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CPI da Petrobras tem maratona de ‘não-depoimentos’

Nenhum dos convocados pela comissão respondeu às perguntas dos parlamentares, que viajaram a Curitiba para ouvir Dirceu e executivos de empreiteiras

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 ago 2015, 12h46

Às 10h09 desta segunda-feira o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu entrou no auditório da Justiça Federal do Paraná para prestar depoimento a deputados da CPI da Petrobras que viajaram de Brasília a Curitiba. Escoltado por dois policiais, desceu a escadaria da sala da CPI com as mãos para trás e anunciou que não responderia a nenhuma pergunta dos parlamentares nem na reunião pública da comissão nem em uma sala reservada. Às 10h25, foi dispensado. O direito ao silêncio foi replicado seguidamente pelos outros quatro depoentes convocados pela comissão.

Perto de ser formalmente denunciado pelo Ministério Público por envolvimento no petrolão, o ex-homem forte do governo Lula ouviu calado a questionamentos como se era o líder da organização criminosa instalada na Petrobras, se cogita fazer acordo de delação premiada ou se é um “traidor do Brasil”. Tampouco respondeu a questionamentos sobre os serviços de consultoria que diz ter prestado e a Lava Jato aponta serem de fachada. “Já chamaram o senhor de guerreiro do povo brasileiro. Depois do mensalão e do petrolão, o senhor pode ser chamado de ladrão do povo brasileiro?”, provocou o deputado Delegado Waldir (PSDB-GO). Abatido, Dirceu permaneceu em silêncio.

Além de Dirceu, não responderam a qualquer pergunta dos congressistas o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Jorge Zelada, o presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, o ex-executivo da Odebrecht Antonio Bernardi e o executivo da Andrade Gutierrez Elton Negrão.

A maratona de não-depoimentos desta segunda-feira evidencia as dificuldades da CPI de colher informações relevantes sobre o escândalo de corrupção da Petrobras e a dependência dos parlamentares das oitivas como método de investigação. Desde que foi instalada em fevereiro, a comissão de inquérito pouco avançou na apuração do bilionário esquema de fraude em licitações e pagamento de propina envolvendo a estatal. Até hoje os deputados não conseguiram sequer conhecer o teor completo das delações premiadas que embasaram as principais linhas de investigação do petrolão.

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As suspeitas – Segundo o Ministério Público, José Dirceu, o primeiro depoente de hoje, foi uma das pessoas que instituiu o esquema criminoso do petrolão, responsável por movimentar mais de 6 bilhões de reais a partir de fraudes em contratos da Petrobras e do pagamento de propina a agentes públicos. E mais: o juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato em Curitiba, afirmou, no despacho que autorizou a prisão preventiva do ex-ministro no início de agosto, que há indícios de que o petista praticava crimes de forma profissional e habitual. Uma das evidências, apontou o magistrado, é que Dirceu continuou a receber propina mesmo depois de já condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa no julgamento do mensalão.

Sucessor de Nestor Cerveró na diretoria da Área Internacional da Petrobras, Jorge Zelada permaneceu pouco mais de 30 minutos sentado diante dos parlamentares da CPI, mas também se recusou a fornecer informações. Foi provocado pelo deputado Altineu Cortes, que disse que “a Área Internacional da Petrobras com certeza é uma das mais corruptas”, mas ainda assim não se pronunciou. Zelada é o quarto ex-diretor da Petrobras a responder formalmente a uma ação penal por conta do escândalo do petrolão e teve cerca de 11 milhões de euros bloqueados em uma conta em Mônaco. A principal suspeita contra ele é a de ter recebido propina para beneficiar a empresa americana Vantage Drilling no contrato de afretamento do navio-sonda Titanium Explorer. Segundo a acusação do MP, pelo menos 31 milhões de dólares do esquema foram parar nas mãos de Zelada, do ex-diretor geral da área Internacional da estatal Eduardo Musa e do PMDB, responsável pelo apadrinhamento político do ex-dirigente.

Presidente da Andrade Gutierrez, o executivo Otávio Marques de Azevedo também permaneceu em silêncio diante dos questionamentos dos parlamentares, mas sua presença motivou uma pequena discussão entre os deputados Bruno Covas (PSDB-SP) e Maria do Rosário (PT-RS) sobre a legitimidade de doações empresariais para campanhas políticas. A petista criticou a decisão do Congresso de não barrar doações eleitorais de pessoas jurídicas e foi contestada por Covas. “O problema não é a doação de empresas. O problema é o pixuleco, a propina, a safadeza, a malandragem, o desvio de recursos, o aviltamento, a corrupção”, disse. Segundo as investigações, foram mapeados 243 milhões de reais desviados pela Andrade Gutierrez entre 2007 e 2010 no escândalo do petrolão, divididos em 106 atos de corrupção ativa, 61 de corrupção passiva e 62 lavagens de dinheiro.

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A exemplo dos demais depoentes, o ex-executivo da Odebrecht Antonio Bernardi Filho ficou calado e não respondeu às perguntas dos deputados. Mas foi ironizado pelos parlamentares por ter sua propina roubada a poucos metros da Petrobras. Bernardi, apontado pelas investigações como um dos responsáveis por lavar dinheiro sujo para o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, chegou a ser roubado no Rio de Janeiro momentos antes de repassar 100.000 reais em propina na Petrobras. “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”, disseram os deputados Altineu Cortes e Delegado Waldir ao depoente.

De acordo com os investigadores, o executivo se aliou ao ex-diretor Renato Duque em um esquema para favorecer a empresa multinacional italiana de equipamentos de perfuração Saipem. Entre janeiro e agosto de 2011, diz a acusação, Bernardi ofereceu propina a Duque para favorecer a Saipem na contratação da obra de instalação de um gasoduto submarino de Interligação dos campos do pré-sal de Lula e Cernambi. Em 2012, para ocultar fraudes antecedentes e dar ares de legalidade aos benefícios repassados a Duque, João Bernardi comprou em nome próprio ou em nome da empresa Hayley do Brasil, também envolvida na trama de irregularidades, obras de arte em favor do ex-diretor da Petrobras.

Último a depor nesta segunda-feira na CPI da Petrobras, o executivo Elton Negrão, da Andrade Gutierrez, ouviu todas as perguntas dos deputados, mas também se recusou a prestar esclarecimentos. Ele foi questionado sobre se teria recebido ordem para desviar dinheiro para campanhas políticas ou se tem conhecimento sobre quem seria o chefe do esquema do petrolão.

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