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Eduardo Paes tenta justificar grosserias em grampo: ‘Sou carioca em excesso’

Em conversa interceptada pela PF, prefeito do Rio havia dito que Lula tem "alma de pobre" e ironizou o humor de Dilma e Pezão

Por Da Redação
17 mar 2016, 12h19

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), desculpou-se nesta quinta-feira pelo conteúdo de sua conversa com o ex-presidente e agora ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Inácio Lula da Silva, em ligação grampeada pela Operação Lava Jato. Paes afirmou que seus comentários foram “de extremo mau gosto e geraram arrependimento e vergonha”.

Ele, no entanto, minimizou o trecho em que sugeriu um limite para a atuação dos investigadores e negou que tenha informações sobre a titularidade do sítio em Atibaia, usado pela família do ex-presidente – a qual ele se referiu como “sitiozinho vagabundo”, durante a conversa.

“Quero dar esclarecimentos, satisfação e contextualizar aquela conversa. Eu tentei ser gentil com o ex-presidente que ajudou muito a cidade e meu governo, e que agora passa por um momento difícil”, contou Paes, que teve sua conversa com Lula gravada no dia em que ligou para o ex-presidente para criticar a Operação Aletheia, em que o agora ministro-chefe da Casa Civil foi conduzido coercitivamente a prestar depoimento à Polícia Federal.

Durante a conversa interceptada pela PF, Paes ironizou o mau humor da presidente Dilma Rousseff e do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e deixou claro sua preferência pelos antecessores, Lula e Sérgio Cabral. “Quem me conhece sabe, eu não sou exatamente a alegria dos assessores de imprensa. Eu sou carioca em excesso, falo sempre muito à vontade. Eu tentei fazer brincadeiras e algumas foram de mau gosto com Pezão e Dilma”, justificou-se Paes nesta quinta.

Sobre o comentário de que seria preciso “dar um limite” ao MPF e à PF, o prefeito procurou contextualizar sua fala. “Eu me referia à condução coercitiva. Considerei que houve certo exagero e está foi uma crítica de boa parte da população”, justificou.

A respeito do sítio, Paes declarou não saber de nada e acrescentou que cabe ao ex-presidente dar explicações. “Eu respondo pelos atos na vida política.” Ele também se desculpou com a população do município Maricá, chamada por ele de “uma merda de lugar”, quando Paes falava sobre a “alma de pobre” de Lula.

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Abaixo, a íntegra da conversa entre Eduardo Paes e Lula:

Lula: Alô!

Eduardo Paes: Meu amigo!

Lula: Querido prefeito, tudo bem?

Eduardo Paes: “Cê” não precisa de solidariedade, mas tô ligando pra te dar um abraço. Dizer que tô contigo nesse absurdo aí que fizeram com o senhor na sexta-feira. É um escândalo. É uma vergonha.

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Lula: Obrigado, querido.

Eduardo Paes: Tem que ter muita carcaça. Seu posicionamento foi excepcional. Tem que parar com essa palhaçada no Brasil. Tá demais mesmo. Passou de todos os limites, Presidente.

Lula: Todos os limites! Isso é verdade. Passou dos limites.

Eduardo Paes: Esse negócio do Delcídio então. Eu falo até pelo meu caso aqui que eu vi na suposta delação premiada dele. Esse negócio de acordo na CPI né.

Lula: O Delcídio foi uma vergonha!

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Eduardo Paes: É livro de memória que o cara fica…Vira delação premiada é ficar fazendo livro de memória entendeu?

Lula: É isso.

Eduardo Paes: Ah, porque teve uma conversa. E assim, a conversa (ininteligível). Eu e o….. Como é o nome do relator, sei lá, a porra do deputado do PMDB, fica tentando convencer o ACM Neto que não tinha prova nenhuma contra o “seu” filho. Que tinha que tirar o nome do relatório senão não votava aquele negócio, entendeu? Como é que ia fazer um negócio sem prova nenhuma. Eu me lembro direitinho desse negócio. E o cara conta como se fosse um escândalo, entendeu? Uma coisa que eu mesmo já falei quinhentas vezes pra imprensa.

Lula: Um bando de filha da puta, Eduardo. Eu vou contar uma coisa pra vc.

Eduardo Paes: Foda.

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Lula: Olha, deixa eu lhe falar uma coisa. Esses meninos da Polícia Federal e esses meninos do Ministério Público, eles se sentem enviado de Deus.

