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Empreiteira articulou lobby de Lula com o ‘amigo’ Maduro

E-mails entre executivos indicam que possível lobby de Lula poderia rever posição 'distante' da presidente Dilma na Venezuela

Por Carolina Farina e Laryssa Borges, de Brasília
1 out 2015, 17h28

Novos documentos em posse dos investigadores da Operação Lava Jato apontam que o mais famoso “caixeiro-viajante” do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, não era procurado para fazer lobby no exterior apenas pela empreiteira Odebrecht. A Polícia Federal encontrou uma troca de e-mails entre executivos da Andrade Gutierrez, na qual eles afirmam que a empresa contava com as “habilidades” do petista para conseguir contratos na Venezuela, comandada pelo bolivariano Nicolás Maduro.

Preocupado com o futuro dos contratos da empresa no vizinho sul-americano, o executivo Sérgio Lins Andrade encaminhou, em março de 2014, um e-mail ao presidente afastado da empreiteira, Otávio Marques de Azevedo, e a outros colegas. A mensagem levava anexada uma reprodução de jornal com a notícia: “Dilma quer distância da Venezuela”. Lins Andrade avaliava que a posição da presidente, considerada mais refratária aos lobbies praticados pelo antecessor, poderia colocar em risco os negócios da empresa.

Em resposta, o executivo Flávio Gomes Machado Filho afirma que a Andrade deve, de fato, tomar cuidado com as atitudes de Dilma em relação ao país vizinho. Ele diz ainda que o presidente venezuelano Nicolás Maduro estaria incomodado com a petista. E sugere: pedir a ajuda a Lula, a quem Maduro considera um “amigo”, escreveu o executivo. “Nosso ponto focal de apoio tem que ser o ex-presidente Lula”, afirma. Machado Filho decide, então, agendar um encontro com Lula para traçar a estratégia da Andrade Gutierrez na Venezuela e selar o apoio do ex-presidente no país. Dias antes da troca de e-mails entre os executivos da Andrade, o ex-presidente Lula esteve em Caracas. Em fevereiro daquele ano, foi além: gravou um vídeo em apoio à candidatura de Nicolás Maduro à Presidência da Venezuela, exibido em cadeia nacional no país.

Equador – Em outra evidência de como as empreiteiras lidavam com Lula, os executivos Paulo Monteiro e Ricardo Sena discutem ainda em 2008 a importância de contar com o apoio do petista para conseguir negociar um contrato da Andrade Gutierrez no Equador. Apostam na proximidade do petista com o presidente Rafael Corrêa. Ricardo Sena resume: “O ambiente está muito hostil a nós e precisamos de algo que venha do Lula”. Lula, porém, não viajou para o Equador naquele ano.

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Em uma sucessão de e-mails trocados entre os dois, os interlocutores analisam ainda conselhos do executivo da Andrade Gutierrez Maurício Ricupero, segundo os quais, para conseguir negócios, a empresa deveria pedir a ajuda de Lula e depois recorrer ao então ministro de Minas e Petróleo do Equador Derlis Palácios – retratada pelos executivos como “superministro”.

Documentos – Desde que os executivos da Andrade foram pegos na Lava Jato, a Política Federal analisa um calhamaço de e-mails e documentos apreendidos por ordem do juiz Sergio Moro. Nas inúmeras mensagens, há referências à compra de carros de luxo, agendamento de jantares e conversas prosaicas, mas também indicativos de como a empresa atuava para conseguir negócios e como se articulou para conquistar contratos fraudados da Petrobras.

Segundo a PF, parte das mensagens trocadas entre executivos da empreiteira destacam, por exemplo, como as concorrentes Queiroz Galvão e Odebrecht facilitaram o acesso da Andrade em obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Foram apreendidas também tabelas com divisões por empresa, nome do projeto e valor de propina a ser pagada, incluindo repasses a lobistas e aos então dirigentes da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco.

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O presidente afastado da construtora, Otávio Marques de Azevedo, guardava cada depoimento dos delatores da Lava Jato. Foram encontrados inúmeros arquivos com as delações premiadas dos executivos Dalton Avancini e Eduardo Leite, da Camargo Correa, e um farto material sobre a Operação Castelo de Areia, que investigou um esquema de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes financeiros e repasses ilícitos para políticos envolvendo empreiteiros da Camargo, mas que acabou anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

No material e nas mensagens trocadas pelo executivo Elton Negrão, também preso na Lava Jato, o empresário comenta, ainda em novembro de 2014, os desdobramentos das investigações sobre o petrolão. Naquela época, a Andrade Gutierrez ainda não tinha tido a cúpula presa por suspeitas de corrupção, e Elton comenta o escândalo com o interlocutor identificado como André Pereira: “o povo do PT abusou”.

A cúpula da Andrade foi presa na 14ª fase da Operação Lava Jato, que levou para a cadeia também empreiteiros da Odebrecht, entre os quais o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht. Segundo o Ministério Público Federal, a Andrade Gutierrez utilizou práticas de corrupção e pagamento de propina como um verdadeiro “modelo de negócio”. De acordo com os procuradores da força-tarefa do petrolão, a construtora tem executivos que cometem crimes “de modo profissional”. Nesta categoria, o MP elenca, por exemplo, o presidente afastado da companhia, Otávio Marques de Azevedo.

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O envolvimento da Andrade Gutierrez na Lava Jato não se resume apenas ao esquema de fraudes na Petrobras. Segundo as investigações, a empreiteira teria cometido irregularidades também no eletrolão. Depoimentos de delação premiada do executivo Dalton Avancini, que integrava os quadros da Camargo Correa e que concordou em detalhar o esquema de corrupção na Petrobras e em estatais revelam o pagamento de propina em Angra 3.

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