Casa de lobista investigado reúne políticos, empresários e chefe da Anvisa
Em meio à pandemia, empresários da área de saúde procuram Silvio de Assis para tentar destravar pendências na agência reguladora
Todas as sextas-feiras, uma tradicional feijoada leva à mesa políticos, empresários e figuras influentes de Brasília em uma suntuosa casa no Lago Sul, região nobre da capital federal. A pandemia do coronavírus não impede a confraternização. Para garantir a higienização dos ilustres convidados, uma espécie de túnel de desinfecção foi instalada logo na entrada da casa. Na sequência, há um medidor portátil de temperatura e só depois que se chega ao amplo espaço ornado com mesas rigorosamente postas, sofás ao redor da piscina, garçons servindo whiskies e vinhos e uma mesa de sinuca para quem quer algum tipo diferente de diversão.
Conforme mostra reportagem de VEJA desta semana, a expectativa dos encontros, para além do cardápio recheado de comida tipicamente brasileira (o porco no rolete, uma vez por mês, é o grande sucesso), está nas possibilidades e facilidades que podem sair de lá. O anfitrião é o conhecido lobista Silvio de Assis, empresário que, justamente por sua habilidade de transitar com extrema desenvoltura entre os poderes, é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro, responde a uma dezena de processos por dar calote em funcionários e foi preso em 2018 no âmbito da Registro Espúrio, operação da Polícia Federal que investigou a venda ilegal de registros sindicais no Ministério do Trabalho.
Em meio à pandemia do coronavírus, o lobista arrisca avançar por um novo setor: o da saúde. No ano passado, o contra-almirante Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa, participou de um dos eventos da casa de Assis. Como se sabe, uma das estratégias mais utilizadas por lobistas que agem nos subterrâneos do poder é mostrar que eles têm acesso e, principalmente, influência junto a autoridades e políticos importantes. A ida de Barra Torres era a senha para isso.
A presença do chefe da Anvisa animou representantes e empresários da área médica e hospitalar, que passaram a acumular pedidos para Silvio de Assis ajudar a destravar demandas de interesse na agência. É essa, afinal, a sua principal fonte de renda. Pessoas que conhecem o método do lobista afirmam que Assis atua vendendo facilidades no governo e cobra, de forma antecipada, os honorários provenientes do que seria uma “taxa de sucesso”, que varia caso a caso.
A reportagem perguntou a Silvio de Assis o motivo da presença do chefe da Anvisa em seus encontros, inicialmente definidos como confraternizações entre “amigos pessoas e familiares”.
“O doutor Barra não é meu amigo, não tenho amizade, foi lá apenas uma vez. Eu o conheço, mas não tenho nenhuma intimidade, até porque ele é muito fechado. E, quero ressaltar, não tenho nada a ver com laboratórios, com medicamentos”, disse.
VEJA também tentou contato com o presidente da Anvisa e enviou uma série de questionamentos sobre como ele conhecia Silvio de Assis, se ele já recebeu alguma demanda do lobista e o motivo dos encontros na casa do Lago Sul. Não houve resposta.