Eduardo Paes: É, mas eles são todos crentes. Os caras do Ministério Público são crentes né.

Lula: É uma coisa absurda. Uma hora nos vamos conversar um pouco porque eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles pra tentar colocá-lo no seu devido lugar. Ou seja, nós criamos instituições sérias, mas tem que ter limites, tem que ter regras.

Eduardo Paes: É. Não. Passou de todos os limites mesmo. A gente fica com medo de conversar com as pessoas agora.

Lula: Lógica porra!

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Eduardo Paes: Eu tô cheio de obra aqui. Odebrecht da vida, OAS, de todas essas empreiteiras. Eu fico com medo. O cara pede pra eu receber, eu fico com medo de receber.

Lula: É lógico. Porque agora toda obra. Esses caras têm quinhentas obras nesse país. Todas elas estão criminalizadas. Ah, vai tomar no cú porra.

Eduardo Paes: É foda. Não. “Cê” vê, o próprio Delcídio. O cara era presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, eu fui conversar com ele lá um dia, aí ele vai fazer lá o negócio dele lá com o tal do Cerveró, com o filho do Cerveró, depois de conversar comigo. Daqui a pouco eu tô no meio daquela história. É um negócio de doido.

Lula: (risos) É isso, querido.

Eduardo Paes: Eu vou me trancar em casa porra. Eu não converso mais com ninguém.

Lula: É isso, querido.

Eduardo Paes: Mas óh, meu amigo, falando sério eu tô aqui do teu lado.

Lula: Obrigado.

Eduardo Paes: Conta comigo aqui. O senhor sabe da minha gratidão, da minha admiração.

Lula: Obrigado, querido.

Eduardo Paes: Aqui o senhor tem um soldado. Tô aqui administrando as minhas crises também. Segurando (ininteligível). Eu sempre tenho que falar uma coisa pro senhor: a minha vida começou com Lula e Cabral. Terminou com Dilma e Pezão. Puta que me pariu!

Lula: (Risos)

Eduardo Paes: O senhor não faz ideia de como eu tô sofrendo. É uma foda!

Lula: Mas você com todo o problema, querido, você ainda tá, é abençoado por Deus por causa dessa Olimpíadas, viu, Porque os outros…

Eduardo Paes: É verdade! Verdade.

Lula: Os outros prefeitos que eu converso “tão fudido”…

Eduardo Paes: Verdade. Verdade. Mas, presidente, se tiver Olimpíadas com Vossa Excelência e com Sergio Cabral é uma coisa. Segurar com aquele bom humor da Dilma e do Pezão sabe…

Lula: Não é fácil, querido.

Eduardo Paes: Sabe aquele personagem que tinha…

Lula: Mas o teu bom humor e a tua competência superam isso, querido.

Eduardo Paes: Foda. Mas “tamo junto” aí, Presidente.

Lula: Tá bom. Obrigado, querido.

Eduardo Paes: (Ininteligível) … meu carinho aí, “tamo junto”. Minha solidariedade, vamos em frente nessa história. Agora, da próxima vez o senhor me para com essa vida de pobre, com essa tua alma de pobre comprando “esses barco de merda”, “sitiozinho vagabundo”, puta que me pariu!

Lula: (Risadas)

Eduardo Paes: O senhor é uma alma de pobre. Eu, todo mundo que fala aqui no meio, eu falo o seguinte: imagina se fosse aqui no Rio esse sítio dele, não é em Petrópolis, não é em Itaipava. É como se fosse em Maricá. É uma merda de lugar porra!

Lula: (Risos)

Eduardo Paes: Esse barquinho dele é em São Pedro da Aldeia, Araruama. Não é em Búzios nem Angra porra!

Lula: (risos) Puta que o pariu!

Eduardo Paes: É um cafona. O senhor não perdeu essa sua alma de pobre. Isso que é a maior desgraça que eu tô vendo nesse processo todo porra. (risos)

Lula: É isso. É isso. Mas eu já sabia disso. Tá bom, querido. Obrigado, Eduardo.

Eduardo Paes: Qualquer coisa me liga aí, Presidente. Um forte abraço.

Lula: Muito obrigado, meu querido.

Eduardo Paes: Valeu. Tchau, tchau.

(com Estadão Conteúdo)

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