Dilma-3: governo provisório começa com Lula no comando e PMDB mais forte
Com 275 dias de atraso, presidente corta 8 pastas, 3.000 cargos comissionados e adota medidas populistas para tentar frear o impeachment na Câmara
Depois de dez meses de resistência, a presidente Dilma Rousseff cedeu e reformulou seu governo para tentar frear o processo de impeachment que germina na Câmara dos Deputados. A partir de segunda-feira, a máquina pública passa a ser regida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo PMDB, fiel da balança no arranjo político que pode manter a presidência em sua cadeira, ou desalojá-la.
Nesta sexta-feira, Dilma cortou oito das 39 pastas antes existentes, menos do que o esperado, e o que não lhe tira a distinção negativa de estar cercada por um dos maiores ministérios do planeta – Barack Obama administra a maior economia do mundo auxiliado por 22 secretários. O efeito positivo da desidratação ministerial deve ser o fim de 3.000 cargos comissionados em Brasília. O restante das medidas tem mais caráter populista do que reflexo significativo no Orçamento: os salários dos ministros e da própria Dilma – 30.934,70 reais – serão reduzidos em 10% e os voos em primeira classe estão suspensos.
No xadrez político, a operação anti-impeachment entregou sete pastas, com orçamentos robustos em ano pré-eleitoral, ao PMDB. É o maior quinhão já concedido ao partido desde que Lula assumiu o poder em 2003. O PMDB não só ganhou terreno, mas indicou dois deputados pouco conhecidos para comandar a Saúde e Ciência e Tecnologia, pastas dotadas de programas de alta capilaridade nas bases eleitorais e emendas parlamentares prontas para serem liberadas a granel. No próximo ano, uma parte significativa da bancada peemedebista deve ir às urnas tentar um mandato de prefeito ou se empenhará para eleger aliados nos rincões do país. O afago à bancada de deputados é uma tentativa sem máscara de manter ao menos dois terços dos sessenta parlamentares tutelados ante o desejo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de fazer o impeachment correr e tirar Dilma do cargo até o final do ano.
No caso do PT, engana-se quem pensa que o partido perdeu força. Além de despachar o desafeto Aloizio Mercadante do Palácio do Planalto – foi realocado na Educação -, Lula instalou um dos seus melhores amigos na chefia da Casa Civil, Jaques Wagner, e um nome fisiológico na nova Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Este último já foi presidente do PT, tem raiz no sindicalismo e interlocução com os movimentos sociais, atributos considerados cruciais por Lula num ano marcado por protestos nas ruas contra Dilma e a dilapidação da imagem do PT. Ou seja, a regência do governo ficará nas mãos de Lula.
Após 275 dias de resistência, Dilma fez o que não queria e montou um governo provisório para enfrentar os piores dias de crise política e econômica que ainda vão chegar.
Jaques Wagner (PT) | deixa Defesa e assume Casa Civil |
Aldo Rebelo (PCdoB) | assume Defesa e deixa Ciência e Tecnologia |
Miguel Rossetto (PT) | deixa Secretaria-Geral e assume Trabalho e Previdência (unificados) |
Aloizio Mercadante (PT) | deixa Casa Civil e volta à Educação |
Nilma Lino | assume Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (fusão das secretarias correspondentes) |
Ricardo Berzoini (PT) | assume Governo (antiga Secretaria Geral da Presidência, formada agora por Gabinete de Segurança Institucional, Secretaria da Micro e Pequena Empresa e Secretaria de Relações Institucionais) |
Helder Barbalho (PMDB) | deixa Pesca e assume Portos |
Marcelo Castro (PMDB) assume Saúde |
Celso Pansera (PMDB) assume Ciência e Tecnologia |
André Figueiredo (PDT) assume Comunicações |
Renato Janine Ribeiro demitido da Educação |
Arthur Chioro (PT) demitido da Saúde |
Edinho Araújo (PMDB) demitido de Portos |
Pepe Vargas (PT) demitido de Direitos Humanos |
Guilherme Afif Domingos (PSD) deixa Micro e Pequena Empresa (anexada a Governo) |
Eleonora Menicucci (PT) – perde status de ministra de Políticas para as Mulheres |
General José Elito – pediu demissão do Gabinete de Segurança Institucional |
Carlos Gabas – perde status de ministro da Previdência (pasta anexada ao Trabalho) |
Manoel Dias (PDT) – demitido do Trabalho |
Mangabeira Unger (PMDB) – pediu demissão da Secretaria de Assuntos Estratégicos (extinta) |
Gilberto Kassab (PSD) | Cidades |
Joaquim Levy | Fazenda |
Nelson Barbosa | Planejamento |
Edinho Silva (PT) | Comunicação Social |
Mauro Vieira | Itamaraty |
Patrus Ananias (PT) | Desenvolvimento Agrário |
Kátia Abreu (PMDB) | Agricultura |
Eduardo Braga (PMDB) | Minas e Energia |
Juca Ferreira (PT) | Cultura |
José Eduardo Cardozo (PT) | Justiça |
Tereza Campello (PT) | Desenvolvimento Social |
Henrique Eduardo Alves (PMDB) | Turismo |
Armando Monteiro (PTB) | Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior |
George Hilton (PRB) | Esportes |
Gilberto Occhi (PP) | Integração Nacional |
Antônio Carlos Rodrigues (PR) | Transportes |
Izabella Teixeira | Meio Ambiente |
Luís Inácio Adams | Advocacia Geral da União |
Alexandre Tombini | Banco Central |
Valdir Simão | Controladoria Geral da União |
Eliseu Padilha (PMDB) | Aviação Civil |