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Carlos Fernando: Se até corrupto pode concorrer, por que não a Lava-Jato?

Ex-procurador diz ser natural a entrada de Sergio Moro e Deltan Dallagnol na política e afirma que movimento não macula imagem da investigação

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 nov 2021, 17h54

O ex-procurador da Lava-Jato Carlos Fernando dos Santos Lima sentou-se nas últimas fileiras do auditório no centro de Brasília para acompanhar na quarta-feira, 10, o ato de filiação partidária do ex-juiz Sergio Moro e o discurso em que confirmaria sua pré-candidatura à Presidência da República. Era o único representante da operação a acompanhar in loco Moro vestir o figurino de presidenciável e se apresentar para enfrentar o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2022. O movimento do ex-juiz, seguido também pelo ex-chefe da força-tarefa de Curitiba Deltan Dallagnol, levou a classe política a afirmar que a Lava-Jato sempre teve objetivo eleitoral, o que Santos Lima refuta. Em entrevista a VEJA, o advogado e ex-mentor de Dallagnol nas investigações sobre o escândalo de corrupção na Petrobras diz que o revanchismo da classe política era esperado, afirma ser natural que ambos passem para o outro lado do balcão e provoca: “se até corrupto pode concorrer, deixem a Lava-Jato ser julgada pelas urnas”.

Moro e Dallagnol vão entrar para a política. Isso não endossa o discurso de que a Lava-Jato atuou politicamente contra seus alvos? Eles têm vocação para a vida pública. Eles acreditaram que era possível combater a corrupção dentro do sistema judiciário, e isso é um equívoco porque nosso sistema não foi feito para funcionar para poderosos. Moro e Deltan são pessoas muito idealistas e realmente acreditam no combate à corrupção e no aperfeiçoamento da nossa democracia. O mensalão e a Lava-Jato foram pontos fora da curva. A reação foi grande a tal ponto que não restou a Deltan outro caminho que não fosse buscar uma nova vida dentro da política.

Quais foram as reações políticas mais evidentes? Estamos vendo uma campanha muito grande de perseguição contra membros da Lava-Jato. Diogo Castor [procurador que atuava na força-tarefa de Curitiba] foi punido por ter pago do seu próprio bolso um outdoor [para a promoção do trabalho dos procuradores]. Havia uma punição encomendada aos membros da Lava-Jato, e Deltan saiu no momento certo antes que conseguissem consumar isso. Se demitem por causa de um outdoor, achariam algo para punir o Deltan e o demitir. Na recondução dos membros do CNMP, dois não foram reconduzidos e eles mesmo alertaram que estavam sendo pressionados para garantir a punição de procuradores da Operação Lava-Jato.

É a revanche da classe política? É natural que a reação da classe política ocorra, que haja uma perseguição, mas a Lava-Jato não inventou as provas, não fez uma vaquinha para recolher 6 bilhões de reais para devolver para a Petrobras. As provas estão lá. Os procuradores, por um discurso genérico de abuso, vão ser punidos, enquanto nem mesmo ao julgamento ético no Congresso Nacional os políticos se submetem. Há muita hipocrisia da classe política. Quando há votações sobre mudanças nas regras de controle ou contra a Lava-Jato, o PT vota com o Bolsonaro. Quando Centrão, PT e bolsonaristas votam contra a Lava-Jato é a maior prova que a Lava-Jato tem alguma razão.

Qual o papel do STF na decisão de Moro e Deltan entrarem para a política? O procedimento de suspeição do Moro é absolutamente sem sentido. O Gilmar Mendes diariamente fala, age como parte, e não como ministro do Supremo. A hipocrisia é geral. A Lava-Jato já estava pagando o preço. Falar que a entrada de Moro e Deltan na política descrebiliza a Lava-Jato é uma discussão ilusória que só serve para o público interno da política. Se a legitimidade democrática é tamanha que dá garantia até para corrupto concorrer, deixem a Lava-Jato ser julgada pelas urnas. Quem está com medo da democracia me parece que é a classe política atual.

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Em suas campanhas eles terão de explicar erros da Lava-Jato, como a divulgação da delação do ex-ministro Antonio Palocci às vésperas da eleição e as mensagens em que combinavam estratégias da operação. Questões como a conversa Lula-Dilma, a delação do Palocci e a entrada de Moro no governo Bolsonaro são coisas que já estão jogadas no ar e contabilizadas. A Lava-Jato ainda é uma força, em termos de apoio popular, muito grande. Os nomes de Deltan e Moro estão apanhando e vão apanhar porque as pessoas temem. Se eles não fossem nada, não haveria essa reação toda.

Até entre investigadores havia a percepção de que a entrada de Moro e Deltan na política era uma questão de tempo. Creio que quem tem uma vocação política, para mobilização social, para campanhas e para realmente fazer diferença é o Deltan Dallagnol. Os limites de se atuar no Ministério Público e no Judiciário são muito estreitos. Vemos o quanto no final das contas os processos não dão em nada. Com certeza Moro jamais pensou em ser presidente da República. Poderia ter uma ambição de no futuro ser ministro do Supremo, como qualquer um dos ministros do Supremo teve um dia. Acho natural que ele seja candidato a presidente. Não sei se é o melhor candidato, porque eu voto no que tiver condições de eliminar o Bolsonaro e o Lula.

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