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Enquanto Lula procura Centrão, petista culpa o Centrão por “roubos”

Ex-ministro de Dilma reconheceu a “aparente contradição” de responsabilizar o Centrão por corrupção e buscar pontes com legendas fisiológicas

Por Rafael Moraes Moura Atualizado em 26 jun 2021, 13h31 - Publicado em 26 jun 2021, 10h05

Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito uma série de articulações nos bastidores para se aproximar de lideranças do Centrão e costurar alianças na disputa pelo Palácio do Planalto, o ex-chefe de gabinete do petista e ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, coloca na conta dessas legendas a maior parte da culpa pelos escândalos de corrupção que abalaram os governos do PT. Em entrevista a VEJA, Carvalho fez uma (quase) autocrítica: admitiu que petistas se corromperam e que houve desvios nas gestões petistas, mas blindou Lula e responsabilizou antigos aliados do Centrão por desvios na administração pública.

“Houve petistas que se corromperam? Houve. Houve aliados nossos que se corromperam? Houve. Se você considerar bem tudo que houve na Petrobras, nos processos todos, a imensa maioria dos autores desses roubos, desses problemas, são aqueles que continuam inclusive no governo Bolsonaro. São os mesmos partidos que continuam lá, do Centrão. Do Centrão e daqueles que nós nomeamos. Geddel Vieira Lima foi nomeado por nós”, alfinetou Carvalho. Geddel, então do MDB, foi ministro da Integração Nacional no governo Lula e vice-presidente da Caixa na era Dilma, mas entrou para o folclore político popular por conta de uma passagem mais marcante na sua biografia. Em 2017, foram encontradas malas com R$ 51 milhões em um apartamento em Salvador, na maior apreensão de dinheiro vivo já feita na história da PF. O STF o condenou a 14 anos e 10 meses de prisão, período superior aos governos Lula e Dilma somados.

A VEJA, Carvalho reconheceu a “aparente contradição” de culpar o Centrão — grupo  de partidos marcado  pelo fisiologismo que atualmente apoia o presidente Jair Bolsonaro –, ao mesmo tempo em que o PT busca uma reaproximação com essas legendas na formação de alianças em torno da candidatura de Lula. O ex-presidente da República já conversou, por exemplo, com a senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO), uma das principais vozes da bancada ruralista — e ex-ministra da Agricultura do governo Dilma. Também se reuniu com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que está na órbita do Centrão. Lula ainda tem conversado com caciques do MDB, como o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid que está na linha de frente contra o governo Bolsonaro.

“O que ocorre é que o agravamento da realidade brasileira se deu de tal modo, a prática da morte, da destruição do País levou a tal ponto e a consciência de que a reversão desse quadro de morte não se dará apenas pelas forças de centro-esquerda, que nos leva a essa situação, essa situação nos obriga a fazer esse tipo de diálogo e de debate”, justifica Carvalho sobre a aproximação com o Centrão e antigos aliados. “Quando eu falo que a gente tem de juntar o centro democrático, não é necessariamente porque nós queremos fazer uma aliança estratégica com esse centro democrático. Sabemos as nossas diferenças, não estão esquecidas. Mas você precisa, nesse caso, de um processo de transição, onde para vencer essa barreira, você precisa se juntar com todos aqueles que estão dispostos a enfrentar o fascismo. Há momentos na história, muitos momentos na História, em que você tem de juntar todos os que estão contra o mal maior.”

Abalado pelo esquema revelado pela Lava-Jato, o PT saiu enfraquecido da disputa municipal de 2020 – no pior resultado da sua história, a sigla não venceu em nenhuma capital. O recado das ruas e das urnas já havia sido duro em 2016, quando a legenda perdeu mais de 60% das prefeituras que comandava. Agora, uma série de fatores reposicionaram o partido no tabuleiro político, devolvendo, por ora, o favoritismo eleitoral a Lula e seus correligionários. A pandemia da Covid-19 e a desastrosa resposta de Bolsonaro à maior crise sanitária da História do País fizeram desmoronar a popularidade do presidente.

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Impedido de disputar as últimas eleições presidenciais por ser ficha-suja, Lula voltou a ficar elegível após o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubar as suas condenações impostas pela Lava-Jato e declarar a parcialidade do seu principal algoz, o ex-juiz federal Sérgio Moro. O entendimento do STF não absolveu o ex-presidente das suas acusações, já que os casos vão ganhar uma “segunda vida” e ainda serão analisados pela Justiça Federal do Distrito Federal, mas o tribunal abriu caminho para o retorno do ex-mandatário ao Planalto e deu munição à narrativa petista de que seu grande líder foi alvo de perseguição judicial. Em suma, o STF, a Covid-19 e a incompetência de Bolsonaro lançaram uma série de incertezas sobre a disputa de 2022, reabilitando Lula.

Para Gilberto Carvalho, o “desastre” do governo Bolsonaro é de tal ordem que muitos daqueles que abraçaram Bolsonaro na campanha de 2018 estão arrependidos e não deixam de pensar em buscar alternativas. “Não sei se o Lira (presidente da Câmara) e o Centrão ficam com o Bolsonaro até o final. A avidez de poder do Centrão não sei se será satisfeita pelo Bolsonaro até o final do governo dele”, cutucou. “O momento brasileiro e a figura do Bolsonaro são tão imprevisíveis que tudo pode acontecer. Nada é descartável. Seria uma irresponsabilidade eu dizer agora que está dado que o segundo turno vai ser Lula e Bolsonaro.”

As lideranças do Centrão ditam as cartas no Congresso e tiveram papel-chave no impeachment de Dilma Rousseff, mas as cicatrizes do PT — que adora chamar seus adversários de “golpistas” — já parecem ter sido cicatrizadas. Procurada pela reportagem, a defesa de Geddel não se manifestou. VEJA também entrou em contato com Lira e outras lideranças do Centrão, mas ninguém quis rebater publicamente as declarações de Gilberto Carvalho. Até porque 2022 já está logo ali e nunca se sabe em qual palanque o Centrão vai dar as caras no final das contas.

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