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Eleições 2018: o ‘namoro’ dos pré-candidatos pelo tempo de TV

A um mês do fim das convenções partidárias, candidatos e legendas 'flertam' intensamente de olho em quase duas horas diárias de propaganda eleitoral

Por Guilherme Venaglia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jul 2018, 15h20 - Publicado em 6 jul 2018, 06h00

“Marina Silva amava PSB que amava Ciro Gomes
que amava DEM que amava PR que amava Jair Bolsonaro
que não amava ninguém”.

É provável que os nomes citados acima não gostem de estar em uma versão de um poema intitulado Quadrilha, como é o clássico do escritor Carlos Drummond de Andrade, mas a verdade é que nas últimas semanas o flerte entre pré-candidatos e partidos viu muitos amores e poucos casamentos. No próximo mês, daqui até o último dia das convenções partidárias para as eleições de 2018, em 5 de agosto, saímos da poesia modernista e começamos um reality show, um “namoro na TV”, ou melhor, um flerte pelo precioso tempo de rádio e televisão que vem embutido nas alianças.

Apesar de muito ter mudado, com as redes sociais ganhando cada vez mais relevância, os principais pré-candidatos à Presidência dão sinais cada vez mais claros de que ainda consideram o tempo de exposição nas emissoras como uma das principais formas de se fazerem conhecidos entre os eleitores. Neste ano, serão 121 minutos e 22 segundos diários para os partidos, entre os blocos de 25 minutos (candidatos a presidente terão 12 minutos e 30 segundos três vezes por semana) e as muitas inserções ao longo do dia, que vão compor a maior parte da divulgação de campanha e estão sob o critério das direções das legendas.

Nome que se fez basicamente pelas redes sociais, o deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato pelo pequeno PSL, “namora” com o tradicionalíssimo (e complicadíssimo) PR por uma aliança. O movimento faz todo o sentido. Se Bolsonaro conta hoje com apenas 2 minutos e 14 segundos por dia de exposição na televisão, aliado ao PR esse número saltaria para 11 minutos e 12 segundos, entre o tempo reservado aos partidos nos blocos diários de 25 minutos e nas inserções. Se ainda “casar” com o nanico PRP, que abriu suas portas para candidatos militares, fecha a conta em 11 minutos e 44 segundos.

Esse talvez seja um dos movimentos acompanhados com mais atenção, pelo potencial de aumentar em mais de 420% o capital midiático de um candidato que, a despeito da liderança nas pesquisas, é desacreditado justamente pela atual baixa estrutura de campanha. Mas outros namoros também prometem pontos altos de audiência para o reality, como as oscilações do chamado “Centrão”, que hoje namora os grandes Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), mas já flertou e agora é um amor platônico de outros, como Alvaro Dias (Podemos), Flávio Rocha (PRB), Henrique Meirelles (MDB) e Rodrigo Maia (DEM).

Abaixo, VEJA lista os principais pré-candidatos à Presidência e conta quem está de olho em quem e com qual intensidade, a partir das categorias “Amor platônico”, “Paquera” e “Namoro”. Foi também inserida a parcela a que cada legenda terá direito do Fundo Especial para o Financiamento de Campanha (FEFC), o chamado “fundo eleitoral”. O critério utilizado, tanto para o tempo quanto para os recursos, foi o total ao qual os partidos terão direito – na campanha presidencial, no entanto, o limite permitido de gastos é de 70 milhões de reais.

Os candidatos foram ordenados de acordo com as intenções de voto no cenário principal da última pesquisa do instituto Ibope, patrocinada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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(Arte/VEJA)

Para Bolsonaro, a aliança com o PR seria um casamento quase perfeito. Além de maximizar a exposição de televisão do pré-candidato, também traria um partido com densidade eleitoral, deputados, senadores e prefeitos, necessários para qualquer campanha em um país de dimensões continentais.

Jogam a favor desse “namoro firme” as intenções de voto do político do PSL, em uma via de duas mãos que pode favorecer as reeleições dos mesmos parlamentares. Contra, as suspeitas sobre o PR em escândalos de corrupção e as relações da legenda com outras à esquerda, como o PT. Completam as conversas as discussões sobre o nome do candidato à vice – se o atual namoro avançar, Bolsonaro deve ir para as urnas com o senador Magno Malta (PR); a alternativa é o general Augusto Heleno, que traria para a coligação o nanico PRP.


