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Cabral e Paes revogam decisões para conter protestos

Estratégia que serve para evitar novas ocupações e conflitos nem sempre é boa para a população, como mostra o tombamento das ruínas do Museu do Índio

Por Da Redação
13 ago 2013, 17h57

As decisões de maior impacto nas últimas semanas, no âmbito do governo estadual e da prefeitura do Rio, são referentes não ao que se pretende fazer, mas ao que o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes desistiram de levar adiante. Assim, arrependendo-se ou revendo medidas impopulares, os dois governantes do PMDB tentam evitar que mais passeatas e ocupações continuem a corroer suas reputações, no estado onde a inquietação, os mascarados e as invasões de prédios públicos mantiveram-se a pleno vapor – apesar de levar um número bem menor de manifestantes. A estratégia cria uma armadilha: recuar em favor dos manifestantes pode ser bom para acalmar os protestos, mas nem sempre é bom para a população. No caso do tombamento do antigo Museu do Índio, decisão publicada na segunda-feira no Diário Oficial do Município, o poder público passa a se obrigar a restaurar e preservar uma construção em ruínas onde a única tribo realmente presente é a dos manifestantes.

Paes e Cabral tentam antever qual o próximo foco de indignação. Do outro lado da rua, manifestantes computam as conquistas como prova de que estão certos, e de que devem manter as passeatas, ocupações, gritos de guerra e até o vandalismo – numa estratégia suicida e que só serve para causar, para os protestos, o desgaste político que os manifestantes desejam para os governos. Na noite de segunda-feira, os jovens mascarados que entraram em confronto com a polícia descobriram – talvez chocados – que seus pares também mentem descaradamente entre si. Enquanto o protesto estava concentrado na Câmara Municipal, um eloquente portador de um megafone anunciou “a tomada do Palácio Guanabara”. Em êxtase, um grupo animado seguiu caminhando do centro para Laranjeiras, quase num clima de comemoração pela conquista de mais um território no tabuleiro do jogo. Uma vez em frente à sede do governo, descobriram que não havia ocupação, e que foram atraídos para uma tentativa de causar mais um tumulto – o que se confirmou em seguida.

No Maracanã, o milagre da multiplicação dos índios

Manifestantes voltam ao Palácio Guanabara

Nesta terça-feira, após mais uma noite de protestos e quebra-quebra em frente ao Palácio Guanabara, Cabral fez um diagnóstico que é quase um desabafo: afirmou que os manifestantes querem desgastar o governo, ou “as forças públicas e policiais”. Cabral está certo, mas o objetivo dos manifestantes é ainda mais agressivo. Querem “derrubar” o governo – ou não pediriam “fora Cabral”. A intenção é golpista, sem dúvida, mas, chamá-la assim não torna mais fácil a situação do ocupante da cadeira, particularmente às vésperas de uma campanha eleitoral.

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As medidas do governo do estado e da prefeitura que têm surtido mais efeito são mesmo os recuos. O mais recente deles, por parte do governador, foi a decisão de devolver verbas públicas usadas em viagens privadas. Em reação a uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo de domingo, os assessores do governador informaram que Cabral decidiu devolver aos cofres públicos 1.525,40 reais referentes a duas diárias de viagens internacionais feitas em maio de 2008. O valor foi recebido como se o governador estivesse a trabalho, enquanto estava, na Bélgica, dois dias antes da agenda oficial que cumpriria em Paris.

Sérgio Cabral é novato nesse ramo: passou a manifestar arrependimento publicamente há duas semanas, depois de constatar o desmanche de sua popularidade e de admitir, em uma entrevista de rádio, que falhou ao não dialogar. Desde então, a Polícia Militar do estado passou a adotar nomes e identificações nas fardas, quando atuam em manifestações de rua; desistiu de demolir o estádio de atletismo Célio de Barros e o parque aquático Júlio Delamare. Cabral também desistiu de usar helicópteros oficiais para ir diariamente do Leblon ao Palácio Guanabara, e publicou um decreto que regulamenta o uso de aeronaves públicas pelos integrantes do governo – algo que, se não substitui a ética, põe pelo menos no papel como a coisa deve funcionar.

Já o prefeito é experiente na arte de recuar. Alvo de uma série de piadas, em uma página da internet, por suas repetidas mudanças de posição – entre elas a de fechar a Avenida Rio Branco para o trânsito de veículos, o prefeito carioca foi o artífice de um recuo decisivo na história recente das duas maiores cidades brasileiras: partiu dele a iniciativa de revogar o aumento das passagens em junho, anunciado simultaneamente no Rio e em São Paulo, para as tarifas municipais e estaduais.

A ocupação que recebe mais atenção no momento é a da Câmara Municipal, onde um grupo de manifestantes entrou na manhã de sexta-feira. Os manifestantes e os vereadores de oposição querem a renúncia do presidente da CPI dos Ônibus, Chiquinho Brazão, do PMDB, e de seus três aliados – o único integrante que assinou o requerimento para criação da comissão foi Eliomar Coelho, do PSOL. Por enquanto, não há recuo: amparado pelo regimento da Casa, Brazão não abre mão da presidência, e Paes, para não ter o nome diretamente envolvido em mais um problema, mantem-se publicamente distante de sua base no Legislativo. Integrantes da oposição, no entanto, já cobram a intervenção do prefeito no impasse – em parte para desfazer o nó, certamente, mas também para tentar colar nele mais um desgaste.

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