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Covas: negociações por CoronaVac foram suspensas após fala de Bolsonaro

Na CPI da Pandemia, o diretor do Instituto Butantan explicou sobre a produção da vacina CoronaVac e a relação do órgão paulista com o governo federal

Por Da Redação
Atualizado em 27 Maio 2021, 17h20 - Publicado em 27 Maio 2021, 06h49

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, prestou depoimento à CPI da Pandemia nesta quinta-feira, 27. O órgão paulista é o responsável pela produção no Brasil da vacina contra a Covid-19 CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac. O requerimento para sua convocação foi feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

O depoimento

Em seu discurso de abertura, Dimas Covas revelou que o instituto fez a primeira oferta de vacinas ao Ministério da Saúde em julho de 2020, ofertando 60 milhões de doses que seriam entregues no último trimestre. O governo federal não respondeu, segundo o diretor, e em agosto a proposta foi reforçada, juntamente com um pedido de apoio financeiro para o estudo clínico. Em outubro, após uma sinalização positiva da pasta, Covas refez um outro ofício e ofereceu 100 milhões de doses, com 45 milhões produzidas no ano passado e o último lote a ser entregue até março de 2021. Dias depois, o governo recuou após negativa do presidente Jair Bolsonaro. Ainda em dezembro, mesmo sem contrato com o ministério, segundo o diretor, o instituto já possuía 5,5 milhões de unidades prontas e 4 milhões em processamento. Só em janeiro o contrato para 46 milhões de doses e opção de compra adicional de 54 milhões foi assinado.

Sobre o recuo de Bolsonaro durante as tratativas, a CPI mostrou o vídeo de uma live do presidente feita no fim de outubro. Na gravação, o político afirma que não vai comprar a CoronaVac e diz, em recado ao governador João Doria: “Procura outro para pagar tua vacina aí”. Dimas Covas comentou que, depois das declarações de Bolsonaro, as negociações para a venda da CoronaVac ao governo federal foram suspensas.

“Isso mudou a perspectiva do próprio ministério. Todas essas negociações que ocorriam, com troca de equipes técnicas, troca de documentos, a partir desse momento elas foram suspensas”, afirmou o diretor do Butantan, que acrescentou que o “compromisso de incorporação” firmado entre as partes também ficou suspenso e só seria concretizado mais de dois meses depois, em 7 de janeiro. Em depoimento na semana passada, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello declarou que as falas de Bolsonaro eram apenas “políticas”, em reação a declarações do rival João Doria, e que não houve ordem direta do presidente a ele para interromper as negociações.

Ao abordar o tema do impacto das relações entre Brasil e China no combate à Covid-19, o relator Renan Calheiros citou reportagem de VEJA de 21 de maio sobre o pedido da Sinovac ao embaixador do Brasil em Pequim para que o governo Bolsonaro parasse de criar atritos com o país. Ao comentar, Dimas Covas citou outra reunião, com sua presença e a dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Marcelo Queiroga (Saúde) e do chanceler Carlos França em que o embaixador chinês no Brasil “deixou muito claro” que posições que são antagônicas e que desmerecem a China causam inconformismo do lado chinês. Dimas Covas frisou que a postura de França, que substituiu Ernesto Araújo no Itamaraty no fim de março, tem ajudado a “distensionar” as relações com a China e que a recente liberação de insumos pode ser o primeiro reflexo disso.

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Leia também: Com Dimas Covas, CPI fará autópsia do boicote de Bolsonaro à CoronaVac

Requerimento do diretor

Dimas Covas respondeu a questões sobre a produção do imunizante e a relação do Butantan com o governo federal. Desde o ano passado, o fármaco se tornou alvo de disputa política entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria. Bolsonaro chegou a dizer várias vezes que a vacina não seria adquirida pelo Brasil. Até o momento, o antígeno é o que mais foi aplicado no país.

“É necessária a oitiva do senhor Dimas Tadeu Covas para que esclareça todos os detalhes da atuação do Instituto Butantan desde o início da pandemia, especialmente com relação à produção de vacinas”, afirmou Alessandro Vieira.

Na última quarta-feira, 19, no primeiro dia de seu depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi amplamente questionado sobre falas do presidente Bolsonaro contrárias à aquisição da CoronaVac.

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Ao negar pressão presidencial contra a compra da vacina, Pazuello foi contestado por diversos senadores. Fabiano Contarato (Rede-ES) afirmou que, após crítica de Bolsonaro ao imunizante, o Ministério da Saúde cancelou a intenção de compra que havia anunciado, opinião ratificada por Zenaide Maia (Pros-RN), para quem o presidente da República “desautorizou” Pazuello no episódio da CoronaVac.

O senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou uma gravação com o presidente Bolsonaro dizendo que havia dado ordens para que não houvesse compra da CoronaVac. Ainda assim, o general negou que o presidente tenha ordenado que o contrato não fosse assinado, ainda em 2020.

Outros depoimentos

Dimas Covas foi o décimo a depor na CPI, que apura ações e possíveis omissões do governo federal no enfrentamento da crise sanitária, bem como eventual desvio de verbas federais enviadas a estados e municípios. Também já foram ouvidos os ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, o ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten, Carlos Murillo, representante da farmacêutica Pfizer, o ex-chanceler Ernesto Araújo, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro.

(Com Agência Senado)

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