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Em dia de jogo da Copa, Luiz Moura ignora regras e usa carro oficial

Suspenso do PT por ter participado de reunião com integrantes do PCC, deputado dirigiu veículo oficial com familiares no dia do jogo entre Brasil e Croácia – conduta proibida

Por Felipe Frazão 1 jul 2014, 09h59

Suspenso do PT após ter sido flagrado em reunião com dezoito criminosos do Primeiro Comando da Capital (PCC), em março, o deputado estadual Luiz Moura passou o mês de junho tentando se manter longe dos holofotes, mas não das condutas reprováveis. Ex-assaltante e ex-presidiário, Moura usou um carro oficial da Assembleia Legislativa para circular na região do Itaquerão em 12 de junho, horas antes do jogo de abertura da Copa do Mundo. A reportagem do site de VEJA flagrou o petista vestido com a camisa da seleção brasileira dirigindo o automóvel na Avenida Radial Leste, principal via de acesso ao estádio. Pelas regras do Legislativo paulista, deputados são proibidos de dirigir carros oficiais e só podem utilizá-los “no cumprimento de atividades parlamentares e protocolares”. Naquele dia, não havia agenda de trabalho na Assembleia Legislativa – era feriado em São Paulo. A mulher e a filha de Moura, vestida com uniforme da seleção, também estavam no carro, respectivamente no banco do carona e no assento de trás.

Procurado pela reportagem, o deputado disse que não tem “nada a declarar”. Mas as normas vigentes na Assembleia Legislativa indicam o contrário: o Ato 28/2001 da Mesa Diretora restringe a funcionários da Casa a responsabilidade de dirigir os automóveis da frota parlamentar, no caso de Moura, um Chevrolet Cruze preto de placa AL-67. Os carros têm de ser conduzidos por motoristas comissionados (agente de segurança parlamentar), policiais militares lotados na assessoria da Assembleia Legislativa ou, em caráter excepcional, por mecânicos (auxiliar legislativo de serviços operacionais).

O site de VEJA não conseguiu identificar se o petista levou a família para assistir ao jogo de abertura da Copa dentro do Itaquerão. O filho dele, porém, costuma se vangloriar nas redes sociais dizendo que “o pai tem passagem livre” no estádio. Os 94 deputados paulistas possuem carros de representação reservados a eles na garagem do Palácio 9 de Julho. Funcionários do Departamento de Serviços Gerais do Legislativo afirmam que os parlamentares costumam evitar estacionar os carros oficiais em locais que possam dar sinais de uso para fins particulares, por exemplo, shoppings e supermercados.

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O (explosivo) braço político do PT no mundo dos perueiros

Pouco antes de assumir o volante, Moura estava em um posto de gasolina na esquina das avenidas Radial Leste e Álvaro Ramos. Ele foi visto enquanto a reportagem acompanhava um protesto contra a realização da Copa no Brasil. O estabelecimento comercial chegou a ser invadido por black blocs que corriam de bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela Tropa de Choque da Polícia Militar para dispersar a correria na Radial Leste. A vidraça de uma bomba de gasolina e o bico injetor foram danificados por mascarados, segundo frentistas.

O carro de Moura estava estacionado em uma área reservada do posto. O deputado caminhava com liberdade na loja de conveniência, inclusive atrás do balcão, e era tratado por vendedores como se fosse o dono do estabelecimento. A empresa, no entanto, está registrada em nome de dois outros homens na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp). Luiz Moura é proprietário de ao menos cinco postos de gasolina na capital paulista e em Guarulhos (SP), registrados no seu nome e no de sua mulher. A filha e a mulher dele estavam dentro da loja de conveniência e organizavam produtos minutos depois da entrada dos mascarados. Segundo funcionários, após a invasão, os baderneiros correram para dentro da loja de conveniência e derrubaram produtos das prateleiras.

PCC – No início deste mês, a Comissão Executiva do PT paulista suspendeu Moura do partido por sessenta dias e negou a legenda para que ele disputasse a reeleição em outubro. O afastamento foi uma forma de o PT blindar a campanha do ex-ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao governo do Estado de vínculos com Luiz Moura. Ele havia sido encontrado pela Polícia Civil, em março, em uma reunião da qual participaram dezoito integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Os investigadores buscavam informações sobre a suposta ligação de perueiros e do crime organizado com ataques incendiários a ônibus na capital paulista. À época, motoristas e cobradores de ônibus faziam uma greve na capital paulista. Moura alegou em pronunciamento na Assembleia que tentava dissuadir os motoristas de lotações de aderir à paralisação. “Eu sou inocente. O que estão fazendo comigo e minha família é imoral. Estão querendo me atribuir coisas que não fiz”, disse na tribuna da Assembleia.

Luiz Moura foi assaltante e presidiário nos anos 1990. Ele fugiu da prisão antes de cumprir a pena e terminou por receber o perdão judicial, usando um atestado de pobreza. O deputado afirma “não ter vergonha do passado” e alega que se envolveu com o crime porque era usuário de drogas. Em 2006, ingressou no PT com ajuda do irmão, o vereador na capital paulista Senival Moura (PT), que controla uma importante base eleitoral entre os perueiros da cidade. Candidato pela primeira vez, Luiz Moura elegeu-se em 2010 com 104.705 votos – e expressiva votação nominal no bairro de Guaianases, no extremo leste. Ele é também conselheiro administrativo da Transcooper, uma das principais cooperativas de transporte da cidade. Senival preside o Sindilotação (entidade que representa os donos de micro-ônibus na região metropolitana). Ambos mantêm influência em nomeações políticas nas subprefeituras da região e na Secretaria Municipal de Transportes, comandada pelo aliado Jilmar Tatto (PT).

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