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Hang diz que não sabia da omissão de Covid-19 no atestado de óbito da mãe

O bolsonarista é suspeito de integrar o chamado 'gabinete paralelo' do governo Bolsonaro e de financiar a disseminação de fake news

Por Da Redação
Atualizado em 29 set 2021, 17h19 - Publicado em 29 set 2021, 10h35

A CPI da Pandemia ouviu nesta quarta-feira, 29, o depoimento empresário Luciano Hang. O bolsonarista é acusado de pertencer ao chamado “gabinete paralelo” do governo Bolsonaro para assuntos referentes à pandemia de Covid-19, promovendo ideias ineficazes, como o “tratamento precoce” com hidroxicloroquina e ivermectina. Além disso, é suspeito de financiar a disseminação de fake news. Antes de iniciar seu depoimento, Hang se recusou a assinar compromisso de dizer a verdade por, segundo seu advogado, estar na condição de investigado.

O depoimento

Durante sua fala inicial, o empresário disse que é “acusado sem provas” pela CPI e é “perseguido” por expressar opiniões. Afirmou ainda que não conhece e não faz parte de um “gabinete paralelo”, além de negar ter financiado a divulgação de fake news. Hang também disse que não é “negacionista” e que sempre defendeu a vacinação. O depoente citou doações de insumos para a Amazônia e lembrou da defesa que fez para que a iniciativa privada pudesse comprar vacinas.

“Não sou negacionista. Nunca neguei ou duvidei da doença. Tanto que minhas ações não ficaram só no discurso. Mandei 200 cilindros de oxigênio para Manaus, no valor de 1 milhão de reais. Respiradores, máscaras, camas, utensílios. Não sou nem nunca fui contra vacina. Tanto que disponibilizei todos os nossos estacionamentos como pontos de vacinação. Além disso, juntamente com outros empresários, fizemos campanha para que a iniciativa privada pudesse comprar [vacinas] para doar e ajudar o país a acelerar o processo de imunização”, afirmou.

O depoente informou também, ao ser indagado pelo relator Renan Calheiros, que mantém três empresas em paraíso fiscal, assim como tem “duas ou três contas” no exterior. Afirmou, contudo, que todas estão devidamente declaradas e regularizadas na Receita Federal. As contas fora do país são mantidas, segundo o empresário, porque empresa importa produtos. Por isso, é uma questão de segurança manter tais contas para se proteger das oscilações do dólar. Hang também negou ter recebido financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou de outras instituições públicas.

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As respostas irritaram senadores da oposição e a sessão chegou a ser suspensa diante das discussões e do pedido para que um dos advogados de Hang deixasse a sala por ter supostamente ofendido o senador Rogério Carvalho. Antes da interrupção, o presidente da CPI, Omar Aziz, também pediu para que os cartazes levados pelo empresário fossem entregues. Um deles levava a frase ‘não me deixam falar’. Senadores também afirmaram que Hang estaria usando o espaço para “propaganda política” ou divulgação de suas lojas.

Após a confusão, a sessão foi retomada e o advogado Murilo Varasquim se desculpou com Carvalho e pediu para seguir acompanhando seu paciente. O senador petista aceitou e pediu que o defensor não volte a interferir no pronunciamento dos parlamentares. Aziz, então, reconsiderou a decisão e manteve os dois advogados de Hang na sala e o orientou a não atrapalhar a fala dos senadores.

Questionado por Renan Calheiros se havia mentido no vídeo que diz que sua mãe poderia ter sido salva se tivesse recebido medicamentos do kit Covid de forma preventiva, o bolsonarista negou e confirmou que ela foi, sim, medicada com remédios ineficazes contra o novo coronavírus. Hang ressaltou que no vídeo ele se referia a medidas que poderiam ter sido adotadas antes da infecção e que supostamente ajudariam a fortalecer a imunidade de sua mãe. “Preventivo é uma coisa e [tratamento] inicial é outra. São duas coisas diferentes”, afirmou.

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Como a situação da paciente, que tinha comorbidades, piorou após ser infectada pelo coronavírus – ela chegou a ficar com 95% do pulmão comprometido – ele decidiu pela internação na Prevent Senior após recomendações de amigos. O empresário confirmou que sua mãe, ainda antes de ser internada, começou a tomar remédios como cloroquina, ivermectina e azitromicina, além de ser submetida a ozônioterapia. O depoente disse ainda que ele mesmo fez e faz uso do tratamento precoce. Hang afirmou também que não vê interesse do hospital da rede em mentir sobre o prontuário de sua mãe. Renan Calheiros, contudo, disse que o caso caracteriza tentativa de “fraude” para não reconhecer que os medicamentos sem eficácia não teriam surtido efeito.