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(Arte/VEJA)
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A pré-candidata da Rede está muito distante de repetir a razoavelmente sólida coligação de 2014, quando substituiu Eduardo Campos como candidata do PSB e contava, ainda, com PPS, PHS, PPL, PSL e PRP (sobre os dois últimos: sim, são os partidos que hoje estão ao lado de Bolsonaro), mas pretende melhorar um pouco a sua dramática situação. Se for sozinha, apenas com a Rede, ela terá 46 segundos por dia (9 segundos a cada bloco de 12 minutos), módicos 10 milhões de reais do fundo eleitoral e não terá participação garantida em debates.

Hoje, Marina conversa com legendas de pequena a média proporção na tentativa de ao menos robustecer sua participação e garantir o palanque dos encontros organizados pelas emissoras. A pré-candidata iniciou uma conversa com o PPS, que poderia indicar o ex-ministro Roberto Freire para ser vice, mas o partido segue mais próximo da órbita de Geraldo Alckmin. No radar de Marina, neste momento, aparecem ainda o Pros e o PHS. Com as duas legendas, ela iria para 4 minutos e 37 segundos. Mas sonho mesmo – cada vez mais distante – é contar novamente com o PSB, que, sozinho, disporia de mais 5 minutos e 49 segundos.


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(Arte/VEJA)

O pré-candidato do PDT não sofre tanto quanto Marina Silva e Jair Bolsonaro por vir de um partido mais estabelecido no cenário nacional. A legenda garante a Ciro partir de 4 minutos e 33 segundos e 61,4 milhões de reais. Outra vantagem do ex-governador do Ceará sobre Marina é estar muito mais perto de “casar” com o PSB, que já deu vários sinais a favor de uma aliança com ele. Juntas, as legendas poderiam isolar o PT à esquerda e ocupar espaço considerável na televisão.

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Por outro lado, enquanto conversa com os socialistas, Ciro também abriu as portas para o amorfo Centrão, capitaneado pelo DEM. Com a exceção do PRB, que lançou Flávio Rocha e tem restrições ao ex-ministro, os demais partidos são mais simpáticos à ideia, principalmente o Solidariedade e o PP. O PTB está mais próximo de Geraldo Alckmin e o PR, como já dito, de Bolsonaro.

Esses dois grandes namoros do pré-candidato do PDT não aparentam ser, no entanto, conciliáveis, dada a demanda do PSB por uma plataforma de esquerda, que não é exatamente a do Centrão. Uma coligação PDT/PSB contaria com 10 minutos e 22 segundos, já uma conformação PDT/DEM/SD/PP viria com 27 minutos e 41 segundos.


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(Arte/VEJA)

Nesta quarta-feira 4, Alckmin se reuniu com as lideranças do Centrão, em uma tentativa de acerto que poderia preencher dois objetivos: 1. impedir os partidos do grupo de se coligarem a Ciro Gomes; 2. trazê-los para a chapa tucana. Ainda não se sabe o real impacto, mas algo é certo: para chegar lá, o tucano vai precisar passar da atual marca de intenção de voto, que em nenhum levantamento recente chegou a dois dígitos.

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Alckmin parte de uma legenda grande, maior que a de Ciro, e conta com namoros muito adiantados com outras legendas de estatura, como PSD, PTB, PV e PPS. Se fechar “apenas” com elas, já serão 25 minutos e 43 segundos. Se ainda por cima, trouxer o Solidariedade, o PP e o DEM, serão impressionantes 48 minutos e 51 segundos. A cereja do bolo seria fechar com o MDB, de Henrique Meirelles, o que levaria Alckmin a contar com uma propaganda a seu favor de quase uma hora por dia. Impossível dizer se isso tiraria o tucano da posição estacionada em que está há meses, mas é de se imaginar que seria de grande ajuda.


candidatos-namoros-alvaro-dias
(Arte/VEJA)

Concorrendo à Presidência pela primeira vez, o senador paranaense ostenta índices mais elevados que pré-candidatos de partidos maiores, fato este que o levou a ser cogitado como uma possível opção do Centrão.

Sozinho com o Podemos, Dias estará exposto na televisão por 3 minutos e 43 segundos, sendo que seu partido contará com 36 milhões de reais na divisão do bolo do fundo eleitoral. Se eventualmente, conseguir uma reviravolta e DEM, PP, Solidariedade, PTB e PR o abraçarem, pode chegar a 39 minutos e 19 segundos.

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(Arte/VEJA)

Oficialmente, Fernando Haddad não é pré-candidato à Presidência – o PT mantém o discurso da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto. No entanto, para além da briga jurídica que Lula precisaria enfrentar para reverter a inelegibilidade em razão da Lei da Ficha Limpa, ele também completa três meses preso no domingo, dia 7, e não tem perspectivas de mudanças no curto prazo.

