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Empreiteiro estima ter pago R$ 20 mi em propina ao PT

Segundo Ricardo Pessoa, houve cerca de seis reuniões com o ex-tesoureuro petista João Vaccari Neto para que ele recebesse a propina

Por Laryssa Borges, de Brasília, e Carolina Farina
9 nov 2015, 19h18

Dono da UTC Engenharia, o empreiteiro Ricardo Pessoa disse nesta segunda-feira ao juiz Sergio Moro que deve ter pago pouco mais de 20 milhões de reais em propina ao Partido dos Trabalhadores (PT) entre 2004 e 2014, sendo a maior parte – 15,51 milhões de reais – por meio de doações oficiais à sigla em períodos fora das eleições. Pessoa admitiu que 3,921 milhões de reais foram repassados em dinheiro vivo ao então tesoureiro João Vaccari Neto, já condenado no escândalo do petrolão, e disse ter procurado o petista a pedido do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque.

Ao juiz Sergio Moro, Ricardo Pessoa disse se recordar de ter pago 15,51 milhões de reais em propina ao PT a partir de fraudes em contratos envolvendo a Petrobras, mas confrontado com a informação de que, em seus acordos de delação premiada havia projetado cerca de 20 milhões de reais em dinheiro sujo, retificou: “Foram 3,921 milhões de reais em espécie pagas a Vaccari. Não são doações oficiais, são caixa dois. Me recordo de 15,510 milhões de reais [em propina para o PT], mas pode ser que tinha outras obras que somem até 20 [milhões de reais]. Deve ser 15 [milhões de reais] mais 3 [milhões de reais]. A maior parte paguei por doações oficiais”, relatou ele.

Segundo Ricardo Pessoa, a despeito das propinas, o repasse de recursos a políticos na época de campanha eram doações legítimas, e não dinheiro sujo. “Na época de campanha, as contribuições de campanha não tinham nada a ver com propina, mas o restante não. Era como se pagava a comissão da propina da Petrobras”, declarou. De acordo com ele, as doações em propina para o PT, por exemplo, não eram para políticos específicos. “Normalmente era para o diretório nacional”.

Segundo o empreiteiro, houve cerca de seis reuniões com João Vaccari para que o ex-tesoureiro recebesse dinheiro. Nos encontros, normalmente aos sábados, Ricardo Pessoa destacou que o petista “sabia mentalmente” cada percentual do dinheiro a ser embolsado pelo partido. “Certeza [que] Ele já sabia qual era a obra e já sabia o que tinha que acertar. Vaccari nunca levou papéis escritos. Depois que ele conversava, os rabiscos que ele fazia ele destruía”, detalhou.

O delator voltou a afirmar que Vaccari captava propina por volta de 2007, “como se fosse tesoureiro”, mesmo sem ocupar oficialmente a Secretaria de Finan��as do PT, e explicou que o ex-diretor Renato Duque o procurava para perguntar “se estava tudo certo”, “se estava andando” o pagamento de dinheiro sujo ao PT. “No caso da Diretoria de Serviços [comandada por Duque], metade era discutida com [Pedro] Barusco [ex-gerente de Serviços] e metade com Vaccari. Era sempre um compromisso a ser saldado”, disse.

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José Dirceu – No esquema de pagamento de propina, o dono da UTC Engenharia admitiu que parte do dinheiro que seria repassado a Vaccari terminou nos bolsos do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, contrato por ele para prestar serviços de consultoria e prospecção de negócios. Segundo o delator, a UTC celebrou com a JD Consultoria um contrato de um ano no valor de 1,480 milhões de reais em 2012, mas depois aceitou pagar mais dois aditivos mesmo não tendo conseguido nenhum contrato novo depois da suposta ingerência de Dirceu. Em um dos aditivos, no valor de 840.000 reais, Pessoa afirmou que pagou “por mera liberalidade” e sem nenhum serviço efetivado. Nesta época, José Dirceu já estava preso por conta do julgamento do mensalão e o irmão dele, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, alegou que eles passavam por dificuldades financeiras.

Camargo Corrêa – Também ouvidos por Sérgio Moro, o ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Santos Avancini e o ex-vice-presidente Eduardo Hermelino Leite confirmaram que a empreiteira pagava propina às diretorias de Serviços e Abastecimento da Petrobras. De acordo com Leite, 1% do valor dos contratos era destinado a cada uma das diretorias em decorrência de um “acordo de mercado” para que tivessem sucesso nas licitações. Segundo o delator, a maior parte do dinheiro era destinada aos partidos que controlavam as diretorias: o PP, no caso de Abastecimento, e o PT, que colocou Renato Duque no cargo.

Leite contou que certa vez o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu uma reunião com ele na qual cobrou 10 milhões de reais que a empreiteira devia em propina para o partido. Vaccari, segundo o ex-vice-presidente da Camargo, afirmou que sabia das dificuldades da empresa em efetuar o pagamento, justamente por causa do volume do dinheiro. Foi então que o petista sugeriu como ‘solução’ que o repasse fosse feito em forma de doações de campanha ao partido. O encontro se deu em 2010, de acordo com o delator. Leite afirma, porém, que a Camargo acabou optando por não efetuar o pagamento dessa forma.

Já Avancini contou que a assinatura dos contratos de obras cuja licitação a Camargo havia ganho eram ‘dificultados’ quando a empreiteira atrasava os repasses de propina. “Eles tinham um poder de pressão”, relatou. Sobre os contratos de mais de 800.000 reais entre a empreiteira e a JD Consultoria, do ex-ministro José Dirceu, Avancini afirmou que, embora sua assinatura figure no documento, não sabe que tipo de serviço o petista prestou para a empresa. “Nem sei se os valores foram pagos, mas me falaram que sim”, afirmou.

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