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Em novo depoimento, delator volta a envolver Dirceu no petrolão

Ao juiz Sergio Moro, o lobista Fernando Moura disse que mentiu em depoimento do dia 22 de janeiro ao negar a participação do ex-ministro no esquema; ele alegou que havia falado sob ameaça

Por Da Redação 3 fev 2016, 19h10

O lobista Fernando Antônio Moura reiterou ao juiz Sergio Moro que mentiu no depoimento que deu a ele no dia 22 de janeiro, voltando a implicar o ex-ministro José Dirceu, de quem diz ser amigo, na indicação de Renato Duque à diretoria de Serviços da Petrobras. O novo depoimento foi prestado nesta quarta-feira. No interrogatório, Moura deu detalhes de como Dirceu indicou Duque. Segundo ele, o diretor era responsável por recolher propina para o caixa dos diretórios nacional e paulista do PT – e Dirceu sabia disso.

Diante das idas e vindas do delator, o juiz Sergio Moro iniciou o interrogatório em tom duro. “Eu não entendi porque o senhor falou uma coisa uma hora, depois falou outra coisa outra hora, agora fala outra coisa. Me escapa a compreensão.” Lembrado de que não pode mentir na delação, sob o risco de responder criminalmente por isso e perder os benefícios da colaboração, Moura explicou que mudou o depoimento na última hora por ter sido ameaçado. Segundo ele, um desconhecido o abordou em Vinhedo (SP), perguntando sobre os seus netos.

“Num dia anterior ao meu depoimento, ao sair do despachante, eu estava indo para a farmácia, uma pessoa com uma blusa clara e calça jeans me perguntou: ‘Como é que estão os seus netos no sul?'”.

Aparentemente intrigado, Moro não comprou de primeira a história da intimidação: “O senhor não parecia uma pessoa ameaçada naquela ocasião”. O delator, então, explicou que ele havia se preparado para mentir e que o fez pensando em sua família. Depois, desfiou pedidos de desculpas ao magistrado. “O senhor compreenda bem que a sua credibilidade ficou bastante complicada em decorrência desses acontecimentos”, disse Moro, que ainda vai avaliar se mantém ou não a validade da delação. O lobista é réu no processo junto com Dirceu por suspeitas de lavagem e ocultação de bens e dinheiro oriundo de corrupção.

Feitas as considerações, o delator confirmou o que relatou inicialmente à força-tarefa da Operação Lava Jato. Segundo ele, Dirceu 1) indicou Renato Duque para a diretoria da Petrobras, 2) recebia dinheiro de propina paga pelas empreiteiras para campanhas do seu núcleo político, e 3) o havia aconselhado a sair do país quando estourou o escândalo do mensalão. Moura disse que morou em Paris, Miami e Nova York, entre 2005 e 2013. Segundo ele, na época, tinha medo de ser envolvido no mensalão por causa da sua participação efetiva no esquema de corrupção na Petrobras.

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Moura descreveu a cena em que Dirceu, então ministro da Casa Civil do governo Lula, informou-lhe sobre a nomeação de Duque. Segundo ele, o episódio aconteceu em uma festa na casa da ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, no dia 1º de fevereiro de 2003, para a qual havia sido convidado por Dirceu. Ele chegou atrasado e, quando se aproximou do ex-ministro, para cumprimentá-lo, recebeu a notícia: “Quando eu fui abraçá-lo, ele me disse: ‘Nomeei hoje o Duque’. Eu aproveitei, abracei e dei um beijo no rosto dele”, contou. Foi Moura quem havia pedido a indicação de Duque ao cargo – por isso, a euforia.

Ele continuou o depoimento, dizendo que a indicação foi fechada em uma reunião numa sala próxima ao gabinete de Dirceu na Casa Civil com nomes de peso do governo Lula – entre eles, a então ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff, o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, o ex-secretário de comunicação social Luiz Gushiken, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-secretário geral do PT Silvio Pereira. O motivo do encontro: discutir nomes para a diretoria da Petrobras. Segundo Moura, ele tomou conhecimento dessa reunião por Silvio Pereira, de quem era próximo e que dividia com ele os ganhos do petrolão.

Em seguida, o delator explica como se dava o repasse da propina. Segundo ele, eram negociadas comissões de 3% em cima de contratos com as empreiteiras UTC, Engevix, GDK e Hope relativos a obras da Petrobras, como plataformas e oleodutos. Ele relata que os 3% eram divididos em: 1% para o núcleo nacional do PT, que ficaria sob responsabilidade de Delúbio Soares e dos tesoureiros que o sucederiam; 1% para o núcleo do PT de São Paulo, que seria o “grupo político de Dirceu”; e 1% para a “companhia”, ou seja, Renato Duque e seus gerentes. Moura também ficava com um porcentual que variava dependendo do contrato. “O Silvio (Pereira) mesmo falou: ‘Olha esse dinheiro é do Zé Dirceu'”. Moro, então, o questiona: “O Silvio afirmou expressamente que o dinheiro era para o Dirceu?”, ao que ele responde: “Sim”.

Em seus depoimentos à Justiça, o ex-ministro, que foi condenado no mensalão, negou ter indicado Duque ao cargo e ter recebido propina de contratos da estatal.

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