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Ex-secretário nacional de Segurança avalia como “um desastre” a ação da polícia carioca

José Vicente da Silva analisa os erros cometidos na operação que resultou em tiroteio e invasão de hotel de luxo no Rio

Por Rafael Lemos
23 ago 2010, 18h35

“A hipótese de uma ação planejada não é totalmente afastada. Mas a polícia só reconhecerá isso em último caso. Porque, se for verdade, foi uma ação totalmente desastrosa, incompetente, de pessoal despreparado para agir nesse tipo de situação”

O coronel José Vicente da Silva fez carreira na Polícia Militar de São Paulo e, desde que se reformou, dedicou-se ao estudo das questões ligadas à segurança pública. Foi secretário nacional de Segurança Pública no governo de Fernando Henrique Cardoso e é um requisitado consultor nas questões relativas à segurança. A pedido de VEJA.com, ele analisou os erros cometidos pela polícia no enfrentamento com traficantes que resultou no tiroteio em São Conrado e na invasão do hotel InterContinental, nas duas hipóteses: a de uma ação planejada e a de um confronto estabelecido a partir de um encontro casual entre policiais e traficantes. “Foi um desastre”, resume.

Na entrevista, ele diz também que as Unidades de Polícia Pacificadora têm que ser “um remédio dentro de um grande esquema de tratamento da violência.” E afirma que o governo do Rio de Janeiro comete um grave erro ao basear sua política de segurança nas UPPs.

HIPÓTESE 1 – AÇÃO PLANEJADA

Um sistema de inteligência capacitado deveria ser capaz de identificar uma movimentação de criminosos como a que aconteceu na manhã de sábado. Porque para chamar todo mundo, arrumar esse monte de veículos, é preciso uma logística que despertaria a atenção de qualquer setor sensível de inteligência. A hipótese de uma ação planejada não é totalmente afastada. Mas a polícia só reconhecerá isso em último caso. Porque se for verdade foi uma ação totalmente desastrosa, incompetente, de pessoal despreparado para agir nesse tipo de situação.

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HIPÓTESE 2 – CONFRONTO AO ACASO

A polícia tem o compromisso de não dar tiro no cidadão. Mas o bandido não tem. Por isso, não pode existir na polícia a ideia de confronto aberto em áreas habitadas. A polícia só atira quando há uma evidência de que uma bala vá atingir uma pessoa: o próprio policial ou um terceiro.

Nesse caso, pelo menos 30 bandidos fugiram (e dez foram rendidos depois de invadir o hotel InterContinental). Teria sido melhor deixar fugir os 40 de uma vez, para evitar exposição da população a risco. Comandei policiamento durante muito tempo, e tinha uma orientação muita clara: deixar fuigir é opção operacional. Ah, mas o bandido está atirando. Se a polícia atirar, só vai continuar.

O que a polícia tem que fazer é acompanhar e, com uma quantidade adequada de homens, cercar e forçar os criminosos a se entregar. Se não for possível agir desta forma, a fuga é opção. Não existe isso de impedir a fuga a qualquer preço, incluindo vítimas inocentes num tiroteio.

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Essas armas, fuzil, metralhadora, têm alcance de dois quilômetros, têm uma penetração infernal. Balas que podem atingir pessoas longe dali. Polícia não dá tiro a esmo. Ali, no caso, foi a esmo: contra criminosos, em locais em que a população estava exposta.

O RESGATE DOS REFÉNS: A polícia só agiu bem quando os bandidos estavam confinados no hotel. Isso é de praxe: cercar, negociar, prender. Em 99% das vezes, eles se entregam. Não há nenhum heroísmo policial nisso.

COPA: Com relação à Copa, o problema é muito mais amplo. Ultimamente, a gente só tem ouvido o discurso da UPP. Mas a UPP é um remédio dentro de um grande esquema de tratamento da violência. Ela não pode ser entendida como o principal. Afinal de contas, no início do governo Sérgio Cabral, o principal foi o enfrentamento. Depois, foi mudando. E agora a UPP parece uma solução. Não é.

Até porque a previsão de UPP para locais importantíssimos como a Rocinha e o Alemão é para daqui a dois e até quatro anos. Que programa de segurança é esse que está só baseado em UPP? E o resto? Muito antes de 2014 deverá ter uma estrutura de segurança que contemple não só algumas das favelas mais complicadas do Rio, mas como todo o estado. São 180 000 pessoas que vivem em área pacificada. E os outros 16 milhões?

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GARGALO: Fala-se que para fazer o resto (das UPPs) precisaria de mais 12.500 PMs. Se até 2016 devem se aposentar uns 8 000 policiais no Rio, estamos falando de uns 20.000 policiais. O Rio vai demorar 10 anos para formar um contingente desse tamanho. O Rio não tem capacidade de formar bem mais do que 2 000 policiais por ano. É mais ou menos essa a capacidade que uma polícia tem de formação, em torno de 5% a, no máximo, 6% do seu efetivo por ano. Normalmente, se aposentam 3% por ano. Mal dá para repor esses 3% e ainda fazer outros tantos.

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