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Deputado evangélico vê maldição sobre África

Marcos Feliciano diz que episódio bíblico pode explicar tragédias também no Haiti e até no Brasil. E não teme ser visto como racista

Por Gabriel Castro
1 abr 2011, 07h59

“Nós também recebemos o gene africano. Por isso, alguns lugares do Brasil são muito pesados”

O deputado federal Marcos Feliciano (PSC-SP) tem 38 anos, é pastor da Igreja Assembléia de Deus, comanda um instituto teológico e assumiu em 2011 seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados. Feliciano, que gosta de dizer que já pregou em mais de 60 países em 1.600 cidades, foi alçado à fama de forma torta, depois de afirmar, no Twitter, que os africanos são acompanhados por uma maldição desde os tempos de Noé. O parlamentar, no entanto, parece ter gostado da fama: “Isso foi bom para mim, deu visibilidade”, disse ele ao site de VEJA. A seguir, a entrevista.

O senhor ficou surpreso com a reação ao que escreveu no Twitter? Com certeza. A princípio, eu nem acreditei no que eu estava lendo. Tentaram unir o que foi postado no meu Twitter ao caso do deputado Bolsonaro, que não tem nada a ver. A minha equipe é quem postou essa mensagem, mas eu assumo a responsabilidade. A pergunta que foi postada é de cunho teológico. Você conhece um pouquinho da Bíblia?

Sim. Então. Noé, ao ficar bêbado e nu, viu o filho mais novo rir dele. Quando voltou a si Noé jogou uma maldição sobre a descendência do filho. Ele chama o filho, Cão, e diz: “Maldito seja Canaan, seu filho”. Amaldiçoou o neto. A pergunta teológica é essa: por que é que Noé fez isso?

E por quê? É simples: aconteceu alguma coisa, que a Bíblia não deixa claro, que o deixou extremamente furioso. Não foi apenas o fato de o filho ter o visto nu. De Cão, veio (sic) Canaan e outros filhos que povoaram a Etiópia, ou o continente africano. Por isso sobre a África sempre repousam fome, tristeza e guerra de etnias. Alguns facínoras foram levantados lá, como Idi Amim, Jonas Savimbi, além do vírus Ebola, da Aids. O peso da maldição permanece.

Então o senhor foi vítima da onda causada pelas declarações do deputado Bolsonaro? Foi uma triste coincidência. O problema é que eu sou o deputado federal mais votado entre os evangélicos do Brasil: tive mais de 211 mil votos. Na primeira semana do nosso mandato, teve um deputado eleito pelo estado do Rio de Janeiro que defende a bandeira GL… não sei nem a sigla…

LGBT. O senhor fala do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ)? Esse moço aí. Ele chamou a mídia e declarou guerra à bancada evangélica. Instigou os homoafetivos do Twitter a seguirem todos os da bancada evangélica. Eu recebo ameaças de mortes, palavrões, xingamentos. Quem divulgou isso foram eles. Apesar de ter sido bom para mim: me deu visibilidade. Eu era praticamente desconhecido. Hoje, toda a imprensa nacional me ligou e eu estou tendo a oportunidade de me apresentar.

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O senhor não teme ser visto como racista? Não, porque não existem só negros na África. Há brancos na África do Sul. As pessoas não podem pensar assim, até porque eu sou descendente afro. Quem olhar para mim vai ver meu cabelo é crespo, meu nariz é largo.

Então a maldição vale para o senhor? Ela cabe ao continente africano.

Mesmo para um branco que more lá? Sim. É uma maldição espiritual, que recai sobre o continente. Mas eu conheço muitas pessoas de lá que entregaram a vida para Cristo e hoje vivem muito bem.

Existe alguma maldição sobre nós, brasileiros? Isso é difícil. Mas nós também recebemos o gene africano. Por isso, alguns lugares do Brasil são muito pesados. Todas as cidades, especialmente as de beira-mar, que tiveram entrada de escravos.

Quando o Haiti foi atingido pelo último terremoto, o embaixador do país no Brasil chegou a dizer que o vodu era a causa da tragédia. O que o senhor acha? Ele tem conhecimento bíblico. Pegue todos os lugares onde você vê acontecer essas misérias. Quais deles se segue o monoteísmo, o Cristianismo? Geralmente essas desgraças acontecem em lugares desse jeito. Quem já foi à Índia sabe a miséria que é. Eles têm milhares de deuses, adoram de uma barata a uma árvore. O continente africano tem com a bruxaria e o vodu, como o Haiti.

Então tudo se explica por essa análise? O terremoto do Japão, por exemplo? O deus japonês não é um deus cristão. É Buda, ou outros deuses. Analise em outros lugares e você vai ver.

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O senhor não gostou de ser comparado com o deputado Jair Bolsonaro? Se o que dizem que ele falou é verdade, eu repudio completamente. Sinto nojo de qualquer tipo de preconceito, racismo, retaliação com minorias. Até porque eu faço parte de uma minoria: os evangélicos.

Mas concorda com ele sobre os gays? Se Deus, que é Deus, não se mete na vida de ninguém, quem sou em para me meter? Todavia, que eles pratiquem o que quiserem praticar na vida deles, não tragam isso para os olhos dos meu filhos, para o meio da sociedade. Não quero ver na rua um homem beijando outro homem.

O senhor é da base da presidente Dilma. Não acha que essas declarações podem lhe criar problemas? Não, porque isso é insignificante. Só se alguém quiser fazer maldade. Você é uma pessoa esclarecida, eu te dei os pontos e mostrei que é apenas uma questão teológica.

Não é uma visão muito ligada ao Velho Testamento, que já teria sido superada? Tudo o que nós herdamos, herdamos do Velho Testamento. Aí vem Jesus e faz tudo novo. Mas o homem tem que aceitar Jesus como salvador. O velho testamento é o antigo pacto. O antigo pacto é quebrado com o novo.

Então a maldição serve para os africanos, coletivamente, mas, individualmente, cada africano pode ser salvo? Claro. E se Deus abençoar um dia e o líder do país confessar sua fé num único Deus, o país todo é livre, porque ele é autoridade máxima do país.

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