Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Carta ao Leitor: Um roteiro repetitivo

Enquanto o presidente se dedica ao seu universo fantasioso, os problemas reais do país continuam contabilizando vítimas e prejuízos

Por Da Redação Atualizado em 13 ago 2021, 12h29 - Publicado em 13 ago 2021, 06h00
CONFRONTO PERMANENTE - Desfile de tanques e sessão do STF: anteparo legal contra arroubos antidemocráticos -
CONFRONTO PERMANENTE - Desfile de tanques e sessão do STF: anteparo legal contra arroubos antidemocráticos – (Pedro França/Agência Senado/Nelson Jr/)

Dia sim, no outro também, o noticiário no Brasil é inundado pela possibilidade de um golpe orquestrado pelo presidente Jair Bolsonaro. O roteiro é mais ou menos semelhante. De modo irresponsável, o presidente diz barbaridades ou articula movimentos que afrontam o estado democrático de direito. Representantes da sociedade civil e de outros poderes reagem contra a investida, a turma do deixa-­disso intervém, Bolsonaro recua, diz que não é nada disso, e a situação se normaliza. Até que… como se nada tivesse dito, ele reinicia o processo. Com esse comportamento ciclotímico, a atual cena política brasileira faz lembrar a trama do filme Feitiço do Tempo, de 1993, em que o pior dia do protagonista, interpretado por Bill Murray, se repetia indefinidamente. Enquanto o presidente se dedica ao seu universo fantasioso, os problemas reais do país — pandemia, desemprego e alta carga tributária, para citar apenas alguns — continuam contabilizando vítimas e prejuízos.

Nesta semana, o clímax dessa desagradável sequência ganhou ares de superprodução com o desnecessário desfile de tanques pelas ruas de Brasília. A suposta demonstração de força — caracterizada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, como uma “trágica coincidência” — aconteceu exatamente no dia da votação sobre o voto impresso, obsessão bolsonarista, que acabou fragorosamente derrotada no Congresso. Evidentemente, o enredo terminou como o usual, com as reações de praxe ao descalabro presidencial e a certeza de que o país não sofrerá um novo golpe. Mas sabemos também que novas ameaças à democracia, de forma direta ou indireta, serão realizadas em breve. Essa é a maneira pela qual Bolsonaro escolheu se posicionar até a eleição de 2022, uma mistura de estratégia para mobilizar sua base mais radical com a influência que recebe de pessoas que alimentam seus delírios autoritários e teorias conspiratórias (veja reportagem sobre os assessores Mosart Aragão e Max Guilherme, que começa na pág. 40). É uma lástima.

Felizmente, o Brasil não é mais a república das bananas que certas mentes deturpadas e limítrofes acreditam ser. Embora a imagem do país no exterior esteja péssima em razão dessas trapalhadas, nossas instituições têm demonstrado profunda resiliência às instabilidades provocadas e um grau de maturidade histórico — tanto no Poder Legislativo quanto no Judiciário. No Supremo Tribunal Federal, conhecido pelas enormes divergências em relação a diversos temas, existe uma reprovação total ao comportamento do presidente e seus asseclas. Nessa toada, tem papel de destaque o ministro Alexandre de Moraes, que concentra as principais investigações criminais contra Bolsonaro e aliados: fake news, atos antidemocráticos e interferência na Polícia Federal. Como mostra a reportagem que começa na página 26, Moraes hoje é a principal muralha contra os arroubos exacerbados do presidente e tornou-se um elo de coesão entre as diversas alas do STF. Ainda que suas decisões muitas vezes sejam consideradas heterodoxas na visão de alguns de seus pares, sua atuação hoje é a garantia de que esse repetitivo e desagradável roteiro — que contraria a Constituição — terá, pelo menos, um final feliz.

Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.