o empresário. (veja a troca de e-mails abaixo)

(Reprodução/Reprodução)

Uma semana depois, em mensagem eletrônica intitulada “o de sempre”, FHC insistiu com Marcelo Odebrecht sobre os candidatos tucanos que “precisam de atenção” e incluiu o nome do senador Flexa Ribeiro. No e-mail, endereçado também ao empresário Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o ex-presidente se dirige aos interlocutores como “estimados amigos”.

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“Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso; 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito”, pediu o tucano.

A confirmação de que a doação, ou “apoio”, como diz Odebrecht, a Antero Paes de Barros seria mesmo feita veio no dia seguinte. “Presidente, Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apóia-lo. Flexa não sei dizer, mas vou verificar”, respondeu.

Conforme o laudo da PF, a troca de e-mails “o de sempre” foi apagada do e-mail de Marcelo Odebrecht e só foi recuperada “com auxílio de ferramenta pericial”. (veja abaixo as mensagens)

(Reprodução/Reprodução)

Embora Fernando Henrique Cardoso tenha informado ao empreiteiro sobre a conta-corrente oficial da campanha de Antero Paes de Barros e Marcelo Odebrecht tenha confirmado que faria a doação, não consta na prestação de contas eleitoral do então candidato nenhuma colaboração da Odebrecht ou de empresas que compõem o grupo. A empreiteira também não está entre os doadores da campanha de Flexa Ribeiro.

FHC foi citado na delação premiada de Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, que relatou supostos pagamentos de caixa dois a campanhas do tucano nos anos pré-eleitorais de 1993 e 1997. Em julho de 2017, a Justiça Federal de São Paulo arquivou a investigação sobre os supostos delitos.

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Leia aqui a íntegra do laudo da Polícia Federal com os e-mails de FHC a Marcelo Odebrecht.

Outro lado

A assessoria de imprensa de Fernando Henrique Cardoso informou inicialmente que ele se recupera de uma internação para tratar de um problema intestinal e não comentaria o conteúdo dos e-mails a Marcelo Odebrecht. Na noite desta quarta-feira, a assessoria enviou uma nota em que FHC afirma que o pedido “era legal”. “Posso ter pedido, mas era legal. Não se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos governos, da República e do estado”.

Antero Paes de Barros, que foi senador entre 1998 e 2006 e não se elegeu em 2010, afirma que não recebeu ajuda financeira da Odebrecht em sua campanha e não teve nenhum contato com representantes da empreiteira naquele ano. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele registrou 1,7 milhão de reais em doações na eleição de 2010.

O senador Flexa Ribeiro, eleito em 2010, disse, por meio de sua assessoria, que desconhece o pedido e que não recebeu nenhuma contribuição da empresa.

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