Em denúncia, Barbosa afirmou que Dirceu era ‘comandante supremo’ do mensalão
Relator do processo do mensalão disse, em 2007, que o ex-ministro "de tudo sabia"
“(Dirceu) Era o mentor e comandante supremo de toda a trama em que outros personagens faziam o papel de meros auxiliares”
Relator do mais grave escândalo político do governo Lula, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), já delineou, ainda em 2007, quando a Corte analisou o então inquérito do mensalão, o que ele acredita ser o papel do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu no esquema. “Dirceu de tudo sabia, e mais, mantinha contatos de alto nível com a cúpula da instituição financeira viabilizadora (Banco Rural) das transações espúrias fartamente documentadas nos autos”, resumiu o ministro na ocasião.
Embora em seu voto na aceitação da denúncia tenha ressalvado por diversas vezes de que, naquela fase, bastavam indícios de autoria, o magistrado constatou que o ex-todo-poderoso do governo Lula “era o mentor e comandante supremo de toda a trama em que outros personagens faziam o papel de meros auxiliares”.
A manifestação de Joaquim Barbosa, seguida pelos demais ministros do tribunal, culminou com a transformação de 40 denunciados em réus. Nesta quarta-feira, quando o STF começa a análise da culpabilidade de cada um deles, os magistrados vão avaliar se 38 políticos, empresários e dirigentes partidários integraram o que o Ministério Público classificou como uma “sofisticada organização criminosa”.
Desde 2007, quando o STF aceitou a denúncia da procuradoria-geral da República contra os mensaleiros, Barbosa tenta aplacar eventuais dúvidas quanto ao papel central desempenhado por José Dirceu e pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, no esquema do mensalão. Já naquela época ele rejeitou a tese de que as movimentações financeiras tinham como único objetivo o pagamento de dívidas de campanha.
“Por que essas reuniões sobre futuras campanhas petistas não se realizaram na sede do PT em São Paulo, mas sim em hotéis daquela cidade? O inusitado desta escolha desperta dúvida sobre o verdadeiro assunto que nelas se discutia”, asseverou em plenário na época.
“O recebimento de enormes quantias em dinheiro de um partido político (PT) por parlamentares de um outro partido político (PTB), de origem obscura e destino ignorado, não se justifica pela simples declaração de que o dinheiro é ‘para despesas de campanha'”, disse.
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Em seu voto na época, Joaquim Barbosa afirmou ainda que as provas constantes no inquérito que os acordos financeiros com os partidos aliados dependiam da autorização de Dirceu, o que tornaria evidente que o petista tinha responsabilidade sobre os crimes: “os elementos coligidos na fase investigatória estão a indicar que o modus operandi do repasse de recursos avençado entre PT e PL, PL e PTB não prescindia da ciência e do aval do denunciado José Dirceu”.
“Há indícios no sentido de que as grandes decisões políticas do Partido dos Trabalhadores eram todas avalizadas pelo denunciado José Dirceu, inclusive no que concerne a acordos político-financeiros com outros partidos”, completou o ministro.
O relator também apontou que, sob o comando de Dirceu, Delúbio era, de forma inconteste, o responsável por distribuir a partidos aliados os recursos arrecadados por meio do valerioduto. “Está clara a descrição da conduta do acusado Delúbio Soares, que seria justamente aquele que determinava, para Marcos Valério e seus sócios, a quais pessoas os recursos deveriam ser distribuídos”, afirmou Barbosa em 2007. Na fase de aceitação da denúncia, o ministro colocou em xeque a tese de que o publicitário Marcos Valério não negociava os detalhes do esquema criminoso com Dirceu.
“Ofende o senso comum conferir credibilidade à tese de que um homem como Marcos Valério tenha se dirigido diversas vezes à ante-sala de Dirceu pura e simplesmente para trocar algumas palavras com sua secretária”, disse. “O acusado Marcos Valério foi o grande pivô de toda essa sistemática de transferência ilegal de recursos financeiros ao PT e a parlamentares”, resumiu Joaquim Barbosa.