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Em SP, PT defende Dilma e esquece candidatura de Padilha

Liderado por Lula, partido diz que Aécio Neves e o PSDB destilam "ódio" e cobra solidariedade contra xingamentos à presidente na abertura da Copa

Por Felipe Frazão 15 jun 2014, 19h50

“Estamos fazendo uma campanha atípica e perigosa”, diz Lula

O PT pretendia fazer neste domingo um encontro estadual em São Paulo para chancelar a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao governo do Estado. Porém, a convenção serviu menos para confirmar o nome de Padilha e mais para tentar conter um problema nacional do PT: o desgaste e a real ameaça à reeleição da presidente Dilma Rousseff. O que se viu foi um ato da cúpula partidária em defesa do governo Dilma, evidenciado por três assuntos que permearam os discursos de praticamente todos os petistas: o repúdio aos xingamentos à presidente na abertura da Copa do Mundo, o revide ao discurso do “tsunami” do presidenciável tucano Aécio Neves, e a manifestação de apoio ao decreto bolivariano de Dilma, que instituiu conselhos populares no Executivo e foi contestado no Congresso Nacional.

Liderada pelo ex-presidente Lula, a reação petista resgatou o discurso rancoroso “nós contra eles”, que tenta associar o partido a classes sociais mais baixas – e ao mesmo distanciar o PSDB desse eleitorado; leia-se “o povo” (e o PT) versus “a elite” (e o PSDB). Lula sintetizou o contra-ataque: “Estamos fazendo uma campanha atípica e perigosa. Se em 2002 tivemos de fazer uma campanha para a esperança vencer o medo, agora temos de fazer uma campanha para a esperança vencer o ódio”. No ato político, Lula conclamou os militantes a “levantarem a cabeça” e a travarem um debate “ideológico” na campanha eleitoral – e não falarem apenas sobre propostas. As propostas, aliás, ficaram restritas a uma longa fala de Padilha. “Não é um momento calmo nem tranquilo. Temos que ir para um embate, talvez mais o duro da nossa trajetória de petistas”, disse a ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT).

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A campanha de Dilma decidiu associar Aécio a palavras como “ira” e “ódio” um dia depois de o tucano afirmar, na convenção que oficializou sua candidatura à Presidência, que “um tsunami varreria o PT do governo federal”. Lula disse que ainda quer entender o motivo de o PT ser associado a “uma doença e a um mal para o país”. Para ele, a criação de mecanismos de participação popular em prefeituras está na origem “da raiva contra o PT”. Lula rebateu a declaração de Aécio: “Ontem, o adversário da presidente Dilma dizia que ‘um tsunami vai varrer o PT do Brasil’. Ora, por que eles não colocam o tsunami para trazer água de volta ao Sistema Cantareira?” Lula também atacou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), fiador da campanha de Aécio. “Ainda ontem, na convenção deles, eu vi o ex-presidente falar na maior desfaçatez que ‘é preciso acabar com a corrupção’. Ele devia dizer quem é que estabeleceu a promiscuidade entre o Poder Executivo e o Congresso Nacional, quando ele começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição, em 1996”. Sem citar os mensaleiros, Lula declarou que correligionários que erram precisam ser punidos pelo próprio partido.

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Alexandre Padilha e Lula durante o Encontro Estadual do PT de São Paulo. O evento marcou o lançamento das pré-candidaturas do ex-ministro da Saúde ao Governo Paulista e de Eduardo Suplicy ao Senado
Alexandre Padilha e Lula durante o Encontro Estadual do PT de São Paulo. O evento marcou o lançamento das pré-candidaturas do ex-ministro da Saúde ao Governo Paulista e de Eduardo Suplicy ao Senado (VEJA)