A indefinição é um dos principais fatores que têm dificultado as alianças do PT. O PR, que cogitava indicar o vice da chapa de Lula, hoje está muito mais próximo de uma aliança com Jair Bolsonaro. O único partido que manifestou apoio até agora, o PCO, é contra a substituição do ex-presidente por um “plano B”. O PSB, o PCdoB e o PSOL conversam, mas hoje o primeiro está mais próximo de Ciro Gomes, enquanto os outros dois lançaram os nomes de Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos.

Se precisar ir às urnas sozinho, o PT teria 12 minutos e 58 segundos de tempo de televisão, mais 212,2 milhões de reais. O PCO acrescentaria mais 32 segundos diários.


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(Arte/VEJA)

Situação idêntica à de Alvaro Dias. O empresário foi lançado pelo PRB e chegou a ser cogitado como a opção do Centrão, mas essa possibilidade se reduziu nas últimas semanas. No caso de Rocha, uma das explicações é a dificuldade de engatar nas pesquisas e sair do patamar de 1% das intenções de voto.

Com o PRB sozinho, Rocha teria até 4 minutos e 33 segundos de exposição diária na televisão. A legenda tem direito a 66,9 milhões de reais do fundo eleitoral.


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(Arte/VEJA)

Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), pré-candidato à Presidência pelo PSOL, é, ao lado de João Amoêdo (Novo), um dos dois candidatos que já anunciaram seu companheiro da chapa – no caso dele, a líder indígena Sônia Guajajara (PSOL) será a vice. Boulos tem garantido o apoio do PCB, mas deve ser só isso, já que ser “o escolhido” do ex-presidente Lula e do PT é um sonho distante.

A coligação entre PSOL e PCB deve ter um espaço de apenas 2 minutos e 8 segundos na televisão. Somadas, as cotas das duas legendas no fundo eleitoral são de 22,4 milhões de reais.


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(Arte/VEJA)

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, pré-candidato pelo MDB, ainda não fechou nenhuma aliança, e não tem as melhores perspectivas. Ele conquistou seu partido ao prometer se autofinanciar – o que libera os estratosféricos 234,2 milhões de reais do fundo para os candidatos ao Congresso e aos governos dos estados –, então seu principal ativo pela legenda deve ser o tempo de televisão do partido, de 10 minutos e 52 segundos ao longo do dia.

Meirelles ainda tenta atrair o Centrão – e até o PSDB em um sonho distante –, mas sua baixa intenção de voto, em torno de 1%, e a percepção de que é ligado ao presidente Michel Temer (MDB), com recordes de impopularidade, afastam possíveis interessados.


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(Arte/VEJA)

O empresário e fundador do Partido Novo já avisou: só vai fechar alianças com partidos que não utilizam dinheiro público – ou seja, nenhum. O Novo promete dar aos 980 691 reais a que tem direito do fundo eleitoral o mesmo destino que dá ao fundo partidário: depositar em uma conta até que a legislação permita a devolução aos cofres públicos (atualmente, a regra diz que, se um partido desistir de receber, o valor deve ser redistribuído entre os demais, o que a legenda rejeita).

Sozinho, o Novo terá direito a 32 segundos de exposição diária na televisão. Amoêdo anunciou o cientista político Christian Lohbauer (Novo) como pré-candidato a vice-presidente.


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(Arte/VEJA)

A deputada estadual do Rio Grande do Sul foi a única entre os principais pré-candidatos da esquerda a ensejar desistir em torno de uma candidatura única. Como o movimento não ganhou força, recuou e afirma que se manterá na disputa. Seu partido vem sendo cortejado para eventuais coligações com Ciro Gomes (PDT) ou com um candidato que será lançado do PT.

Sozinho, o PCdoB de Manuela D’Ávila tem direito a 2 minutos e 27 segundos de exposição diária na televisão. Apesar de altamente improvável, uma eventual escolha da pré-candidata do PCdoB pelo PT e pelo ex-presidente Lula faria esse número saltar para 15 minutos e 25 segundos. Os comunistas têm direito a 30,5 milhões de reais do fundo eleitoral.


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(Arte/VEJA)

Neste momento, a possibilidade de Rodrigo Maia ser, de fato, candidato é considerada baixa, mesmo entre seus correligionários do DEM. Maia estaria se mantendo no páreo apenas até o partido definir qual será sua posição na disputa.

Sem fechar alianças, o DEM sairia com consideráveis 9 minutos e 36 segundos de exposição diária. Como o partido integra o bloco de legendas do Centrão, uma reviravolta em que essas siglas apoiassem Maia faria o presidente da Câmara saltar para 35 minutos e 36 segundos. O DEM tem direito a 89,1 milhões de reais do fundo eleitoral.

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