Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Decisão sobre Battisti simboliza a política exterior hipócrita do governo Lula

Por Carlos Graieb 31 dez 2010, 15h51

Para manter o criminoso italiano Cesare Battisti no Brasil, o presidente Luis Inácio Lula da Silva amparou-se num despacho da Advocacia Geral da União que é nada menos que espantoso. O argumento central do despacho é que, de volta à Itália, Battisti poderia ver sua situação pessoal agravada. O “agravamento da situação pessoal” é uma das hipóteses que permitem a Brasil ou Itália negar uma extradição, segundo o tratado bilateral que regula o tema.

Fernando Luiz Albuquerque Faria, advogado-geral substituto que assina o documento, raciocina da seguinte forma: “Na Itália, as opiniões polarizam-se e concretizam-se em vários atos, a exemplo de entrevistas, manifestos e passeatas. Esses fatos constituem substrato suficiente para configurar-se a suposição de agravamento da situação de Cesare Battisti caso seja extraditado para a Itália.”

Entrevistas, manifestos e passeatas: essas seriam, em suma, as armas terríveis das quais o criminoso de estimação do governo Lula teria de ser protegido. A menos, é claro, que o governo brasileiro tenha outro tipo de temor. “Agravamento da situação pessoal” é uma expressão que faz pensar em prisões infectas como as de Cuba, ou em penas de apedrejamento, como as do Irã. Faz pensar em países cujas instituições são frágeis e corroídas pela arbitrariedade.

É assim que o governo Lula considera a Itália? Obviamente, todos os documentos oficiais hoje divulgados – a nota oficial da presidência, o parecer e o despacho da AGU – se apressam em negar essa hipótese. O parecer, em português torto, diz que não há “nenhuma bravata à história e à dignidade da Itália”; o despacho afirma que inexiste “avaliação negativa sobre as instituições atuais ou passadas da República Italiana”.

Nem poderia ser de outra forma. A Itália é uma democracia de pleno direito, e não uma ditadura. Mas coisas espantosas passam pela cabeça das autoridades do governo Lula. Nunca é demais lembrar a frase de Tarso Genro sobre o caso Battisti, quando ele ainda era Ministro da Justiça: “A Itália de hoje não é um país nazista ou fascista, embora o movimento fascista lá seja forte e galopante, inclusive em setores do governo.”

Continua após a publicidade

Ou governo brasileiro ofendeu a Itália de maneira espantosa – ainda que velada – ou o embasamento jurídico da decisão de não extraditar Battisti é uma piada.

Ao longo de seu mandato, Lula não hesitou em justificar as brutalidades de ditaduras como Irã e Cuba. Tomou o partido dos tiranos e tripudiou sobre os que são oprimidos por eles ao falar dos casos da iraniana Sakineh Ashtiani e do dissidente cubano Gillermo Farinas. Num episódio que serve de contraste para o de Cesare Battisti, o governo Lula deportou sumariamente dois lutadores cubanos que, no Brasil para disputar os jogos PanAmericanos, sonharam em fugir para sempre do inferno onde ainda reina o comandante Fidel Castro. À época ministro da Justiça, Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul, disse que os lutadores queriam voltar ao lar. A fuga de um deles da ilha, meses mais tarde, o desmentiu e ridicularizou. Mas o que importa o ridículo a políticos como Lula, Genro e o chanceler Celso Amorim, guiados por um misto rançoso de ideologia esquerdista e pragmatismo?

A decisão de manter no Brasil o terrorista italiano Cesare Battisti, julgado e condenado em seu país natal pelos assassinatos de um açougueiro, de um joalheiro, de um agente penitenciário e de um agente de polícia – crimes comuns e não políticos na visão dos tribunais italianos e também na visão do Supremo Tribunal Federal brasileiro, que por essa razão autorizou sua extradição no final de 2009 – simboliza à perfeição a política exterior hipócrita e nauseante adotada pelo governo Lula, de triste memória, no campo dos direitos humanos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.