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DEM desponta como a principal força de centro nas eleições municipais

Com candidatos favoritos em quatro capitais, a sigla renasce e sai na dianteira dos aliados MDB e PSDB em coalizão para 2022

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Edoardo Ghirotto Atualizado em 16 out 2020, 10h34 - Publicado em 16 out 2020, 06h00

Presidente nacional do DEM, ACM Neto é um personagem-símbolo da queda e ascensão do partido nos últimos dez anos. Herdeiro político do avô, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, cacique do PFL (antigo nome do DEM, que chegou a eleger 105 deputados em 1998, quando integrava o primeiro escalão nos anos FHC), o hoje prefeito de Salvador era um deputado de oposição ao governo do PT em 2010, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do alto da popularidade de seu último ano de mandato, jurou o DEM de morte. De fato, parecia que a legenda estava mesmo moribunda. Quatro anos antes, o petismo havia conseguido um marco no Nordeste ao varrer o carlismo do poder e ganhar o governo da Bahia, posto que ocupa até hoje.

A jura de morte de Lula, no entanto, não se confirmou. Em 2012, ACM Neto já dava sinais de que poderia virar o jogo. Foi um dos dois prefeitos de capital eleitos pelo DEM, batendo o PT em Salvador, e reeleito no primeiro turno em 2016. Com uma gestão muito bem avaliada, agora impulsiona a candidatura de seu vice, Bruno Reis, que tem 42% das intenções de voto, segundo o Ibope, e pode vencer no primeiro turno. ACM Neto tem mais o que comemorar: a sigla que comanda possui grandes chances de vitória em Curitiba, com Rafael Greca (47%), e Florianópolis, com Gean Loureiro (44%) — ambos buscam a reeleição. O ex-prefeito Eduardo Paes lidera a corrida no Rio de Janeiro (30%), e o ex-ministro Mendonça Filho está empatado na ponta com João Campos (PSB) em Recife. Além disso, o partido está coligado com quem disputa a liderança em capitais como São Paulo, Goiânia e Natal.

 

FAVORITO - ACM Neto e seu candidato, Bruno Reis: vitória pode vir no primeiro turno – (Reprodução/Instagram)

Gestões bem avaliadas, como as de ACM Neto, Greca e Loureiro, e a rejeição a adversários diretos, como o prefeito carioca Marcelo Crivella (Republicanos), são as explicações mais elementares, mas não as únicas. O DEM soube se reinventar. Caciques do partido apontam como marco do bom momento da sigla a eleição de Rodrigo Maia à presidência da Câmara em 2016, na esteira do impeachment de Dilma Rousseff — que abriu caminho para a legenda retornar à base do governo após catorze anos de ostracismo. Em 2018, voltou a eleger governadores após oito anos (Goiás e Mato Grosso).

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SORRISOS - Rafael Greca: prefeito de Curitiba é uma das estrelas do DEM – (Reprodução/Instagram)

A ascensão se completou no início de 2019, com Davi Alcolumbre eleito presidente do Senado e quadros do DEM assumindo os ministérios da Saúde e Agricultura e a Casa Civil do governo Jair Bolsonaro. Isso fez com que ACM Neto lançasse mão de uma estratégia para transformar capital político em capital eleitoral, ao atrair lideranças regionais de outras siglas. Greca, ex-PMN, Paes e Loureiro, ex-MDB, e o governador do Tocantins, Mauro Carlesse, ex-PHS, são exemplos da tática. “Não adianta ter posições de destaque em Brasília se na base não estiver fortalecido”, diz ACM Neto. Com isso, o DEM passou a governar três estados, três capitais e saltou de 22 022 candidatos, em 2016, para 32 914, em 2020. “Como reflexo da presidência das duas Casas, o partido passou a ter relevância maior no mundo político”, diz o governador Ronaldo Caiado (GO).

Nascido da Arena, legenda de sustentação da ditadura militar, o PFL, que mudou de nome, em 2007, para Democratas (DEM), era a sigla dos oligarcas de direita nos primórdios da redemocratização. Desde a aliança com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, contudo, foi migrando para o centro, movimento acelerado pela eleição de Bolsonaro, que ocupou o espaço mais à direita no espectro político. O protagonismo obtido na largada desta eleição pode dar à sigla um papel maior na aliança que ensaia com o PSDB e o MDB para 2022. O PSDB, maior vencedor em 2016, sofre até para reeleger seus prefeitos como Bruno Covas, em São Paulo, e Nelson Marchezan Jr., em Porto Alegre.

O viés de baixa tucano já se desenhava há dois anos, quando a bancada na Câmara caiu de 49 parlamentares para 29. Com isso, além de sofrer uma fuga de lideranças, viu o orçamento encolher em 2020, o que o obrigou a lançar menos candidatos a prefeito este ano, situação semelhante à do MDB. “A eleição nacional não é o somatório da eleição municipal, mas as municipais são um termômetro do que pode acontecer dois anos depois, sobretudo nas eleições para a Câmara”, avalia o cientista político Rubens Figueiredo.

FÉ NA VITÓRIA - Bruno Covas, em Aparecida (SP): triunfo em São Paulo é considerado estratégico para o PSDB – (Patrícia Cruz/Fotos Públicas)

Em teoria, a tríplice aliança de centro parece um negócio promissor para 2022. Na prática, muitos obstáculos precisam ser superados para fazer esse acordo prosperar até lá. A má performance do PSDB e do MDB que se avizinha não é o único problema para a frente. Para um eleitorado cada vez mais sensível ao tema corrupção, o passado recente não ajuda. O MDB foi um dos partidos com mais investigados na Lava-Jato, enquanto o PSDB viu cair nas malhas da operação líderes como os ex-governadores Aécio Neves (MG), José Serra (SP) e Geraldo Alckmin (SP). Na quarta 14, um dos políticos do DEM se habilitou para um lugar de honra na galeria dos maiores vexames da política nacional. Em operação de combate a fraudes na saúde, a Polícia Federal apreendeu 30 000 reais na casa do senador Chico Rodrigues (DEM-­RR), sendo que parte do dinheiro estava na cueca do parlamentar. Em uma escala de constrangimento bem menor que essa, o antecessor de ACM Neto à frente do partido, Agripino Maia, é réu acusado de receber propina para destravar o financiamento da Arena das Dunas, em Natal. A sigla carrega ainda no currículo o chamado Mensalão do DEM, escândalo de corrupção que fez José Roberto Arruda, do Distrito Federal, se tornar o primeiro governador encarcerado no exercício do mandato.

Problema de imagem não é o único. Há um outro, também preocupante: a falta de nomes viáveis para enfrentar Bolsonaro ou a esquerda em 2022. Embora se apresente com boas credenciais para a disputa, o governador João Doria (SP) enfrenta resistências até dentro do PSDB, onde há quem prefira o governador Eduardo Leite (RS). No DEM, também há absoluta falta de alternativas. A exceção é o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), que apareceu com 5,7% das intenções de voto para presidente, à frente de Doria (4,6%) em levantamento do Paraná Pesquisas em julho. Há ainda o grande dilema para uma frente de centro: haverá espaço para tal composição ou 2022 vai repetir a polarização que se viu em 2018? O bom desempenho do DEM na corrida pelas prefeituras e as más performances até aqui do PT e do bolsonarismo nas pesquisas talvez sejam um indicador de que há, sim, um caminho a ser explorado em meio a essa radicalização. Em política, como se sabe, é muito arriscado decretar a morte de um partido ou dizer “impossível”.

Publicado em VEJA de 21 de outubro de 2020, edição nº 2709

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