Família de Cabral alega ‘perseguição desmedida’ e teme pela sua segurança
Após fiscais acharem regalias em unidade na qual ele estava preso, ex-governador do Rio foi transferido para presídio que abriga chefões do crime organizado
A família do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, transferido para um presídio de segurança máxima na noite desta terça-feira, 3, considera uma “perseguição desmedida e desproporcional” o castigo imposto a ele. O ex-cacique do MDB passará dez dias em Bangu 1, unidade que abriga presos de alta periculosidade, incluindo chefões do tráfico e da milícia – vários deles encarcerados durante as gestões de Cabral, o que gera nos parentes um temor de eventuais retaliações.
“Essa decisão autoritária não tem precedentes. Quantas batidas foram feitas pela Vara de Execuções Penais (VEP) em diversos presídios, com coisas muito piores nas cadeias, e esse castigo não foi dado? Colocar o ex-governador e coronéis da PM em Bangu 1 é absurdo e caracteriza uma perseguição desmedida e desproporcional”, alega o filho Marco Antônio Cabral, hoje presidente do MDB carioca.
Durante o castigo, o ex-mandatário do governo do Rio ficará numa cela de 5 metros quadrados, sem janela e sem direito a banho de sol durante os dez dias. Embora haja o receio dos familiares de eventual contato com chefes das facções Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e das milícias, ele não deve ter, segundo a decisão judicial, contato direto com esses criminosos. Uma ala inteira de Bangu 1 foi reservada para Cabral, o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira e outros quatro detentos.
Cabral estava no Batalhão Especial Prisional (BEP), gerido pela Polícia Militar, em Niterói. Na semana passada, contudo, a VEP achou no local uma série de irregularidades no espaço que ele dividia com o tenente-coronel Oliveira, que cumpre pena acusado de matar a juíza Patrícia Acioli, assassinada em 2011. Na cela do ex-governador, foram encontradas toalhas com o nome dele bordado e prateleiras com fundo falso para supostamente esconder celular, mas os fiscais suspeitam que as regalias sejam bem maiores. Uma sacola achada numa área próxima à cela continha dois celulares, mais de 4 000 reais em espécie e até cigarros de maconha, também atribuídos ao político e ao policial.
Outro indício de luxo encontrado pela Justiça é uma lista de pedidos feitos a restaurantes, entre eles uma farta refeição de 1 500 reais de comida árabe. Segundo o filho de Cabral, o restaurante seria ligado à família do tenente-coronel, o que livraria seu pai de culpa. “Essa lista, incluindo a comida árabe, se trata de uma relação de compras para o restaurante da esposa do Coronel Cláudio. Nada foi achado na cela do ex-governador, e ele não responde a nenhum processo administrativo-disciplinar”, afirma Marco Antônio.
Depois dos dez dias em Bangu 1, Cabral deve voltar ao BEP, que passará por adequações para evitar novas regalias. O que mantém a prisão dele, detido pela primeira vez em novembro de 2016, são três prisões preventivas que ainda estão em vigor; outras duas foram derrubadas recentemente pela defesa. No total, o ex-governador responde a 33 processos, cujas penas passam dos 400 anos.