Dancinha no TikTok não basta pra atrair eleitor jovem, dizem especialistas
As campanhas dos principais candidatos à Presidência estão de olho nesse público, mas ainda patinam na estratégia
“Meu governo herdou uma dívida bilionária, mas já deu um salto na atração de investimentos e geração de empregos. Cortamos mais de 50 mil cargos, redução de 21 para 12 secretarias. Economia de 30 milhões de reais com redução de gastos com frota.” Esse é o discurso político do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em um desajeitado vídeo de 11 segundos no TikTok, em que dá saltinhos e aponta para os textos que pipocam na tela. A aparição desengonçada do mineiro coloca em evidência a tentativa de políticos conversarem diretamente com o público jovem, um universo estimado de 29 milhões de votos na faixa etária entre 16 e 24 anos, que pode fazer a diferença nas urnas neste ano.
Zema não está sozinho na cruzada pelo coração e pelas mentes da juventude. As campanhas dos principais candidatos à Presidência estão de olho nesse público, mas ainda patinam na tentativa de dialogar diretamente com uma faixa etária mais avessa a discursos engessados e mais entusiasta de redes sociais. O ex-governador João Doria (PSDB) tentou surfar na onda do sucesso de Envolver, hit de Anitta. O tucano gravou um vídeo no TikTok em que trocou o traje social por uma camisa cinza mais despojada, deixando de lado por alguns segundos o estilo “coxinha” para parabenizar a artista e convocando os eleitores para tirar o título.
“Olha aí, pessoal. Parabéns. Top número 1. Conseguimos chegar lá, Anitta. Agora você pode e deve tirar o seu título de eleitor”, falou o tucano. Já a recém-criada conta do TikTok da senadora Simone Tebet (MDB) reúne apenas 1,8 mil seguidores – a de Lula, por exemplo, possui 154 mil. Tebet até tenta gerar engajamento, ao postar vídeos sobre desemprego, feminicídio, racismo e o preço dos combustíveis – sempre encerrados com a mensagem “Uma nova esperança para o Brasil”.
“Não há como negar o avanço da tecnologia e que os jovens dominam essas novas ferramentas de forma impressionante. Mas não basta isso para conquistar o jovem. A forma com que essas ferramentas são utilizadas é o que importa. A gente vê cada vez mais as danças de funk fazendo o maior sucesso, mas será que todos os políticos compreendem o funk como cultura, lazer? E será que o jovem está disposto a votar nesse político que criminaliza o funk, por exemplo?”, questiona a cientista política Bruna Silva, da PUC-MG e integrante da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), que estuda movimentos sociais de renovação política.
“Nós vemos muitos políticos no TikTok e seus vídeos nem sempre são atraentes, não há intimidade com a tecnologia e, então, acabam ridicularizados. Da mesma forma que a política está aprendendo a lidar com essas novas ferramentas, também está conhecendo os consumidores desses aplicativos, e não é fácil. Não é fácil alcançar esse público porque ele não está disposto a abraçar uma política tradicional que não compreende seus anseios”, acrescenta Silva.
Por ora, as pesquisas de intenção de votos indicam a preferência do eleitor jovem por Lula em detrimento aos oponentes. Em março, o Datafolha mostrou que a proporção de jovens de 16 a 24 anos que votariam em Lula (51%) era maior do que a de Bolsonaro (22%), de Ciro Gomes (6%) e de João Doria (3%). A maior diferença na comparação com o resultado geral foi justamente em favor do petista, que teve a preferência de 46% do total de entrevistados, ante 26% do presidente; Ciro manteve os 6% e Doria registrou 2%. O nome do ex-juiz Sergio Moro foi incluído no levantamento e ficou em terceiro lugar em ambos os casos.
“O Lollapalooza escancarou o desgaste do Bolsonaro entre os jovens, e especialmente porque ao tentar calar os jovens, os jovens reagiram de uma forma muito maior. Ao tentar reprimir os jovens, reagiram de maneira mais intensa, seja presencialmente no evento, seja nas redes sociais, criticando o presidente. Ao tentar calar, reagiram no ambiente virtual e real mais vigorosamente. Transformaram os protestos, que eram restritos ao Lollapalooza, num episódio nacional”, avalia Camilo Caldas, diretor do Instituto Luiz Gama. “Foi ele tentar calar os jovens que aí o Brasil inteiro ficou sabendo de manifestação contra ele e a favor do Lula.”