O tom do discurso de Lula mostrou o grau de preocupação com o desgaste da imagem do partido após o processo do mensalão e com a impopularidade de Dilma, registrada em recentes pesquisas eleitorais pela queda da intenção de voto na presidente e a guinada de Aécio e Eduardo Campos (PSB). O PT também avalia danos eleitorais neste ano por causa da baixa aprovação do prefeito Fernando Haddad na capital paulista. Padilha tem apenas 3% das intenções de voto, atrás de Paulo Skaf (PMDB) com 21% e de Geraldo Alckmin (PSDB) com 44%. Em São Paulo, Dilma seria derrotada em um eventual segundo turno, tanto por Aécio quanto por Campos, segundo a última pesquisa Datafolha. Apesar disso, a convenção foi marcada pela ausência da presidente, comunicada de última hora à campanha de Padilha. O presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão, disse que ela desmarcou a ida “por motivo de saúde” – a presidente havia agendado também presença na abertura do Museu Pelé, em Santos (SP), mas ficou em Brasília para receber em jantar a chancelar da Alemanha, Ângela Merkel.

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Em recado gravado em vídeo, Dilma disse apenas que “gostaria de estar presente, mas que na vida nem sempre a gente faz o que quer”. Dilma alfinetou o governador Geraldo Alckmin (PSDB), destilou críticas à oposição e disse que os conselhos populares não substituem o Congresso nem o Judiciário. “São Paulo não pode mais confiar em volume morto. Você, Padilha, é o volume vivo de tudo o que São Paulo precisa”, disse a presidente, em referência ao reservatório de água usado pelo governo paulista para conter a crise de água no Sistema Cantareira. E emendou: “Representamos o país em que mulheres, negros, jovens e crianças, da maioria mais pobre, passaram a ter direitos que sempre lhes foram negados. É isso que eles vaiam, xingam e não suportam. Nossos adversários lutam contra a regulamentação da participação da sociedade civil na construção das políticas públicas do meu governo, contra os conselhos. Nossos adversários se dizem democratas, mas a democracia que eles defendem não tem povo.”

O prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), que também amarga impopularidade após o primeiro ano de mandato, cobrou solidariedade de oposicionistas por causa das vaias e xingamentos a Dilma. Haddad disse que “desde a abertura da Copa, está engasgado”. “Com toda delicadeza, pode ser que nas fileiras do PSDB tenha alguém tão digno quanto Dilma Rousseff. Mas eu posso assegurar que não tem ninguém mais digno do que Dilma Rousseff. O mínimo que a política com P maiúsculo deveria exigir era um gesto de solidariedade, que não teve ainda, dos candidatos que se opõem a ela e dos ex-presidentes da República, em repúdio ao que aconteceu na abertura da Copa do Mundo na presença de dez chefes de Estado”.

O senador Eduardo Suplicy, cuja candidatura também foi confirmada em votação simbólica, foi o único a lembrar dos petistas condenados no julgamento do mensalão. “Estão faltando aqui quatro pessoas que nos próximos dias vou visitar. Vou dizer ao José Dirceu, ao José Genoino, ao Delúbio Soares e ao João Paulo Cunha da tão bonita festa da convenção e de como estamos sempre pensando nesses companheiros pela contribuição ao nosso partido”, disse o senador. “Os erros fazem com que todos nós sejamos atingidos por ofensas”, comentou ao dizer que também ouviu hostilidades ao PT.

Propostas – O ex-ministro Alexandre Padilha fez o mais longo discurso do dia, por cerca de uma hora, dedicado a apresentar promessas de campanha nas áreas de Educação, Segurança e Transporte. O petista disse que acabará com a aprovação automática em escolas estaduais e que implantará banda larga de internet em todas as unidades, além de disponibilizar matrículas eletrônicas. Em aceno à comunidade acadêmica, disse que “nunca vai impor à USP, como fez o governo tucano, um reitor que não tenha sido uma escolha da comunidade”. Padilha afirmou que solicitará apoio da Polícia Federal para “sufocar o fluxo financeiro de organizações criminosas” e que isolará chefes e bandidos perigosos nas cadeias. O petista também afirmou que fará funcionar bloqueadores de celular nas penitenciárias. Ele prometeu criar um Bilhete Único Metropolitano para as regiões metropolitanas da capital, do litoral e do interior paulista. “Um estado locomotiva não pode ter o transporte ferroviário como algo secundário. São Paulo não pode andar apenas sobre pneus e pagando os pedágios mais caros do Brasil. São Paulo tem de andar sobre trilhos, em cima dos rios e do mar”, afirmou.

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