Contra confrontos, grupos pró e anti impeachment terão ‘comitê de pacificação’ em Brasília
Movimentos se reuniram ao longo da semana com o governo do Distrito Federal. Apesar de apelos, muro está mantido
Não são apenas os corredores do Congresso Nacional que registram um movimento frenético na reta final para a votação do impeachment na Câmara. Nas ruas da capital federal, movimentos pró e contra a destituição da presidente Dilma Rousseff discutem com o governo do Distrito Federal como será a organização dos atos marcados na Esplanada dos Ministérios no próximo domingo.
A princípio, a Secretaria de Segurança Pública do DF havia aplicado uma série de restrições aos grupos, além de separá-los pelo chamado “muro do impeachment”. Por pressão das lideranças, algumas imposições foram relaxadas após a realização de ao menos seis reuniões – a última ocorrida ontem à tarde, com a presença do governador Rodrigo Rollemberg. Com a mediação de representantes da SSP, cada grupo cedeu de um lado. O pró-impeachment concordou em não inflar o pixuleco gigante, enquanto o contra não levará bandeirões com haste.
Estão liberados os minipixulecos e outros bonecos infláveis, como o Super Moro e o Pato da Fiesp. Discursos no carro de som são permitidos, mas sem provocações e ofensas ao grupo antagônico. Exposições orais só serão feitas por pessoas previamente cadastradas na SSP. A polícia já avisou que, se houver falas mais inflamadas, vai cortar o som dos veículos. “No começo o governo estava tolhendo a nossa liberdade, ao proibir os nossos símbolos. Mas nós conseguimos chegar a um bom termo. Numa mesa de negociação, todo mundo tem que ceder um pouco”, disse a procuradora aposentada Beatriz Kicis, de 54 anos, do Revoltados Online, que está acampada na frente do Congresso desde o dia 20 de março.
O governo da capital federal também elegeu entre os representantes dos movimentos o chamado “comitê da pacificação”. Beatriz é uma dessas “pacificadoras”. A função do grupo é acalmar os manifestantes mais exaltados, a fim de evitar confrontos. “Nós nos comprometemos a não fazer ofensas. Com esse esquema, confiamos que não vai ter conflitos”, disse ela. Os movimentos também pleitearam a retirada do muro e a liberação do gramado em frente ao Congresso Nacional. O governo não cedeu. Rollemberg explicou que, por causa da rampa, as pessoas podem cair e serem pisoteadas se ocorrer algum tumulto.
Alguns grupos, no entanto, não ficaram satisfeitos com as medidas. Renan Haas, um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre, que também já está em Brasília, afirmou que todo esse esquema de segurança visa “colocar medo nas pessoas” para elas desistirem de sairem às ruas. “É uma coisa meio fascistoide. Nós não vamos nem poder fazer discurso. Qualquer ponto contra o governo já é provocação, oras. Nós protocolamos primeiro [o pedido de protesto], eles [os anti-impeachment] que deveriam ir para outro lugar”, disse Haas.
Cada movimento ficou responsável por uma parte da estrutura do protesto. O Vem pra Rua vai levar um caminhão de som com telão para os manifestantes acompanharem a sessão, que deve durar cerca de oito horas. O Resistência Popular, que integra os movimentos Revoltados, Nas Ruas e Endireita Brasil, contratou dois carros de som e ficou incumbido de convidar alguns artistas para fazer shows. Os grupos já entraram em contato com Lobão e Danilo Gentili, mas eles ainda não confirmaram presença. “Queremos fazer algo como um festival”, disse Carla Zambelli, do movimento Nas Ruas. Segundo ela, também haverá um retroprojetor para reproduzir na parede do Congresso a frase “Tchau, querida” – em alusão à expressão usada por Lula para se despedir de Dilma num grampo divulgado pelo juiz Sergio Moro. O Brasil Livre pretendia promover uma queima de fogos para celebrar uma eventual aprovação do parecer pró-impeachment na Câmara. A polícia, no entanto, vetou qualquer tipo de explosivo no local.
Segundo a SSP, participaram das reuniões: a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores do Brasil, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Marcha Mundial das Mulheres, Partido dos Trabalhadores (PT), União Nacional dos Estudantes (UNE) Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Limpa Brasil, Movimento Brasil Livre e a Resistência Popular.
Em nota, a SSP informou que vai mobilizar cerca de 3.000 PMs para acompanhar os protestos. O efetivo ainda contará com agentes da Polícia Civil e com a Força Nacional, se houver necessidade. A preocupação das autoridades não é despropositada. Nas últimas vezes que os grupos se encontraram houve pancadaria e confronto.