Hang disse que soube pela CPI da Pandemia que a Prevent Senior havia omitido a Covid-19 do atestado de óbito da mãe e que, só depois disso, procurou a rede de hospitais. O empresário teria recebido a informação de que um plantonista teria errado no preenchimento do documento. “Segundo eles, quem preencheu o atestado de óbito foi o plantonista. No dia seguinte, a comissão de controle de infecção hospitalar viu o erro do plantonista”, disse.

O requerimento

A convocação do dono da rede de lojas Havan foi requerida pelo do senador Renan Calheiros, relator da comissão. Pelas redes sociais, o empresário reagiu e ironizou os senadores em um vídeo no qual apareceu com uma algema em um braço e prometeu entregar uma chave a cada senador, para que o prendam se assim quiserem.

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No mesmo dia, o nome de Hang foi citado no depoimento de Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior. Foi em um dos hospitais próprios da rede, o Sancta Maggiore, em São Paulo, que a mãe do empresário, Regina Hang, de 82 anos, morreu em fevereiro deste ano.

Em vídeo publicado nas redes sociais, Luciano Hang aparece dizendo que a mãe poderia ter sido salva se tivesse feito “tratamento preventivo”. Porém, o prontuário de Regina Hang no Sancta Maggiore, obtido pela CPI junto ao hospital, indica que ela tomara, sim, hidroxicloroquina e ivermectina antes da internação. Já internada, ela teria sido submetida a ozonioterapia por via retal, tratamento vedado pelo Conselho Federal de Medicina por falta de comprovação de sua eficácia.

A Prevent Senior vem sendo acusada por médicos de incentivar a prescrição desses medicamentos, na contramão dos principais estudos científicos realizados desde o início da pandemia, além de outros problemas, como conluio com o gabinete paralelo pró-cloroquina.

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LEIA TAMBÉM: “Não existem provas contra mim”, disse Hang antes de depor no Senado

Causa mortis

Além disso, embora o prontuário indique que Regina Hang teve Covid-19, a doença não consta do atestado de óbito, contrariando recomendação expressa do Conselho Federal de Medicina. Hang admite que a mãe teve a doença, mas negou que essa tenha sido a causa da morte, alegando que já estava curada do coronavírus.

Segundo Renan Calheiros, o bolsonarista pediu aos médicos que não revelassem que sua mãe fizera o “tratamento precoce”. O objetivo, ainda segundo o parlamentar, seria não desmoralizar publicamente o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina, ineficazes contra a Covid-19.

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À CPI, Pedro Batista negou-se a responder sobre o caso de Regina Hang, invocando o sigilo médico. Porém, falando em tese, o diretor da Prevent Senior admitiu que em alguns casos o hospital Sancta Maggiore retirava a classificação de Covid-19 do prontuário de pacientes que deixavam de apresentar sintomas da doença. O fato foi confirmado pela advogada Bruna Morato, representante dos médicos que elaboraram um dossiê sobre a empresa.

Suspeita-se que o objetivo da Prevent Senior era gerar uma subnotificação de óbitos pela doença, favorecendo teses do “gabinete paralelo” de Bolsonaro. Em outro vídeo obtido pela CPI, Pedro Batista parece fazer a defesa da “imunidade de rebanho”, outra tese contestada pela ciência, segundo a qual seria melhor deixar o vírus circular livremente até não encontrar mais pessoas para infectar.

A convocação de Hang dividiu opiniões na CPI. Para Renan Calheiros, “a presença desse senhor nesta Comissão Parlamentar de Inquérito é mais do que recomendável”. Jorginho Mello votou contra a convocação do amigo e considerou “revoltante” a CPI “desrespeitar a memória da mãe do empresário” e pôr em dúvida “seu amor de filho”. O senador Marcos Rogério considerou “lamentável” a exposição pública das informações do prontuário de Regina Hang, “cobertas pelo sigilo, em proteção à intimidade do paciente”. Para Jean Paul Prates, por sua vez, Luciano Hang foi “desumano”, pois “não respeitou nem a própria mãe para defender o governo: deixou que a Prevent Senior falsificasse a causa da morte dela, ocultando a Covid-19”.

(com Agência Senado)

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