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Documentos e áudios: Crivella ficou em cela lotada e pagou fiança

Senador publicou vídeo nas redes sociais negando ter sido preso em 1990, mas não é o que os registros nem o que sua entrevista a VEJA mostram

Por Leslie Leitão, Thiago Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 out 2016, 21h01 - Publicado em 24 out 2016, 20h35

Depois de VEJA revelar na edição desta semana que o senador e bispo licenciado Marcelo Crivella havia ocultado de sua biografia ter sido preso em 1990, o candidato a prefeito do Rio de Janeiro publicou um vídeo em sua página no Facebook em que desmentiu a reportagem. “Vou esclarecer. Nunca fui preso”, falou, e prosseguiu, a propósito do terreno da igreja Universal que tentou reaver à força, o que terminaria por levá-lo à prisão: “Deu uma confusão danada e foi todo mundo pra delegacia. Lá o delegado resolveu identificar a todos”, disse Crivella no Facebook. Ele afirmou ainda que foi ao terreno consertar um muro que ameaçava desabar.

Leia mais: A foto que Crivella esconde há 26 anos

Documentos reunidos por VEJA, e a própria entrevista do senador à revista, mostram que, sim, Crivella passou aquele 17 de janeiro em uma prisão – estava “lotada”, descreveu na entrevista. Como mostra o registro de ocorrência 023/1990 (abaixo), Crivella foi de fato autuado em flagrante com base no artigo 150 do Código Penal, referente à invasão de domicílio (no inquérito, é acusado de arrombar a casa do motorista que ali vivia e ameaçado seus filhos).

O único documento que ainda existe na microfilmagem da Polícia Civil remete ao flagrante número 023/1990, feito na 9ªDP (Catete). O caso trata de invasão de domicílio (artigo 150) e indica que a prisão do então engenheiro da Igreja Universal, Marcelo Crivella, ocorreu por volta das 9h, na Rua Senador Correia, em Laranjeiras
O flagrante número 023/1990, feito na 9ªDP (Catete). O caso trata de invasão de domicílio (artigo 150) e indica que a prisão do então engenheiro da Igreja Universal, Marcelo Crivella, ocorreu por volta das 9h, em Laranjeiras ()

Dois policiais militares prenderam o bispo e o levaram para a 9ª Delegacia de Polícia, no bairro carioca do Catete. Para sair da cela, de acordo com documento anexado ao inquérito, teve de desembolsar 450 cruzados novos (380 reais nos dias de hoje) pela fiança (comprovada no documento).

VEJA obteve o Documento de Arrecadação da Secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro, que comprova o pagamento de 450,07 cruzados novos de fiança. O depósito foi feito em dinheiro, depois que Crivella foi preso em flagrante pelo artigo 150 do Código Penal (violação de domicílio)
O Documento de Arrecadação da Secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro comprova o pagamento de 450,07 cruzados novos de fiança. O depósito foi feito em dinheiro, depois que Crivella foi preso em flagrante, no dia 17 de janeiro de 1990. ()

As fotos da prisão, que evaporaram dos arquivos da Polícia Civil fluminense por quase três décadas, estavam no apartamento do próprio senador, que as mostrou a VEJA. Em nota, a Polícia Civil afirmou que fará um levantamento em seus bancos de dados para explicar como até os negativos com as imagens da prisão foram parar nas mãos do então investigado. Uma parte do mistério foi Crivella quem esclareceu na conversa em que esmiuçou à reportagem de VEJA detalhes sobre o episódio. Abaixo, trechos da entrevista concedida no último dia 20, seguidos dos áudios.

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“Arrebentei aquela cerca” 

A prisão de Crivella em suas próprias palavras: “Sabe por que eu fui preso? Tínhamos um terreno no Largo do Machado. Comprado com a fé do povo, dízimo e ofertas. Foi invadido por gente de rua. Sem teto, sem terra. Era engenheiro da igreja nessa época. Quando chego lá para fazer a obra, os caras estão lá dentro. Já tinham colocado portão e cercado. Aí fui lá conversar com os caras”.

O senador segue a narrativa, sem fazer qualquer menção ao muro que ameaçava cair e que ele, Crivella, teria ido consertar, como afirmou depois da publicação da reportagem de VEJA. “Cara, teve um dia que eu tava tão revoltado. Acordei de manhã, peguei os caminhões que a gente tinha, fui pra lá. Arrebentei aquela cerca. Entrei lá dentro. Comecei a tirar as coisas do cara, botei em cima do caminhão. Não toquei nas pessoas!”.

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“Fui preso e fiquei em uma cela lotada” 

Crivella conta que foi ao terreno acompanhado de dez homens para expulsar cerca de trinta pessoas. O senador também fala de um advogado das famílias que queria extorqui-lo: “Eu não aguentava mais aquela situação. Fui lá e BUUMMM!!! Tirei tudo! E o advogado, muito esperto, que queria fazer uma chantagem, já tinha chamado os policiais, e me deram o flagrante sobre o seguinte crime: uso arbitrário das próprias razões. E me prenderam. Aí, na delegacia, por incrível que pareça, fiquei preso um dia. Carceragem da 9ª DP lotaaaada de gente. E o delegado pra me constranger, malandro, ele mandou fazer essa foto”.

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“Vou te dar as fotos…” 

Ao contrário do relato que divulgou nas redes sociais, em que diz ter sido arrastado para a delegacia junto com os invasores do terreno da Igreja Universal, Crivella afirma a VEJA que apenas ele foi preso na ocasião. “Só me pegaram. E levaram para a delegacia.”

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Em um determinado momento, o senador diz que o delegado João Kepler Fontenelle, responsável pelo caso, havia lhe pedido para que a igreja Universal desistisse de processá-lo na Justiça por abuso de poder no momento da prisão. Crivella disse que então retirou a ação contra o policial. Não há, porém, qualquer vestígio de processo movido pela Universal contra o delegado no Tribunal de Justiça do Rio, segundo a assessoria de imprensa.

O fato é que um bondoso Fontenelle chegou para o bispo, o acalmando sobre a prisão. “Vou te dar as fotos, não vou deixar tuas fotos”, teria dito Fontenelle, segundo Crivella. O senador ainda desafiou a reportagem, mostrando ter certeza de que o documento não estava mais nos arquivos da polícia: “Você pode ter certeza que você (da VEJA) não conseguiu isso na delegacia! Deve ter sido outra pessoa que te deu. Na delegacia ele (delegado) falou pra mim: “Vou tirar isso! Fiz de sacanagem pra te constranger, mas tô arrependido.”

Por fim, Crivella relata um mimo do delegado: “Ele me deu até um distintivo da polícia na época, para botar no meu carro, pra me ajudar e tal.”

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“Era um terreno caro, mermão” 

Quando questionado sobre se tinha algum arrependimento sobre tirar pessoas de um local à força, Crivella explicou: “Você acha justo o terreno da igreja, onde você vai construir um templo para pobre, favelado e miserável, e de repente as pessoas invadem? Pessoas que estavam sendo usadas por um advogado que estava querendo extorquir a igreja. Era um terreno caro, mermão!”

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