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E-mails revelam como Odebrecht planejava usar a influência de Lula para obter contratos na América do Sul

Nas mensagens, os executivos chegam a sugerir o que o petista deveria dizer nos encontros com outros chefes de Estado do continente

Por Hugo Marques, Robson Bonin e Pieter Zalis
14 dez 2015, 20h49

Ex-presidente da maior construtora do país, o empreiteiro Marcelo Odebrecht era o principal responsável pela estratégia adotada pela empreiteira para abocanhar contratos bilionários de construção de navios-sonda na Petrobras. É o que revela um novo conjunto de e-mails disponibilizado pelos investigadores da Operação Lava Jato em um dos inquéritos que a empreiteira responde por envolvimento no maior escândalo de corrupção da história do país. Nas conversas de Odebrecht com os executivos da empreiteira, o que se vê são acertos em torno de contratos da Petrobras e planos de usar a influência de políticos importantes da República para alcançar os objetivos da empresa. Um dos nomes mais citados nas conversas dos executivos é o do ex-presidente Lula. O papel de líder da empreiteira nas negociatas do petrolão é um dos principais elementos usados pela Justiça para manter Marcelo Odebrecht preso em Curitiba. O novo conjunto de mensagens pode atrapalhar os planos do empreiteiro de conseguir a liberdade por meio de um habeas-corpus que deverá ser julgado nesta terça-feira pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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Em uma das mensagens, de 2008, os executivos falam de um encontro entre Lula e o então presidente do Peru, Alan Garcia, e questionam a possibilidade de incluir assuntos de interesse da construtora na visita. O executivo Roberto Ramos, da Braskem, escreve para o executivo Rogério Araújo, da Odebrecht: “Só para sua informação. O ideal era voltar ao assunto depois do Carnaval e ver se conseguimos combinar com nosso amigo Nestor (Cerveró) estar em condições de assinar o protocolo durante a visita do Lula!”. Há troca de e-mail entre Rogério Ramos e Cerveró, perguntando sobre a estratégia a ser adotada. Cerveró responde: “Este assunto já foi acertado com o Cesar Gutierrez (presidente da Petroperu) na minha reunião da última semana, quando estive em Lima. Acho boa a ideia e vamos andar rápido com o assunto”. Em seguida, há e-mail do próprio Marcelo Odebrecht para os executivos Rogério Araújo e Márcio Faria: “Ótimo. Estes eventos com Lula são bons, pois criam um deadline”.

Nos e-mails, os executivos demonstram ter plena influência sobre as ações de Lula nos encontros com outros chefes de Estado. Eles chegam a sugerir o que Lula deveria fazer ou dizer aos presidentes. Ainda em 2008, os executivos acertam os termos de um texto que deveria ser entregue para leitura do ex-presidente Lula durante viagem à Argentina. Marcelo Odebrecht ironiza: “Roberto. Um terço de página apenas ou o cara não lê”. Há também mensagens trocadas entre os executivos da empresa e Marcelo Odebrecht abordando viagem de Lula à Argentina. “Pela dimensão e importância dos projetos atualmente em execução e em estudo pela Odebrecht na Argentina, havendo oportunidade, seria importante que o presidente Lula pudesse reforçar, junto à presidente Cristina, a confiança que tem na Odebrecht”. E há ainda referência a viagem à Bolívia: “Sugere-se ao presidente Lula comentar com o presidente Evo Morales sua satisfação em relação a boa evolução do projeto”. Várias trocas de e-mails mostram uma postura agressiva nos negócios por parte da Odebrecht, especialmente quando o assunto é a construção de sondas para a Petrobras. Em uma mensagem de 2011, Marcelo recebe de um dos executivos instruções sobre a construção de sondas para a estatal: “A divisão das 21 Sondas, caso ocorra a contratação, deverá ser a seguinte: 6 p/ nosso Consórcio + 6 Alusa Galvão + 6 Jurong”.

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Outro lado – O site de VEJA entrou em contato com a Odebrecht, que enviou o seguinte comunicado:

“A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) lamenta que se repita o expediente do vazamento de mensagens descontextualizadas de ex-executivos da empresa sempre que se avizinha alguma decisão judicial envolvendo sua liberdade, como forma de pressionar e evitar a livre expressão de julgamento de magistrados.

As mensagens citadas expressam fatos absolutamente normais. Como no caso de contatos entre duas partes que mantêm conversas no sentido de emitir um posicionamento público. Ou do fornecimento de informações e subsídios para viagens oficiais para países onde as empresas brasileiras mantêm operações comerciais, como acontece na diplomacia de todas as nações do mundo. Finalmente, tenta-se promover uma leitura maliciosa de mensagens em que o ex-presidente da holding Odebrecht se mantém informado sobre investimentos do acionista (o que era parte de suas atribuições) em projetos que envolvem mais de uma empresa do Grupo, dando a entender que ele teria alguma ingerência sobre a autonomia da direção de cada uma das empresas. Previsões de mercado também são propositalmente confundidas com informações privilegiadas.

A CNO tem confiança de que magistrados não se deixarão influenciar pelo vazamento de véspera, malicioso, sobre comentários e mensagens que sequer constam do processo em questão.”

Brasken – Em nota, a assessoria da Brasken informa:

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Sobre a matéria “E-mails revelam como Odebrecht planejava usar a influência de Lula para obter contratos na América do Sul” (14/12), um acordo para a implantação de um polo petroquímico no Peru, parceria entre Petrobras e Petroperu, já estava em gestação desde antes da visita do ex-presidente Lula ao país.

O projeto do polo previa a industrialização de etano, encontrado no gás natural local, e não tinha qualquer relação com “a construção de navios-sonda na Petrobras”.

O acordo foi efetivamente assinado durante a visita, dentro do rol de acordos bilaterais e com empresas privadas comum a missões presidenciais.

A Braskem informa ainda que, neste momento, prosseguem as negociações para a implantação do polo com empresas privadas do Peru e a Petroperu na condição de sócia minoritária.

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