Bolsonaro se enrola em resposta sobre encontro com Luis Miranda
Antes de motosseata em Porto Alegre, presidente falou de reunião com o deputado, irmão do servidor que denunciou esquema na compra da vacina Covaxin
Em meio ao desgaste de sua imagem com as denúncias na CPI da Covid e as últimas pesquisas de intenções de votos em 2022 que mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com ampla vantagem nas urnas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou na manhã deste sábado, 10, de uma motosseata em Porto Alegre. Como tem ocorrido em vários eventos públicos com grandes aglomerações que participa, o presidente ignorou as regras de saúde pública e apareceu sem máscara, assim como as pessoas que o acompanhavam. Após visitar Bento Gonçalves, Bolsonaro seguiu direto para a manifestação organizada por apoiadores, que estava marcada para ter início às 10h e percorreria 70 quilômetros pela capital gaúcha. Pouco antes, no entanto, se enrolou ao falar das denúncias de compra de lotes da vacina indiana Covaxin superfaturados.
Durante uma entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente confirmou ter se reunido com o deputado Luis Miranda (DEM-DF), mas logo depois sugeriu não se lembrar. Questionado sobre a afirmação de Miranda sobre o esquema de corrupção na compra da vacina Coaxin, denunciado à CPI da Covid no Senado Federal, Bolsonaro disse apenas que “ele pediu audiência para falar comigo sobre vários assuntos”. Em seguida, alegou: “Não respondo sobre reunião. Tenho reunião com cem pessoas por mês. Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, tomar providência imediatamente. Tomei providência nesse caso. Compramos uma dose?”, acrescentou. Ainda em sua fala à rádio, o presidente afirmou que o governo não gastou “um real” com a vacina e que os fatos narrados na CPI da Covid sobre o superfaturamento do imunizante são uma “história fantasiosa”. Também atacou os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Omar Azis (PSD-AM), chamando-os de “bandidos”.
Após a motosseata, o presidente falou aos apoiadores sobre a suspensão da compra da vacina envolvida no escândalo de corrupção. Disse que a decisão foi tomada devido a controles governamentais e, sem seguida, argumentou: “Dois anos e meio sem corrupção. Querem agora imputar um crime a mim de corrupção, onde uma dose sequer foi comprada da vacina.” Logo depois, prosseguiu: “Porque temos filtro, temos controle”. No final de junho, o governo suspendeu temporariamente o contrato de aquisição da vacina Covaxin, sob orientação da Controladoria-Geral da União (CGU), dias depois dos depoimentos à CPI da Covid dados pelo deputado Luís Miranda e seu irmão, o chefe de importação do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda, que denunciou o suposto esquema de superfaturamento do imunizante.
O deputado Luis Miranda publicou em 5 de julho um vídeo em seu perfil no Twitter mostrando o registro da reunião na qual integrantes do governo federal negociaram doses da vacina contra Covid-19 Covaxin por US$ 10. O valor é menor que os U$ 15 firmados em contrato meses depois. De acordo com Miranda, o documento prova que houve superfaturamento na compra do imunizante. “Vamos pedir para a CPI [comissão parlamentar de inquérito da Covid, no Senado] intimar todo mundo né? Explicar como que sai de 10 para 15? Se isso não é superfaturamento eu não sei o que é”, afirmou. O parlamentar já declarou que decidiu ir ao presidente porque seu irmão estava sofrendo retaliação por resistir a anuir com as tratativas do tal contrato fraudulento. Ele já havia sido exonerado de um cargo de confiança e, segundo o deputado, só retomou o posto após o próprio parlamentar procurar diretamente o então ministro Eduardo Pazuello.
O resultado da mais recente pesquisa de intenções de votos nas próximas eleições, divulgada ontem pelo Instituto Datafolha, também parece não ter agradado o presidente e seus filhos. De acordo com o levantamento, se o primeiro turno das eleições 2022 fosse realizado hoje, Lula lideraria a corrida à presidência, com 46% das intenções de voto, contra 25% de Jair Bolsonaro. Na manhã deste sábado, em seu perfil no Instagram, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota) postou um vídeo da manifestação de motociclistas em Porto Alegre e escreveu: “A motociata ainda nem tinha começado, mas o povo já estava unido. Mais uma pesquisa eleitoral que não foi divulgada!!”
Em uma breve fala nesta manhã, o presidente disse a seus apoiadores: “O que simboliza isso aqui é a nossa liberdade, o nosso compromisso com a democracia. Não abriremos mão da nossa democracia, da nossa liberdade e de todos os direitos garantidos na Constituição. Quem pensa ao contrário está no caminho errado“. Essa é o quinto evento do gênero que Bolsonaro participa nos últimos meses. A primeira motosseata ocorreu em Brasília, em 9 de maio, quando o presidente saiu do Palácio Alvorada e percorreu ruas da capital federal seguido por apoiadores. As outras manifestações ocorreram no Rio de Janeiro, em 23 de maio; São Paulo, em 12 de junho, e, por último, em Chapecó (Santa Catarina), no dia 26 de junho.
Antes de chegar à capital gaúcha, Bolsonaro havia participado ontem de um jantar com produtores de vinho e visitado a 1ª Feira Brasileira do Grafeno, em Caxias do Sul. Após a motociata de hoje, ele deve almoçar com empresários gaúchos.