Empréstimo de Bumlai foi quitado com contrato da Petrobras, diz MP
Pecuarista amigo de Lula foi preso na 21ª fase da Operação Lava Jato
Os procuradores que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato afirmaram nesta terça-feira que empréstimos concedidos pelo Banco Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram pagos com contratos da Petrobras. A 21ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira, tem como alvo principal o pecuarista: ele foi preso preventivamente, seus filhos foram levados coercitivamente para depor na PF e uma devassa foi feita em seus endereços.
Segundo o MP, a nova fase, batizada de Passe Livre, teve início com o depoimento de delação premiada de Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras. Nele, o ex-funcionário afirmou que foi procurado pelo ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para conseguir um contrato ao grupo Schahin de operação do navio sonda Vitória 10.000. “Isso se referia a uma dívida que o PT tinha com o grupo. Um empréstimo que não havia sido pago”, disse, com base no depoimento dos delatores, o procurador do Ministério Público Federal Diogo Castor de Mattos.
A partir disso, os investigadores fizeram um pente fino para descobrir a que operação financeira se referia o delator. Eles chegaram, então, a um empréstimo de 12 milhões de reais contraído pelo pecuarista junto ao Banco Schahin, em 2004. Segundo os investigadores, a ilegalidade estaria justamente no fato de o empréstimo nunca ter sido quitado, o que indica que ele foi usado como moeda de troca para a empresa obter contratos da Petrobras.
As denúcias de Musa foram corroboradas pelas delações do lobista Fernando Soares, o Baiano, e do empresário Salim Schahin. “[Os depoimentos] nos trouxeram mais subsídios de que o empréstimo foi quitado mediante contratação do navio sonda Vitória”, disse Mattos. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima lembrou que esse modus operandi remete ao esquema do mensalão. “Esse empréstimo já era noticiado com [os depoimentos de] Marcos Valério no caso do mensalão. Nós vemos que há uma continuidade”, afirmou Lima. O procurador também disse que foi montado um “complexo esquema” para conferir ares de legalidade à operação, fazendo de conta que o empréstimo havia sido pago. Num desses estrategemas, Bumlai teria simulado a venda de embriões de boi a fazendas do Grupo Shahim.
Os investigadores também relataram estar investigando uma série de empréstimos envolvendo o pecuarista, alguns concedidos pelo BNDES a empresas de seus filhos. “Existe claramente uma veiculação política nesse primeiro empréstimo [o de 12 milhões]. A ordem que chegou aos técnicos da Petrobras era de que veio uma determinação de cima para que se resolvesse o problema da Schahin. Estamos investigando se os outros empréstimos também têm motivação política”, afirmou Lima.
Perguntado sobre o possível envolvimento de Lula, o procurador respondeu que ainda não há nenhuma comprovação de participação do ex-presidente. “Existem notícias de que a ordem teria vindo de cima, mas essa é uma afirnação que não tem conteúdo efetivo”, disse.
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